Diário do Alentejo

Virgem Suta celebram 15 anos de carreira

13 de setembro 2024 - 08:00
“No céu da boca do lobo” é o novo álbum que assinala o aniversário da banda alentejana
Foto | Daniel AntunesFoto | Daniel Antunes

Jorge Benvinda e Nuno Figueiredo são os músicos que estão por detrás da icónica banda alentejana Virgem Suta. Em 2009, começaram “a desbravar caminho”, conscientes do percurso que não queriam seguir e à procurar do seu “propósito” no mundo da música. Ao “Diário do Alentejo”, no dia em que lançam o segundo single do novo álbum, “Amor ao Avesso”, fazem uma retrospetiva da sua carreira.

 

Texto Ana Filipa Sousa de Sousa

 

Foi numa antiga sala de uma qualquer casa em Beja que Jorge Benvinda e Nuno Figueiredo se cruzaram pela primeira vez por intermédio de outras pessoas. Contam, entre gargalhadas, que o primeiro “cumprimento antipático” e em jeito de “segurança”, rapidamente deu lugar “a uma amizade e cumplicidade” que ganhou assas com o surgimento de Virgem Suta, a banda que formaram em 2009.

“Começámos a trabalhar com os nossos 20 anos na música, a compor e a desbravar o nosso caminho, [no qual] não sabíamos o que queríamos, mas sabíamos o que não queríamos e andámos sempre atrás disto”, começa por referir Jorge Benvinda ao “Diário do Alentejo” (“DA”).

Com uma personalidade musical atípica, quando comparada com as atuais sonoridades, assumem-se como “críticos” e “irónicos” nas análises que fazem “ao quotidiano português” nas letras das suas canções, admitindo que não caem “em modas”. Com o passar dos anos, explicam, perceberam que “fazer música” implica também serem “inteligentes na forma de comunicar na televisão social” e, no ano em que assinalam 15 anos de carreira, é neste ponto que se encontram.

O álbum “No céu da boca do lobo”, que deverá ser lançado no próximo dia 25 de outubro e que marca o “regresso” dos Virgem Suta à edição de discos, é a prova desta adaptação.

“Neste disco o que queremos passar é a ideia de que vivemos num mundo que nos está constantemente a aliciar com coisas boas e que essas coisas boas, quando damos por elas, transformam-se num engodo difícil de fugir e depois levam-nos a prisões e a sítios onde não queremos estar. Não queremos ser moralistas, mas fazemos uma análise crítica em relação àquilo que se passa e que sentimos cada vez mais, [ou seja], o espaço que temos para viver é apertado por um sufoco que decorre daquilo que nós vamos sempre consumindo. Corremos atrás do fascínio, mas ao mesmo tempo somos comidos e absorvidos por ele. Daí o nome do disco, que é como se uma pessoa se sentisse no céu e quando olha bem está de facto no céu, mas é da boca de quem o vai comer”, explica Nuno Figueiredo.

Com milhares de quilómetros na estrada, centena de concertos e três álbuns editados, a analogia que fazem neste novo disco surge então como balanço destes últimos 15 anos de Virgem Suta. Embora considerem que volvidas mais de duas décadas “são a mesma banda” e “o mesmo grupo de pessoas sonhadoras com vontade de fazer música” e a “acreditar nas coisas boas da vida, do mundo, do ser humano e do humanismo”, têm noção que este percurso permitiu que crescessem, adaptando-se à atualidade.

“Este disco serve para cimentar esta distância toda que nós tivemos de quem gosta de nós, [porque] passaram praticamente nove anos desde o último disco editado. Nós nunca deixámos de tocar, mas é isso que dá a entender, porque não trabalhamos nas redes sociais e na televisão, logo parece que estamos ausentes. Como a sociedade realmente é isto, se tu não trabalhares com as regras que nela existem, dá-te a entender que estás menos presente, [por isso], nós como temos a perceção de que estamos na boca do lobo e que seremos engolidos se não nos ativarmos, decidimos fazer um disco com o propósito de divulgá-lo o máximo possível”, refere Jorge Benvinda. E completa: “Basicamente os velhotes acordaram um pouquinho para a vida e têm perceção que por mais que não gostem de determinadas coisas se não tiverem uma capacidade de chegar ao público não conseguem ter os concertos que gostariam de ter, de tocar o que querem tocar e de divulgar o seu trabalho a sério. O mundo está mesmo metido na boca do lobo e só quem tem a capacidade de escapar entre os dentes e voltar a erguer é que consegue atingir os seus fins”.

Quanto à expectativa para este quarto álbum, Nuno Figueiredo é perentório. “Esperamos uma aproximação [das pessoas], porque já não estamos há muito tempo a editar. Queremos, acima de tudo, reconquistar o público que já tivemos e, obviamente, ganhar um novo, porque sentimos nos concertos que as pessoas gostam de nós e gostam de nos ouvir”.

Em maio, lançaram “Dois dias”, o primeiro single que integrará este quarto disco e que alude “à vida quotidiana, sempre à pressa, sempre atrás do relógio, sempre a fugir atrás do compromisso” e que “só percebemos que a vida passa a correr quando ela já está a chegar ao fim”.

Hoje, sexta-feira, a banda alentejana lança o segundo single, “Amor ao Avesso”. Segundo os músicos, trata-se de uma “canção que fala de um início de relação em que, embora caminhando por caminhos diferentes, encontram um final feliz, porque nós sabemos que todos os caminhos vão dar a Roma e Roma é amor lido ao avesso”. “É uma brincadeira com a palavra amor e Roma”, graceja Nuno Figueiredo.

“Estas músicas e este álbum de continuação da nossa carreia vem solidificar-nos, vem [colocar-nos] para cima e procurar outra vez o caminho para a luz, para a divulgação do nosso trabalho e para estar em contacto com quem gosta do nosso trabalho e estar presente no panorama português e em todos os festivais. Estamos outra vez nesta luta a escavar, pois não existe idade para escavarmos e termos presença naquilo que gostamos de fazer. Neste momento, sabemos muito bem o que queremos com a música e com a composição, queremos estar juntos e ser felizes a fazer o que gostamos”, sintetiza Jorge Benvinda.

 

Virgem Suta com nova digressão

A banda alentejana Virgem Suta prepara-se para dar início à “nova digressão” que assinala o seu “décimo quinto aniversário”. Ao “DA”, Jorge Benvinda e Nuno Figueiredo adiantaram os dias 12 e 21 de novembro, no Teatro Maria Matos, em Lisboa, e na Casa da Música, no Porto, respetivamente, como as “duas datas importantes” de apresentação do novo álbum.

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