Diário do Alentejo

“A música faz parte integrante da liturgia”

30 de novembro 2025 - 08:00
Coro do Carmo de Beja atuou em Roma e no Vaticano

Coro do Carmo de Beja, criado em 1976

 

Para além da atividade litúrgica, de âmbito paroquial e diocesano, o coro litúrgico da igreja do Carmo, em Beja, mantém, paralelamente, uma vertente cultural, com um historial de centenas de concertos por todo o País e no estrangeiro. Através de várias gravações e apresentações na rádio e na televisão, o coletivo tem sido o principal instrumento de divulgação do rico património de cânticos da tradição popular religiosa do Baixo Alentejo, recolhidos e recuperados por monsenhor António Cartageno, em colaboração com o padre António Aparício.

 

O Coro do Carmo de Beja participou, no passado fim de semana, nas celebrações do ano jubilar, que estão a decorrer na capital italiana e no Vaticano, que acolheu a presença de mais de 100 coros litúrgicos, vindos dos “quatro cantos do mundo”. O “Diário do Alentejo” falou com monsenhor António Cartageno, diretor e maestro do coral bejense.

 

Como resumiria o acolhimento que o Coro do Carmo de Beja recebeu em Roma?

Fomos recebidos de forma extremamente acolhedora nos locais onde cantámos, quer na igreja de Santa Maria de Transpontina, celebrando os 125 anos do Pontifício Colégio Português em Roma, bem como na embaixada de Portugal junto da Santa Sé. Nesses dois concertos interpretámos cânticos de música profana, mais “leves”, e outros, mais “trabalhados”, de cariz religioso, sendo que todos pertencentes ao repertório popular do Baixo Alentejo. Tive oportunidade de falar com diversas pessoas ligadas à Igreja e com embaixadores de vários países que, tendo ouvido a nossa música pela primeira vez, muito a elogiaram, classificando-a de “extremamente comovente”, capaz de “tocar o coração”.

 

Para além da excelência interpretativa, o Coro do Carmo de Beja tem, também, um conhecido historial de recuperação do cante popular religioso, nomeadamente, através do trabalho de pesquisa por si desenvolvido, desde há décadas. Qual o sentimento que julga ter resultado, da vossa interpretação de canto litúrgico do Baixo Alentejo, junto do público de Roma?

Um amigo meu, (fui eu que batizei os seus três filhos), italiano, esteve presente e disse-me que ao ouvir o Coro do Carmo cantar “não sabia se estava na terra ou no céu” e que nunca tinha imaginado existir uma música de cariz popular capaz de transmitir algo tão “profundamente espiritual”, como se fosse uma “antecipação do paraíso”. Vimos pessoas a chorar, durante a nossa interpretação, banhadas em lágrimas e nós também nos emocionámos. Trabalhámos bastante para preparar estas peças, com expressão, beleza e elevação. Tirámo-las do fundo do coração, como um grito de louvor a Deus e a Nossa Senhora e cantámo-las como se estivéssemos a rezar.

 

Cantar a rezar…

Não pode ser de outra maneira. Quando estamos num concerto, as peças litúrgicas têm de ser cantadas a rezar, com sentido de missão. E eu vi que as pessoas assim entenderam o nosso cantar, que esta comoção de todos nós foi transmitida ao povo. Quando um concerto termina em lágrimas de alegria é sinal de que a música chegou ao coração das pessoas.

 

Cantaram juntamente com os demais coros presentes, na missa de domingo, presidida pelo Papa, na praça de São Pedro. Todas estas vivências, em Roma, atribuem uma responsabilidade acrescida aos desígnios deste coro?

Não podemos desiludir as pessoas. Porque a música, pela emoção que transporta, é um veículo de transmissão da palavra de Deus que chega mais rapidamente ao coração. A música faz parte integrante da liturgia. Uma liturgia sem música é sempre mais pobre.

 

José Serrano

 

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