Manuel Maria Barroso 68 anos, natural de Alvito
Aposentado da administração pública central, ocupou diversas funções, quer como técnico superior, quer como dirigente. Esteve acreditado como vice-cônsul para os Assuntos Culturais em Vigo (Espanha) e foi leitor de Língua e Cultura Portuguesas na universidade da mesma cidade. Frequentou a Sociedade Nacional de Belas Artes na área da pintura. Tem obras em coleções privadas em Portugal e no estrangeiro. Recebeu prémios e notas laudatórias, em Portugal e em Espanha, pela sua participação em diversas ações de natureza sociocultural e cívica.
O Clube Unesco, em Beja, tem patente ao público, até ao dia 3 de janeiro, a exposição de pintura intitulada “Beja: Policromias da memória e do sonho”, da autoria de Manuel Maria Barroso.
Como nos apresenta esta sua exposição?
Esta exposição é composta por 25 aguarelas, as quais têm por base temática ruas e praças da cidade de Beja, com especial relevância para o seu castelo. A mostra conta, também, com algumas interpretações relacionadas com a paixão de soror Mariana Alcoforado.
Podemos dizer que esta mostra nos “convida” a olhar para a cidade de Beja de um outro ângulo que não o do quotidiano apressado?
Trata-se de uma das muitas possíveis interpretações gráficas, neste caso através da aguarela, sobre alguns dos muitos e magníficos recantos da cidade, que nos devem orgulhar. Muitas vezes não nos damos conta das coisas interessantes que nos são imediatas no tempo e no espaço. Porém, contêm dimensões de enorme valor emocional e afetivo, nas nossas vivências e histórias de vida e no seu valor intrínseco, enquanto lugar concreto. São essas dimensões que preenchem as nossas memórias e, igualmente, são a razão de tantos dos nossos sonhos. A “face oculta” de Beja merece ser observada e divulgada, pela sua dimensão e sensibilidade.
Considera que a contemplação dos pormenores que nos estão próximos é, assiduamente, por nós desvenerado?
Contemplar a beleza dos pormenores não só poderá permitir recolher a imagem e os detalhes, como possibilita, posteriormente, uma maior e melhor “interpretação” da globalidade. Este será, seguramente, o cenário ótimo. Porém, sabemos que nem sempre acontece. Em todo o caso, tal como argumenta um aguarelista que conheço, a “aguarela apenas fundamenta a sugestão para a interpretação da matéria tratada na obra”. Não se pretende, portanto, que a aguarela seja o “retrato” ou a “imagem fidedigna” do que se regista.
O que diria acerca do potencial de Beja enquanto “modelo” inspirador de criação?
Beja é inspiradora para qualquer domínio artístico, digna de registo por quem o quiser tomar. Cumpre-me evocar aqui o nosso saudoso Leonel Borrela e a sua ímpar qualidade interpretativa através da aguarela. A forma como soube captar a luz, em especial as sombras e as nuvens, do Alentejo e de Beja é, por si só, uma forma de reconhecer esse potencial artístico, inspirador da cidade e da nossa região.
É esta Beja, retratada nas suas telas, a cidade que se pode hoje visitar ou esta urbe apenas habita na memória e no sonho do artista?
Beja é a minha cidade, a par da minha vila natal, Alvito, e da minha cidade de residência durante muitos anos, Lisboa. Foi em Beja que fiz parte dos meus estudos não universitários e onde construí muitas amizades. Foi em Beja que vivi o Dia da Liberdade. Beja é, intrinsecamente, uma cidade bonita e merecedora de mais… de muito mais.
José Serrano