Diário do Alentejo

Corrida Cidade de Beja – 10 km Fernando Mamede teve boa participação

20 de maio 2023 - 11:00
Um tributo ao recordista
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

Os atletas Emília Pisoeiro (Clube de Atletismo Emília Pisoeiro) e Daniel Martins (Clube Desportivo Areias de São João) venceram a Corrida Cidade de Beja – 10 km Fernando Mamede, competição organizada pelo município de Beja, que homenageia o antigo atleta e recordista bejense.

 

Texto Firmino Paixão

 

O Regimento de Infantaria n.º 1 (RI1), unidade militar parceira do município local na organização da Corrida Cidade de Beja, abriu a sua porta de armas logo ao início de uma manhã soalheira, mas com uma temperatura amena, para receber as quase quatro centenas de participantes nesta corrida urbana, com a extensão de 10 quilómetros, e uma caminhada, que homenageia um filho desta cidade, que teve larga notoriedade nacional e internacional, através da modalidade que escolheu, o atletismo.

 

O tiro de partida fez-se soar no RI1, a meta final estava desenhada no complexo desportivo cujo patrono é o antigo atleta do Sporting Clube de Portugal. Uma festa bonita, à qual se associou também uma equipa de paraquedistas do Exército Português, os “Falcões Negros”, sediados em Tancos e comandados pelo coronel João Henriques, que coloriram o céu e fizeram descer as bandeiras do exército, da cidade e de Portugal. Mas vamos à corrida, propriamente dita.

 

No setor masculino as atenções viravam-se para a habitual “batalha” entre Bruno Paixão e Carlos Papacinza, sabendo-se que o algarvio Daniel Martins podia mostrar as suas credenciais. E mostrou! Entre as mulheres, Patrícia Marques é a eterna favorita e Ana Lourenço é boa atleta em distâncias mais curtas, mas lá estava a enérgica polaca Emília Pisoeiro a mostrar às atletas da sua escola como se ganha uma corrida. E ganhou!

 

Com a classe com que já a víramos, por exemplo, e por mais do que uma vez, vencer a Escalada do Mendro. Sorridente, no final disse ao “Diário do Alentejo”: “Senti-me muito bem logo desde a partida, controlei sempre a prova, mas tive a companhia de outras adversárias.

 

O percurso também não foi fácil, tinha algumas subidas e descidas, muitos pisos de calçada, o que dificulta sempre, mas eu estava forte, decidi ganhar algum avanço com o qual consegui mais este triunfo aqui no Alentejo”.

 

Discurso semelhante, até na felicidade, teve Daniel Martins, o albufeirense que é militar em Beja.

 

“Sou militar aqui na Base Aérea n.º 11, em Beja, e vim participar nesta prova que decorreu numa cidade que já conheço, com uma boa concorrência, nomeadamente, o Papacinza e o Bruno. Fui controlando e, nos últimos quilómetros, fui um bocadinho mais forte do que eles e consegui esta vitória. Estou feliz”.

 

Fernando Mamede, de 71 anos, embora com a saúde ligeiramente debilitada, veio à sua terra natal refrescar a memória da planície alentejana, recortada pela silhueta da torre de menagem do castelo de Beja. Sempre deu para atenuar a saudade, confessou.

 

“Quando nos aproximamos de Beja, ainda ao longe, surge logo a silhueta do castelo de Beja. É muito bom estar aqui a rever amigos. Voltarei cá no próximo sábado [amanhã] porque tenho o convívio dos antigos alunos da Escola Industrial e Comercial de Beja, onde faço questão de estar”. E onde tudo começou, atalhámos. “Sim, devo muito àquela escola e ao professor ‘Rony’, que me descobriu e lançou no atletismo”.

 

Mamede continua, por isso, fiel à modalidade que o projetou, que lhe deu grandes alegrias e, naturalmente, uma ou outra tristeza. “Sem dúvida, sou muito acarinhado pelas pessoas, sinto isso em todo o País, têm um carinho muito grande por mim. O atletismo deu-me tantas coisas boas que sinto que tenho que fazer alguma coisa por esta modalidade, principalmente, nestas provas onde não vêm os grandes atletas, porque os prémios monetários não os atraem, mas venho especialmente a esta, por ser na minha terra natal e ter o meu nome na sua nomenclatura. Venho aqui com a alma e o coração, é a minha cidade. Disse-o sempre e hoje, mais uma vez, sinto-me imensamente feliz por aqui estar, nestes ‘10 km Fernando Mamede’ que me dão muita alegria”.

 

Mas a cidade também não o esquece. Perpetuou mesmo o nome e a imagem do antigo recordista mundial dos 10 000 metros (1984/1989) e o próprio garante: “Estou muito grato por esta prova ter o meu nome, venho sempre que a saúde me permite. Sempre lamentei não ter corrido em Beja, mas, no meu tempo, a realidade era outra, deixei de fazer muitas provas regionais porque a minha concentração estava nos ‘meetings’ internacionais e na obtenção de recordes”.

 

Fernando Mamede ainda hoje colabora com a Direção Regional de Lisboa do Instituto Português da Juventude e Desporto, onde, à semelhança do barranquenho Paulo Guerra, é embaixador do Plano Nacional da Ética do Desporto.

 

“Vamos frequentemente às escolas falar com os miúdos sobre a ética no desporto e a promoção de boas práticas para a saúde. É sempre um prazer termos enormes plateias de miúdos a ouvirem-nos. Falamos do que foram as nossas vivências, do que fizemos no nosso percurso de desportistas”.

 

Mas lamentou: “Sentimos que eles estão completamente alheados a isso tudo. Acho que os programas educativos na área do desporto deviam ter uma unidade que transmitisse aos alunos quem foram e o que fizeram os melhores atletas portugueses, nas diferentes modalidades”.

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