Diário do Alentejo

Rede de bibliotecas: Manuel António de Castro

17 de novembro 2024 - 08:00

Manuel António de Castro nasceu na vila de Cuba a 7 de março de 1885.

Foi trabalhador rural, sindicalista e poeta.

É recordado pelo povo de Cuba como poeta popular, pelas décimas e quadras que dizia e escrevia sempre com referências à condição do trabalhador rural e da moral da sociedade rural.

Da sua infância e adolescência pouco se sabe. Trabalhou nas tarefas do campo para assegurar a sua sobrevivência, logo após ter frequentado o ensino primário. Já homem, assentou praça no Regimento de Cavalaria de Évora.

Em agosto de 1912 participou como delegado dos trabalhadores de Cuba, no Primeiro Congresso dos Trabalhadores Rurais, que se realizou em Évora. No segundo e último dia do congresso os trabalhos são conduzidos por Manuel de Castro que, revelando a sua integridade e princípios, pediu desculpa pela posição nacionalista e belicista que defendera na véspera relativamente à discussão do orçamento militar do Governo, desprezando agora essa mesma posição, afirmando, em alto e bom som: “Quando cheguei a este congresso, tinha uma Pátria pequena, Portugal, hoje que estou de saída, tenho outra mais ampla, chama-se Mundo”.

Os seus ideais sindicalistas trouxeram-lhe graves problemas com a máquina da ditadura estatal, tendo mesmo sido chamado pela lei para se justificar do poema “Morte de um indigente”.

Como poeta, a sua sensibilidade transparece em absoluto, tal como exemplifica o mote: “Em tudo sinto a poesia,Desde o inseto à planta!Tudo me diz sinfoniaTudo me prende e encanta!”

Como cidadão, o seu lema era ajudar, cooperar. Muitas vezes se sentou no banco da justiça para defender, por inata compaixão ou senso justo, todos aqueles que eram arremessados para o tribunal, sem alguém que os pudesse defender.

A par do trabalho rural, Castro fazia quadras que vendia a dois tostões, após passarem pela Comissão de Censura. Um dia, D. José Estanislau, conde de Cuba, encomendou-lhe uma poesia que invocasse a morte do afamado Manolete, para apresentar numa tertúlia alfacinha, onde competiam outros poetas. O poema “El Manolete Tombou” ficou em primeiro e, por isso, teve uma recompensa de cinco mil escudos.

A dada altura, foi também estafeta por profissão, viajando quase todos os dias para Lisboa, fazendo recados. No comboio, versava, aprazendo os pedidos dos amigos:“Ti Manel, faça-me uma quadra para pedir namoro a uma moça!” “Ó moças, queiram-me todas,Que o meu pai é muito rico.A fortuna do meu paiLeva-a um pássaro no bico”.

Manuel de Castro faleceu em Cuba, a 29 de setembro de 1972. Na sua modesta campa, no cemitério da mesma vila, pode ler-se o mote, simples, mas que representa o conhecimento e experiência que em vida demonstrou para com os temas anímicos:“Se a morte fosse interesseiraAi de nós, o que seria,O rico comprava a vida,Só o pobre é que morria!”

Muitas das suas quadras ficaram decerto perdidas, mas outras foram recolhidas por familiares e, em 1987, o município de Cuba publica-as num livro intitulado As Deixas de Manuel de Castro.

Em 2001, o município de Cuba, numa especial homenagem feita ao poeta, atribuiu o seu nome ao parque municipal, passando a denominar-se Parque Manuel António de Castro, e ergueu um busto do poeta.

No ano passado, o município inaugurou a Universidade Sénior Manuel de Castro, escolhendo o poeta como a figura que melhor simbolizaria os objetivos do projeto. A homenagem reflete o reconhecimento de sua importância local, não apenas como trabalhador rural e sindicalista, mas também como um poeta popular de enorme sensibilidade, título que lhe rendeu o reconhecimento como o maior poeta popular do concelho de Cuba.

Biblioteca Municipal de Cuba

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