Heitor Figueiredo, 67 anos, natural de Braga
Foi aluno da Escola de Belas Artes do Porto. Tem o curso de Cerâmica da Escola de Artes Decorativas Soares do Reis e da Cooperativa Árvore, da mesma cidade. Participou em inúmeros estágios, simpósios, feiras e oficinas de cerâmica, a nível nacional e internacional. Em 2005 ganhou o primeiro prémio da Bienal Internacional de Cerâmica Artística de Aveiro. Está representado em coleções de vários museus e em coleções particulares. Vive em Beja, na aldeia de Cabeça Gorda.
“Do Vermelho ao Ver-melho” é o título da exposição, da autoria de Heitor Figueiredo, artista convidado da XVII Bienal Internacional de Cerâmica Artística de Aveiro, que pode ser vista na Galeria da Antiga Capitania do Porto de Aveiro, até 18 de janeiro.
Como nos apresenta esta sua exposição?A exposição é uma retrospetiva do meu trabalho, como disse a curadora na inauguração, um “prémio carreira”.
Indicia o título desta mostra a partida e a chegada de um trabalho a que se propôs, como se de um fecho de um ciclo se tratasse?O título, “Do Vermelho ao Vermelho”, marca o meu trajeto, como artista, até à data do início da exposição. Mas não estou a pensar deixar de trabalhar e, com certeza, outras trajetórias e projetos surgirão.
Quais as características do barro – vermelho – que o convocam a utilizá-lo como matéria-prima substancial das suas criações artísticas?O barro vermelho é de Beringel, dispensa apresentações. Tem provas dadas na história da vila e da olaria. Foi a pasta de eleição para laborar nesta fase do meu trabalho. Reconheço neste barro extraordinárias qualidades – um barro muito forte, com uma estrutura natural muito sólida. Recentemente, fizemos, um grupo de artistas, uma residência artística da qual resultou a exposição “Terra Sol Liberdade” para comemoração dos 30 anos do Museu Jorge Vieira, em Beja, e foi com esta pasta que trabalhámos.
Considera que na região de Beja, famosa pela excelência dos seus barros, se tem sabido valorizar a comunicação entre a olaria tradicional e uma linguagem artística mais contemporânea?A região de Beja sofre os mesmos problemas de outras regiões: a ameaça do desaparecimento destas artes de trabalhar o barro. Não há continuadores, embora se tenham feito esforços para inverter o processo. Há que continuar a insistir, mas com outras estratégias. A escola Mário Beirão está a fazer um excelente trabalho neste sentido, nomeadamente, através da professora Mariana Conduto, mas não tem continuidade e acaba por não ter bons resultados.
O que mais anseia que as suas peças despertem no público que as observa?Eu faço os meus trabalhos sem preocupações de provocar impactos nas pessoas, mas sei que as minhas peças apelam à imaginação e à criatividade que existem dentro de nós – que, pela forma como nos obrigam a organizar, não possibilita, muitas vezes, que isso se revele, que isso aconteça, em todas as áreas. José Serrano