Diário do Alentejo

Carlos Guerreiro reconhece a existência de um novo paradigma em Moura

03 de dezembro 2022 - 10:00
O ano zero deste modelo...
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

Uma aposta determinada na formação é a nova realidade do Moura Atlético Clube, esta época comandado pelo bejense Carlos Guerreiro “Cajó”, técnico que reconhece a existência de uma nova mentalidade no clube mourense, apesar de o grupo ter a forte ambição de chegar ao topo.

 

Texto Firmino Paixão

 

Carlos Jorge Guerreiro é um treinador formado no Despertar Sporting Clube, cujo percurso já passou por clubes como o Ferreirense, Castrense, Desportivo de Beja, Aljustrelense, entre outros. Faltava-lhe treinar o Moura, desafio que abraçou esta época, num momento de viragem da política desportiva do clube. Gerido por uma comissão administrativa, após a saída do executivo liderado por Luís Jacob, o Moura pediu ao técnico bejense que alcançasse um lugar entre os primeiros seis da tabela, ou seja, a passagem à fase de discussão do título. Carlos Guerreiro assegura, no entanto, que, no balneário, equipa técnica e plantel estão unidos, no desejo e na ambição de projetarem o clube para os primeiros lugares.

 

O Moura está com os olhos postos no 1.º lugar da tabela?

Toda a gente percebe que o clube mudou um bocadinho de paradigma, portanto, aquilo que nos pediram foi que ficássemos nos seis primeiros classificados. Sabemos a pré-época que fizemos, sabemos o número reduzido de jogadores que temos no plantel, o que, ao nível do treino, nos prejudica imenso. Temos um plantel diferente daquele que o Moura teve nos últimos anos, mas está a dar-nos um gozo tremendo desenvolver esta rapaziada. Tirando o Tó Miguel e o Bruno Gomes, ficamos com uma média de idades muito baixa. Mas hoje são muito melhores jogadores do que eram quando aqui chegaram, há três meses atrás. Sabemos que é preciso um bocadinho mais se quisermos lutar descaradamente pelo título, a história do Moura assim o exige, mas aquilo que nos propuseram não foi isso. Agora, em termos de balneário é o que queremos. Perdemos agora o primeiro jogo, mas queremos andar nos lugares da frente. Orgulha-nos imenso aquilo que eles estão a fazer, temos dois jogadores que na época passada disputaram a segunda divisão distrital, temos um central, de 17 anos, que tem vindo a jogar a um nível muito elevado. Esse é o nosso caminho, mas para se lutar por um título é preciso mais qualquer coisa, que os nossos adversários possuem.

 

Assumiu o Moura num momento em que o clube atravessava um período difícil. Reconhece que foi um ato de coragem?

O que eu pretendo do futebol, acima de tudo, são desafios. Tenho a minha vida estabilizada a outro nível, não preciso do futebol, já tenho treinado excelentes clubes na nossa região, mas faltar-me-ia o Moura. Tenho encontrado sempre estes clubes grandes um bocadinho em fase de reestruturação. Mas também é importante deixar algum cunho daquilo que é o meu trabalho. As pessoas querem muito potenciar o jogador local, é normal. De facto, nos últimos anos, o clube desenvolveu um modelo de sucesso e conseguiu andar muitos anos por fora deste patamar, mas a aposta na formação não resulta de um ano para o outro. Tem que se criar uma base, fazendo evoluir os diferentes escalões e depois sim, paulatinamente conseguir crescer. Mas também pedimos às pessoas que não tenham uma cobrança semelhante à que pretendem de outros jogadores. Queremos apostar neles, mas os jovens têm que sentir carinho. Os jogos em casa acrescem-lhe uma carga emocional mais elevada, mas assumimos que estamos muito satisfeitos e orgulhosos.

 

O seu desafio passa por reorganizar esse “puzzle” mourense?

Não acho que estivesse desorganizado. Estava feito de outra forma. A base desta equipa passa pelo Tó Miguel, que tem 44 anos, pelo Bruno Gomes, com 38, e o Amar, que tem 35. Portanto, é importante que esse núcleo duro seja cada vez mais alargado e renovado, para que, daqui a quatro ou cinco anos, existam outros Tós Miguéis e outros Brunos Gomes, que alimentem, efectivamente, as raízes do clube e essa ligação com a comunidade local. Isto não pode ser uma aposta de um ano, o que importa é trabalhar bem na base. Repare que o clube não tem equipa de juniores há alguns anos, os jogadores têm andado espalhados por outros clubes. Gostaríamos de tê-los aqui, mas já não foi possível. Vamos ver se este será o ano zero daquilo que é a ideia do Moura, mas o jogador local também tem que ter compromisso, tem que estar preparado para corresponder às exigências de uma equipa sénior do Moura Atlético Clube. O trabalho está a ser muito interessante e pode deixar uma marca para os próximos anos do clube.

 

Mas isso não garante resultados imediatos, algo que os treinadores que o antecederam procuravam?

Vamos ver, nos últimos quinze anos, tirando o João Portela, de Vila Nova de São Bento, que era treinador a tempo inteiro, nós somos o primeiro treinador não profissional do clube, também porque o Moura andou por outras divisões. Ainda na época passada esteve cá o João Manuel Pinto, uma glória do futebol português. Para nós cá estarmos é porque, efectivamente, as coisas estão diferentes, mas não são fáceis. O jogador de Moura não cresce debaixo das pedras, não é fácil pegar num atleta que jogue no Inatel ou que ainda é júnior e torná-lo logo jogador deste clube, com a exigência que isso acarreta. Até porque, esta bancada pesa, os pergaminhos do clube também obrigam a ter um equilíbrio entre os jogadores formados localmente e outros que não são.

 

Os jogadores locais fidelizam uma massa associativa, nem sempre paciente. Para um treinador será um desafio algo ingrato…

O treinador quer sempre o melhor para si e para o clube, as comissões e as direcções também querem o melhor para os clubes. Mas, para termos sucesso rápido, teremos que enquadrar elementos com outro tipo de qualidade e de experiência. Contudo, não nos queixamos porque, quando aqui chegámos, sabíamos ao que vínhamos. Não queremos é que nos exijam uma coisa que nós sabemos que, para a conseguir, teremos que possuir outras condições. A equipa técnica e a comissão administrativa têm identificado aquilo que esta equipa precisa para, eventualmente, poder dar o passo em frente, se quisermos, ou não, dar esse passo, esse já é um trabalho conjunto, mas quando, este ano, nos convidaram para vir para o Moura foi com o objectivo claro de ficarmos nos seis primeiros classificados. A pressão de andarmos nos primeiros lugares foi colocada pelos jogadores e por nós, equipa técnica, com o compromisso de, em cada jornada, procurarmos conquistar os três pontos e, no fim é que se fazem as contas.

 

 

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