A final do Torneio Nacional de Futebol de Rua 2025 está a decorrer, até domingo, na Casa da Cultura de Beja, numa promoção conjunta do projeto de futebol de rua da Associação Cais e do município de Beja.
Texto Firmino Paixão
São 30 comitivas que, por estes dias, estão a dar cor e animação à cidade de Beja. São as seleções participantes, os árbitros, as delegações estrangeiras convidadas, uma multiplicidade de vivências à margem da competição propriamente dita, para encontrar os vencedores, masculinos e femininos, de mais uma edição, a 22.ª (terceira na cidade de Beja) desta grandiosa organização do Projeto Futebol de Rua, mas também para eleição dos representantes de Portugal no próximo campeonato do mundo, que se disputará entre 22 e 30 de agosto, em Oslo (Noruega). Segundo a associação Cais, “o futebol de rua é um instrumento de capacitação, no desenvolvimento de competências pessoais e sociais para pessoas em situação de vulnerabilidade”. Fábio Pacheco, coordenador do projeto em Beja, enalteceu a oportunidade de a cidade poder assistir a mais um grande acontecimento desportivo.
Será sempre com entusiasmo e orgulho que o projeto local recebe estas organizações?
O futebol de rua, na nossa cidade, tem uma grande história e grandes resultados. Somos o distrito com mais praticantes no País, numa modalidade a que, na minha opinião, a cidade tem dado pouco, mas nós temos dado muito à cidade. Beja tem a equipa com mais títulos nacionais. Temos quatro títulos nacionais, juntamente com a Madeira e com o Porto, somos tricampeões no feminino. Nos quatro torneios femininos que se fizeram, vencemos três. Neste ano, pelo facto de o torneio se disputar novamente em Beja – cidade onde, na última edição aqui realizada, vencemos o torneio masculino e o feminino –, é sempre especial e é um grande orgulho recebermos mais um torneio. Espero que toda a gente adore estar aqui e que venha desfrutar daquilo que de melhor a cidade possa proporcionar.
O objetivo passará por revalidar os títulos conseguidos no último torneio que aconteceu em Beja?
Sem dúvida. No último ano fizemos o pior torneio de que me recordo. Nas miúdas foi, sem dúvida, o pior. Tínhamos ganho três edições e no ano passado ficámos em terceiro lugar. Nos rapazes tivemos um grande percalço logo na fase de grupos e não conseguimos ir longe. Neste ano assumimos todos que o objetivo, tanto no feminino, como no masculino, passará por sermos novamente campeões nacionais.
Quantas seleções vão competir?
Estarão 18 seleções, mais algumas comitivas internacionais. Estará cá o México, campeões do mundo femininos e masculinos, a Polónia e uma equipa bejense que é nossa convidada, porque são nossos parceiros, que é o Projeto Shave, do Bairro da Esperança. O México é um país com uma grande dimensão mundial no futebol de rua. Tem um historial muito prestigiado. Trazem sempre grande animação aos eventos. Mas isso também diz muito do apoio que aquele país dá ao futebol de rua, o que em Portugal ainda não acontece.
O distrito de Beja apresenta duas seleções com os melhores atletas?
Sei que em alguns distritos a equipa que vence o torneio local estará no nacional. Nós, em Beja, e acho que isso é uma das chaves para termos muitos atletas no torneio distrital, escolhemos aqueles que forem os melhores atletas durante o torneio, mas não só a jogar. A equipa que venceu neste ano o torneio distrital foi a de Barrancos, que já vem ao torneio há oito anos e tem conseguido incluir sempre jovens na seleção do distrito. Neste ano, além de terem ganhado o torneio, mais uma vez, estarão representados por outros dois atletas. Nas duas seleções temos jogadores e jogadoras de quatro ou cinco equipas.
Que critérios são valorizados para convocar os atletas para a seleção?
Nas nossas seleções distritais damos muito valor à participação dos atletas nos workshops de educação não formal que se realizam antes ou durante os torneios. Os atletas selecionáveis terão de participar também nas formações que existem durante os torneios. Depois, conta a disponibilidade de cada um para participar no torneio nacional, devido a compromissos académicos ou profissionais. Tudo isso prevalece.
Ao futebol de rua associa-se geralmente a um público-alvo que se encontre em “situação de fragilidade social”. Mas surgem atletas com vidas perfeitamente estruturadas?
Conseguimos nivelar o torneio por cima, ou seja, o projeto é de inclusão social e era feito só para os bairros. Na altura, eram quatro equipas, agora temos 21. Abrimos o torneio a todas as comunidades e hoje assistimos às tais pessoas com vidas estruturadas a conviver com as outras de maior fragilidade social, com as pessoas dos bairros, com a comunidade cigana. Inclusivamente, neste ano, tivemos uma das pessoas em situação de sem-abrigo de Beja a participar no torneio. Todos convivem e essa é a ponte que queremos ter nas nossas seleções. Queremos construir uma ponte que ligue o melhor dos dois mundos.
O selecionador nacional diz que jamais convocará um jogador só por ser bom de bola…
Concordo, e nós, nas seleções, não levamos os melhores desportivamente. Posso dizer que o melhor jogador do torneio distrital deste ano não está na seleção. Não por falta de qualidade desportiva, mas por não se encaixar no espírito da seleção. Não olhamos só para a qualidade desportiva, porque isso pode prejudicar-nos do lado de fora do jogo. No futebol de rua ganham-se mais jogos no exterior do campo, do que, propriamente, lá dentro.
Seleções de Beja
Masculina: João Lopes, José Lopes, Ivo Cavaco, Rúben Costa, Avelino Galvão, José Luís Prazeres, Alfredo Garcia e Filipe Pimenta. Treinador: Gonçalo Lourenço; responsável: Mariana Pacheco.
Feminina: Alice Mestre, Luciana Fernandes, Ana Rita Batista, Jéssica Pacheco, Margarida Cavaco, Mafalda Pereira, Margarida Silva e Solange Lança. Treinador. Fábio Pacheco; responsável: Ana Costa.