Quatro jogos no Campeonato de Portugal e quatro derrotas. Dois jogos na Taça de Portugal e duas vitórias. Há algo de contraditório neste início de época desportiva do Futebol Clube de Serpa. Será o novo treinador, José Mauro Santos, capaz de corrigir estas incompreensíveis assimetrias?
Texto Firmino Paixão
“Temos de tirar o Serpa desta posição. Como o iremos fazer? Com muito trabalho diário. Não há estalar de dedos e conseguir milagres. Temos que envolver toda a gente e toda a gente tem que ter presente o que é ser um profissional, sendo que os atletas são amadores, mas têm que se sentir profissionais, na vida e no desporto”. Esta é a garantia deixada por Mauro Santos, de 38 anos, o treinador do Serpa que já colocou a equipa na terceira eliminatória da Taça de Portugal.
Serpa é uma experiência nova, apesar do seu vasto percurso no futebol?Comecei a minha carreira no futebol percorrendo todos os escalões de formação, primeiro no Porto, com o Hernâni Gonçalves, mais tarde no Boavista. Estive na Tailândia e nos Emirados Árabes Unidos como adjunto do mister Rui Nascimento, mas sempre com a ambição de, um dia, chegar a treinador principal, o que veio a acontecer, primeiro no Benfica de Castelo Branco, numa época difícil (2021/22), em que conseguimos atingir os objetivos. Mais recentemente estava com outros desafios profissionais que acabei por largar para vir para Serpa, porque a minha paixão é mesmo o futebol. É aquilo que mais gosto de fazer. Quando surge algo que nós gostamos, que nos estimula e nos faz sentir vivos, devemos agarrar.
Sendo assim, foi fácil convencê-lo a aceitar este projeto no Alentejo?Sim, foi relativamente fácil e nem sequer teve a ver muito com as condições financeiras. Não foi por aí. Foi pelo projeto em si, pela dificuldade que representa tirar o Serpa da situação em que está, pela dificuldade que representou estrear-me com o Vitória de Setúbal, que tem uma equipa com um plantel de liga 3, claramente candidata e, depois, ter logo uma segunda eliminatória da Taça de Portugal, uma competição que valorizo bastante. Para mim, é a competição mais bonita de Portugal, e pronto, pelo desafio que é tirar o Serpa desta situação em que, neste momento, é a pior equipa do campeonato de Portugal. E eu digo isto abertamente à direção e aos jogadores. Somos a única equipa que não tem qualquer ponto, sem golos marcados e com sete sofridos.
O trabalho tem passado por elevar os índices anímicos e criar novas motivações…Sim, a equipa estava com muita falta de confiança. No último jogo de campeonato, com o Setúbal, sentíamos jogadores com algum nervosismo. Mas até acabámos por fazer um bom jogo. Se calhar, as pessoas esperariam que o Vitória viesse aqui vencer por cinco ou por seis, e nós conseguimos adiar ao máximo o golo do Vitória, sendo que o nosso objetivo foi o de abordar o jogo para o ganhar, não era para procurar o pontinho ou retardar o golo do adversário. Foi sempre espreitar a nossa oportunidade, mas com um jogo muito pragmático e nunca com ilusões de fazer um jogo muito bonito e perder. O que os adeptos podem esperar de mim é sempre um jogo pragmático, fechando a nossa baliza e atacando a baliza do adversário da forma mais objetiva possível, porque o futebol, neste campeonato, terá de ser mesmo assim.
Que avalização fez do plantel que encontrou em Serpa? Pediu reforços?Considero que temos aqui jogadores que fazem a diferença. Temos bons centrais, por exemplo, mas, de um modo geral, considero que a equipa tem potencial e muita margem de progressão para evoluir dentro da sua qualidade. Para já, não fará sentido falarmos em reforços, apesar de termos tido alguns contratempos, mas, primeiro, tenho de observar o que temos, analisar todos os jogadores, alguns que ainda não vi jogar e outros que vi muito pouco. Portanto, temos de os observar, ver toda a gente e, daqui a duas ou três semanas, tomarmos uma decisão, para ver o que poderemos fazer em termos de reforçar o plantel. Mas, para já não. O nosso pensamento estava no jogo da Taça de Portugal, com o Gouveia, uma equipa do nosso campeonato. Fomos bem-sucedidos, fizemos um bom jogo e estamos na eliminatória seguinte, agora vamos ver o que o sorteio nos reservou.
No domingo viajam para Loulé. Outro jogo muito difícil?Todos os jogos serão muito difíceis. Os três pontos ficam muito caros. As equipas que cometerem menos erros defensivos serão aquelas que sorriem no final. Por isso, é muito importante estarmos focados na organização defensiva, porque as casas também não se constroem pelo telhado, constroem-se de baixo para cima, e nós temos de seguir esse princípio, e perceber que este campeonato é jogado com muito pragmatismo e com muita objetividade.
Mas está confiante em levar a bom termo essa missão de terminar a época com o Serpa fora da zona de despromoção?Estamos a quatro pontos de sair desta zona de despromoção. Mas, como digo aos jogadores, não vamos olhar só para isso. Vamos tentar chegar o mais perto possível dos lugares da frente, porque, se olharmos mais para cima, teremos todas as possibilidades de fazer um campeonato tranquilo. Se olharmos só para os cinco lugares da despromoção e ficarmos imediatamente acima, vamos ter o mesmo problema que o Serpa teve na época passada e na anterior, e não queremos isso. Queremos ter mais qualidade de jogo, mais organização, que são os fatores que nos irão catapultar para esses voos de ganhar mais jogos do que perdermos ou empatarmos.
Surpreendeu-o, de alguma forma, o que encontrou em Serpa, em termos de infraestruturas e de organização de um clube que está no interior do País?Fiquei muito agradado com a receção que tive. Os adeptos mostraram-se muito calorosos, aplaudiram-nos bastante e, por isso, também agradeço esse apoio. O que lhes posso prometer é trabalho e dedicação durante a semana. Não posso, obviamente, prometer resultados. Temos boas instalações, mas temos todos que nos ajustar à equipa. As coisas estão a ser conversadas com muita sinceridade, para fazermos com que o Serpa se aproxime de uma realidade mais profissional.