Aproveitando o posicionamento excecional de um esporão rochoso que separa as águas do Guadiana da ribeira de Oeiras, a antiga cidade de Mértola era já célebre entre os geógrafos da antiguidade pela imponência das suas fortificações. O centro histórico corresponde ao núcleo urbano primitivo que reúne todos os vestígios do passado, funcionando como “âncora” de uma estratégia baseada nas suas caraterísticas e nas necessidades de salvaguarda. Esta visão justifica o programa museológico que permitiu instalar em pontos- -chave pequenos núcleos museológicos temáticos relacionados, sempre que possível, com estruturas arqueológicas conservadas in situ ou com a recuperação de edifícios emblemáticos.
As primeiras ações iniciaram com Cláudio Torres em 1978, tendo o projeto museológico iniciado com a abertura da Casa Romana, em 1988. O núcleo da Torre de Menagem do Castelo (1991) sofreu ao longo dos tempos diversas intervenções, tendo as últimas contribuído para a sua requalificação e para a renovação museográfica das salas de exposição na Torre de Menagem e a criação de uma sala de exposições temporárias. Em 1993 é inaugurada a Basílica Paleocristã, que exibe in situ estruturas arqueológicas e uma coleção de lápides funerárias da antiguidade tardia e, em 1999, conclui-se a Ermida e Necrópole de S. Sebastião, uma intervenção levada a cabo no recinto da escola-sede do Agrupamento de Escolas de Mértola, que alia arqueologia, recuperação das técnicas tradicionais de construção, museologia e educação patrimonial.
No ano 2000 abre ao público a Oficina de Tecelagem, um “museu vivo” que integra no mesmo espaço objetos relacionados com esta atividade milenar e a sabedoria e a mestria de tecedeiras que ainda mantêm viva a tecelagem tradicional da lã. Seguindo a estratégia de requalificação e reabilitação de edifícios no centro histórico, abriram em 2001 os núcleos de Arte Sacra, Forja do Ferreiro e Arte Islâmica, o primeiro instalado na antiga igreja da Misericórdia, na zona do antigo porto de Mértola, e o segundo corresponde à musealização de uma antiga oficina. No final de 2001, é inaugurado o núcleo de Arte Islâmica, instalado num edifício do século XVIII, que apresenta uma investigação de décadas relacionada com o período islâmico e as suas influências em Mértola. O Circuito de Visitas da Alcáçova (2009) corresponde ao local onde se tem desenvolvido a intervenção arqueológica e investigação nas últimas quatro décadas, com destaque para o estudo do período islâmico e da antiguidade tardia que em 2014 foi complementado com uma réplica de uma casa islâmica do século XII, que constitui um importante instrumento pedagógico e de receção ao visitante.
A segunda década do segundo milénio correspondeu à afirmação da estratégia de intervenção que alia património, território e comunidade, e caraterizou-se pela integração no museu da Casa do Mineiro (Mina de S. Domingos) e a Casa de Mértola, instalada numa casa tradicional contígua ao posto de informação turística, local que corresponde a um importante elo de ligação entre o visitante e a comunidade local. Em 2011, após um intenso trabalho de colaboração entre diversas instituições locais, abriu ao público o núcleo do Mosteiro (na localidade de Mosteiro), um modesto edifício de culto em uso até ao século XVI que, recuperado e musealizado, apresenta a evolução histórica do território, desde o período romano até à atualidade.
Em 2012 foi inaugurado o núcleo de Alcaria dos Javazes, espaço que se destina a promover o reforço identitário e a estabelecer um diálogo com a comunidade através do objeto, aliando um projeto municipal a um colecionador privado. Após mais de uma década de trabalhos arqueológicos, em 2016 abre ao público o núcleo da igreja Matriz de Mértola, instalado na cave da sacristia do século XVI que, sem grande interferência naquilo que é a história do local e onde as “pedras que suportam a igreja contam a história”, apresenta a evolução do local de culto ao longo dos tempos.
O Museu de Mértola Cláudio Torres integra atualmente 14 núcleos museológicos e tem como principais objetivos o de estudar, salvaguardar e divulgar as coleções que constituem o seu acervo, valorizar as coleções entendidas como testemunho da cultura material e da identidade das gentes de Mértola ao longo dos tempos e apoiar e colaborar na salvaguarda, estudo e divulgação do património cultural do concelho de Mértola. No esforço das instituições e da equipa destaca-se o importante papel da atividade educativa, principalmente, da relação com a comunidade escolar, no que respeita à sensibilização para a preservação e no desenvolvimento do sentido de pertença e de motivação para o conhecimento das suas raízes e herança cultural. Mais informação em www.museudemertola.pt
Lígia Rafael, coordenadora do Museu de Mértola Cláudio Torres