Diário do Alentejo

Há mais crianças a nascer no Baixo Alentejo

15 de janeiro 2020 - 15:30

Em 2018, a taxa de natalidade no concelho de Beja foi de 9,9 nascimentos por cada mil residentes, um número superior à média nacional que registou 8,5. No mesmo período, o concelho de Alvito foi o único do Alentejo a integrar a lista dos 48 a nível nacional que apresentaram uma taxa de crescimento efetivo. No entanto, no Baixo Alentejo, por cada 100 pessoas em idade ativa apenas estão recenseados 21 jovens com menos de 14 anos. São números preocupantes que exigem medidas de fundo para serem contrariados. Mas, apesar de ténues, existem sinais positivos: pelo segundo ano consecutivo, em 2019, nasceram mais crianças no Baixo Alentejo, podendo os resultados definitivos ultrapassar até os 1100 nasciturnos, o maior dos últimos cinco anos.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

De 2017 para 2018 assistiu-se a uma diminuição da população residente em Portugal de -0,14 por cento, mesmo assim, um abrandamento face aos sete anos anteriores. O total das quatro sub-regiões do Alentejo apresenta uma evolução negativa de -1 por cento, sensivelmente melhor do que o Baixo Alentejo (-1,2). O Alentejo Litoral registou cerca de metade (-0,55). Em número absolutos o Baixo Alentejo (sem Odemira, Santiago do Cacém, Sines, Alcácer do Sal e Grândola) perdeu cerca de 1300 residentes, passando de 117 868 para 116 557, sendo que nos cinco concelhos do litoral a queda é de 500 residentes, para um total de 93 259. Mesmo com a componente migratória a subir a nível nacional (0,11 por cento) o saldo não é suficiente para contrariar a variação negativa na componente natural, que é de -0,25 por cento.

Quanto à taxa de natalidade (que é calculada observando quantas crianças nascem por cada mil habitantes em determinado território), é de 8,5 por cento, a nível nacional, cerca de três vezes menos do que os 24,1 registados em 1960. No Alentejo Litoral é de 10,1 por cento; no Alentejo Central, 8,4; e no Baixo Alentejo, 5,6. No entanto, o concelho de Beja apresenta um rácio de 9,9 por cento, acima da média do País. Dados divulgados em dezembro pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) revelam que, em Portugal, existem 159,4 idosos para cada 100 jovens, cifra que sobe vertiginosamente para 299,6 nas áreas rurais, onde a nossa região se encontra.

 

Jovens versus ativos

Por cada 100 pessoas em idade activa (menos de 65 anos) residentes no Baixo Alentejo há apenas 21 jovens (com menos de 14 anos de idade). No Alentejo Litoral o número é ainda inferior: 19,7. Ourique é o concelho mais envelhecido, com apenas 15,9 jovens por cada 100 pessoas em idade activa, uma das taxas mais baixas do País. Segue-se Serpa, com 17,3. Na outra ponta da tabela, Beja e Moura são os concelhos com mais jovens neste índice, respetivamente, com 24,3 e 24 jovens por cada 100 adultos ativos. Carlos Alves, vice-presidente da Câmara Municipal de Serpa, considera que para inverter a situação “são necessárias medidas de fundo, que passam pela criação de melhores condições de vida para as famílias, nomeadamente, pelo aumento dos salários, pela limitação de horários de trabalho que possibilitem uma vida familiar, permitindo a independência social e económica dos agregados familiares”. O autarca serpense defende, ainda, “a criação de uma rede pública de creches, gratuitas, para crianças até aos três anos, sob a responsabilidade do Estado”.  Embora reconhecendo que “já foram dados passos importantes neste sentido”, Carlos Alves considera que “a opção de ter um ou mais filhos é cada vez mais ponderada, devido à falta generalizada de apoios do Estado”.

 

Marcelo Guerreiro, presidente da Câmara Municipal de Ourique, em declarações ao “Diário do Alentejo”, diz que “o interior rural confronta-se com três desafios especiais: gerar um ambiente favorável às famílias, fixar população jovem e dinamizar as economias locais para promover a emergência de oportunidades de emprego”. Nesse sentido a autarquia “tem concretizado políticas municipais orientadas para responder a estes três desafios”, nomeadamente, “um amplo conjunto de apoios sociais orientados para as crianças, jovens e famílias, em que, em 2018 e 2019, investimos cerca de 250 mil euros”, para além do apoio à natalidade “com a atribuição de 700 euros por cada nascimento” No entanto, o autarca considera que “a inversão da curva demográfica tem de assentar num esforço nacional orientado para a valorização dos territórios rurais do interior”.

Mais nascimentos em Beja

O número de nascimentos no distrito de Beja, em 2019, aumentou pelo segundo ano consecutivo, pela primeira vez desde há cinco anos. De acordo com os dados do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INRJ), até novembro último, tinham sido efetuados 995 testes do pezinho, mais 15 do que no mesmo mês de 2018. No entanto, segundo informação do serviço de estatística da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba), em dezembro nasceram na maternidade de Beja 85 bebés, o que, no mínimo, colocará o número total em 1080, mais 30 do que no ano anterior. Recorde-se que “o teste do pezinho não é obrigatório, pelo que pode sempre haver mais nascimentos do que testes ou até mesmo o contrário”, explica o INRJ. No entanto, “não deixa de ser um indicador relativo à natalidade em Portugal, tendo em conta taxa de cobertura de quase 100 por cento do Programa Nacional de Diagnóstico Precoce”.

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