Diário do Alentejo

“A pressa é o carrasco da cozinha dos nossos dias”

23 de novembro 2025 - 08:00
Livro de António Catarino revela espaços onde a “comida de conforto” é protagonista

António Catarino, 70 anos, natural de Cuba

 

Jornalista, frequentou o liceu de Beja antes de rumar ao Porto, onde está radicado “há longos anos”. Iniciou a carreira no diário, já desaparecido, “O Comércio do Porto”. Colaborou em todas as publicações nacionais de automobilismo e em “A Bola”. Comentador de automobilismo na RTP, foi colaborador da “Rádio Renascença/RFM” e, desde 1996, está ligado à “TSF”, onde assinou, durante uma década, a rubrica “À Mesa”. É jurado nacional dos Best Of Wine Tourism e de concursos gastronómicos. Tem obra publicada no domínio de viagens, roteiros e desporto automóvel.

 

Foi, recentemente, lançado, o livro Mais 101 Tascas Imperdíveis em Portugal, da autoria de António Catarino e Rui Cardoso, dois anos após a publicação de As 100 Melhores Tascas de Portugal.

 

Este novo livro sobre tascas portuguesas significa que a quantidade e a qualidade deste tipo de casas em Portugal é, obviamente, notável?Em termos gastronómicos, o nosso País possui uma notável diversidade e até quantidade de restaurantes tradicionais de cozinha tradicional, que proporcionam uma saborosa descoberta do território. A gastronomia afirma-se hoje como símbolo de determinada região – onde o receituário tradicional e as práticas culinárias que passaram de geração para geração continuam a ser a base de uma cozinha sólida –, sendo um fator competitivo em termos económicos e, no plano nacional, embaixadora da nossa identidade cultural. De norte a sul come-se bem em Portugal, não se afigurando como problemática a escolha de um restaurante onde ainda se cozinha à moda antiga ou com técnicas mais evoluídas valorizando os produtos locais.

 

São estas 101 tascas espaços antigos, com história, ou correspondem a um novo conceito moderno da palavra?A nomenclatura tasca tem a ver com espaços típicos (alguns históricos) de comida de conforto, elaborada com base na tradição e no talento, ambiente familiar ou rústico e preços módicos. O valor da fatura, tendo 20 a 25 euros como limite, voltou a constituir um fator de seleção. A designação nada tem de depreciativo; pelo contrário, é carinhosa para espaços que mantêm algo de genuíno, popular, convivial, onde a culinária praticada é baseada no receituário tradicional. Pretende-se que a tasca, verdadeira instituição nacional, fator de sociabilidade, de afetos e de preservação de uma cozinha sólida, não desapareça da nossa memória coletiva, sendo que o moderno conceito, entretanto surgido, pode trazer uma lufada de ar fresco, se a inovação for qualificada, respeitando os cânones da tradição, numa época em que tudo é genérico, privilegiando rapidez e menor custo. A pressa é o grande carrasco da cozinha dos nossos dias.

 

Passa este roteiro gastronómico pelo Alentejo?O roteiro passa, logicamente, pelo Alentejo, região cada vez mais apreciada pela riqueza de uma gastronomia tão criativa e saborosa, que importa preservar com autenticidade. No Mais 101 Tascas Imperdíveis em Portugal, praticamente, 25 por cento do total dessas casas de “bem comer” fica no Alentejo.

 

Tendo em conta a atual sazonalidade, quais as iguarias que devemos esperar no cardápio de uma tasca alentejana?Os produtos da época, tantas vezes (infelizmente) preteridos pelos importados de outras longínquas latitudes, são a base de uma alimentação mais saudável e de pratos ricos em sabor. No tempo da matança do porco, carne de alguidar, cachola ou moleja, torresmos do rissol, bem como silarcas com ovos mexidos ou as mais raras túberas, brilham na ronda da petiscaria sazonal, bem como as migas, sopa de tomate e da panela ou uma açorda de bacalhau.

José Serrano

Comentários