Diário do Alentejo

“A dar a mão ao outro”

17 de agosto 2025 - 08:00
Mariana Tavares, uma atleta bejense muito titulada que corre pelo Sport Clube Marítimo, da Madeira

Quem é a Mariana Tavares? “A Mariana Tavares é muitas coisas. Nasceu e cresceu em Beja, claro, teve uma infância divertida, sempre à procura de mais e de melhor e a explorar vários desportos. Comecei na natação, aos 12 anos passei para o atletismo, e foi aqui que descobri que conseguia crescer mais. Para além da Mariana atleta, existe a Mariana estudante de Terapia Ocupacional, existe a Mariana irmã, a Mariana filha, a neta, e por aí adiante. Mas também a Mariana amiga, trabalhadora. Existem várias Marianas numa só”.

 

Texto e Foto | Firmino Paixão

 

Nem mais! Parece que ficou tudo dito, mas não. Mariana Tavares tem no seu currículo desportivo um quarto lugar no Campeonato Nacional de Provas Combinadas, em Beja, a conquista de uma medalha de prata nos Campeonatos Universitários, em Pombal, a distinção como atleta revelação na Gala do Desporto bejense, o título de campeã nacional de 60 metros barreiras, nos Campeonatos Nacionais Sub/23, em pista coberta, em Braga, medalha de bronze nos 100 metros barreiras, nos Campeonatos Nacionais Sub/23 disputados em Coimbra. Não é coisa pouca. Sobretudo, para quem confessa: “O atletismo tornou-me numa pessoa melhor, uma pessoa mais resiliente. Espero não terminar esta carreira tão cedo, estou com 20 anos, recentemente obtive as minhas melhores marcas, o que tem sido espetacular. Há uns tempos senti receio de não progredir, um pensamento que, neste momento, está completamente fora de hipótese, porque tenho evoluído todos os anos. Neste momento, estou com os meus recordes pessoais em alta, comecei a época com marcas muito acima e tenho melhorado cada vez mais”.

Mariana confessou que a sua infância foi divertida. Vamos lá trocar isso por miúdos: “Fui sempre uma criança que gostei de brincar e de me relacionar com os outros. Vivi em vários contextos, sempre tive muita sorte, sempre me dei com pessoas positivas, também com algumas negativas, mas que me trouxeram aprendizagens de vida. A minha família é espetacular, a minha irmã, os meus primos, portanto, quando falo numa infância divertida é no aspeto de sempre ter tido oportunidades de brincar, de crescer de forma saudável e proativa”.

Praticou natação, modalidade que lhe dizia pouco, sem menosprezo para a atividade, e por isso queria qualquer coisa mais desafiante. “Achei que o atletismo seria uma boa opção. Comecei pelo Desporto Escolar, fui a um mega sprint, teria uns 11 anos, fui a Elvas a uma prova nacional e isso proporcionou-me uma boa experiência. Queria descobrir o que era e o que existia dentro do atletismo, mas fui sempre mais virada para disciplinas de velocidade”

Ultrapassada essa fase de atração e descoberta, percebeu que tinha talento. “Quando somos mais novos, as provas são um bocadinho mais lúdicas, não tão específicas, nem com objetivos em concreto. Também acho que isso faz parte e é essencial. Com o passar dos anos achei que devia criar objetivos mais específicos, aperfeiçoando pormenores técnicos para os quais temos de recorrer a profissionais com experiência, nesse caso, aos treinadores”.

Já mais a sério, vestiu a camisola da Juventude Desportiva das Neves, orientada por José Silveira e quando procurou “um rumo mais específico” encontrou Hugo Sioga, do FIT/Salvador. “Ele é que me tem acompanhado até hoje, ainda que, atualmente, represente o Clube Sport Marítimo, da Madeira”. Um clube que só à segunda tentativa a conseguiu convencer, mas cuja estrutura elogia, referindo: “Tem sido uma experiência espetacular”.

Olhando para o futuro, Mariana Tavares admite: “Há sempre um sonho. Eu não tenho um limite ou, digamos assim, um objetivo final a atingir. Obviamente que quero sempre mais e melhor e uma das minhas metas para a próxima época será, talvez, conseguir uma internacionalização, ou seja, representar Portugal numa prova. Tudo é possível desde que acreditemos e trabalhemos para isso. Uma coisa fundamental num atleta é acreditar. Acreditar até ao fim. Neste momento acredito no meu trabalho, acredito na pessoa que sou e naquilo que faço, porém, por mais que acreditemos no nosso trabalho, a presença nos pódios dá-nos sempre muita satisfação e orgulho porque sentimos que estamos a ser reconhecidos e valorizados pela nossa dedicação”.

A par do desporto, a jovem campeã vai apostando na sua valorização académica e profissional. “Sou aluna da Escola Superior de Saúde, em Beja. Estou a licenciar-me em Terapia Ocupacional, um curso que muita gente desconhece que existe em Portugal. É uma profissão espetacular. Já tive oportunidade de estagiar em vários contextos. Estou ansiosa para terminar o curso, falta-me um ano.

 

Tem corrido tudo muito bem”. Sobretudo porque, referiu: “Os meus colegas valorizam imenso a minha carreira no atletismo, sinto-me orgulhosa por isso, porque é positivo sentir esse apoio ao nível da escola e a compreensão dos professores que sempre foi cinco estrelas. Espero, no futuro, poder conciliar a minha carreira profissional com o atletismo, porque é importante não deixar os outros sonhos para trás”. Admitiu, também, que a terapia ocupacional era uma área que não estava propriamente nos seus planos. “Queria algo relacionado com a saúde. Sempre gostei muito de ajudar os outros, potenciar o seu crescimento. Quero prosseguir os estudos, quero chegar mais longe, não sei ainda de que forma, mas a terapia ocupacional ajudou-me a olhar para o mundo de outra forma. É um curso essencial nos dias de hoje”.

Olhar para o mundo de uma forma mais pragmática, mas confiante no futuro? “Sim, hoje em dia, não é que os outros nos queiram mal, mas primeiro querem sempre o bem-estar deles próprios. Nós somos quem tem de zelar bem pela nossa saúde, pela nossa autoestima. Se não cuidarmos de nós, quem é que irá cuidar? O olhar na terapia ocupacional é um olhar empático, um curso em que aprendemos a dar a mão ao outro”.

Tantas e tão boas razões para a Mariana estar feliz com o caminho que, até aqui, tem percorrido. “Sou imensamente feliz. Tenho a família ao meu lado, tenho os meus amigos. Só tenho pessoas muito boas ao meu lado. Estou a valorizar-me em termos académicos e pratico o desporto de que gosto. Só posso estar feliz”.

Comentários