Diário do Alentejo

“Incentivar um olhar mais atento e consciente sobre o mundo”

07 de dezembro 2025 - 08:00
O “regresso a casa” de um consagrado fotógrafo europeu

André Boto, 40 anos, natural de Silves

 

Distinguido pela Federação Europeia de Fotógrafos Profissionais, por duas vezes, como “Fotógrafo Europeu do Ano 2023”, trabalha nos seus projetos de autor e em projetos para clientes nas áreas comerciais da indústria, da hotelaria e de produtos. Desde sempre interessado pelas artes, fascinando-o a ideia de ser possível “criarmos os nossos próprios mundos”, começou a fotografar aos 18 anos, na rua, para que as fotografias o ajudassem nos desenhos a carvão que fazia. Hoje desenha esboços que o ajudam nas suas criações fotográficas. 

 

O Instituto Politécnico de Beja (IPBeja) tem patente ao público, até ao dia 31, na galeria Ao Lado, localizada no edifício dos serviços comuns, uma exposição de fotografia de André Boto.

 

Foi aluno da licenciatura de Artes Decorativas do IPBeja. Como sentiu este “regresso a casa” como autor consagrado?Foi ótimo regressar ao IPBeja, um local associado a muitas boas memórias e que me despertou curiosidade para várias áreas que vieram a influenciar o meu percurso. Voltar a este sítio, onde entrei há 22 anos, é sempre especial, sobretudo, tendo, agora, a oportunidade de apresentar uma exposição individual na galeria onde outrora expus coletivamente, com os meus colegas de curso.

 

A escolha das imagens apresentadas nesta exposição enquadram-se, de alguma forma, numa proposta de reflexão aos alunos do IPBeja? Sim. Desde a minha passagem por Beja que me dedico à fotografia comercial (arquitetura, indústria e produto), ao mesmo tempo que desenvolvo um trabalho pessoal, muitas vezes assente na fotomontagem. Este projeto acaba por ser uma fusão entre esses dois mundos, o comercial e o criativo. Como alguém que utiliza a fotografia como meio de comunicação, sinto que esta é a minha forma de contribuir, mesmo que de maneira modesta, para sensibilizar as pessoas e incentivar um olhar mais atento e consciente sobre o mundo que nos rodeia.

 

Considera que esse “grito” artístico de alerta, perante o fio da navalha em que a humanidade muitas vezes se equilibra, deveria soar mais alto?Vivemos numa época de desequilíbrios, marcada por comportamentos extremos e por uma constante sensação de tensão. Cabe a cada um de nós fazer algo para melhorar o planeta ou, pelo menos, o que nos está mais próximo. Essa responsabilidade é coletiva.Tocar o “outro”, de alguma forma, é sempre um dos objetivos dos artistas. Procuro fazer da fotografia a minha ferramenta para sensibilizar quem observa estas imagens.

 

Como classifica a importância de uma instituição de ensino superior, como o IPBeja, para o desenvolvimento sociocultural de uma região do interior, como o Baixo Alentejo?As instituições de ensino superior, como o IPBeja, desempenham um papel fundamental no desenvolvimento das cidades e das regiões. O IPBeja pode ser um motor de rejuvenescimento, sobretudo, se forem criadas condições para que os jovens recém-formados permaneçam na região após terminarem os estudos. Acredito que isso só será possível através de um trabalho contínuo e próximo com a Câmara Municipal de Beja e em parceria com as maiores empresas e entidades locais. No final, esses esforços beneficiarão não apenas o politécnico, mas, também, (e muito) a cidade de Beja, toda a região do Baixo Alentejo e, consequentemente, as próprias empresas fixadas no território. José Serrano

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