Diário do Alentejo

À Mesa: Abaladiça marca pontos em Beja

24 de setembro 2022 - 11:00
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Texto António Catarino

 

A cidade de Beja, a velha Pax Julia romana, cujas marcas perduram como valioso património, ganhou outra dimensão nas últimas décadas, com a expansão urbanística a alargar a área citadina. Nas imediações do seminário, outrora limite da cidade, e de um supermercado de uma cadeia nacional, a toponímia local homenageia uma figura que ficou na história da urbe bejense: D. José do Patrocínio Dias, o bispo soldado, que esteve na frente de batalha da I Grande Guerra e que, durante quatro décadas, liderou a diocese em tempos particularmente difíceis e deixou vasta obra social.

 

É na artéria com o nome do saudoso prelado que o restaurante Abaladiça passou a ocupar, em meados de dezembro de 2021, o espaço de uma pastelaria. A convidativa esplanada é referência, na rua de plano inclinado, para situar o novo espaço da restauração bejense, com designação bem alentejana.

 

O espaço interior é confortável, moderno, nos pormenores decorativos e na amesendação. O branco impera na sala com boa luz natural. 

 

A carta apresenta um atraente capítulo petisqueiro e opções mais consistentes, que vão da cozinha alentejana tradicional a sugestões com sabor marinho.  A lista propõe “vamos começar” e perfilam-se saladas de choco fumado; de polvo quente ou fria; ovas; búzios ou de lingueirão do chef Mário. Outras opções são a maionese de camarão; torresmo do rissol; presunto pata negra e cachola, que se apresentou irrepreensível em termos de sabor, graças a esmerado tempero.

 

“Para petiscar” não faltam propostas, do pica-pau do lombo flambeado aos ovos com farinheira ou com espargos, aos cogumelos da Maria e à linguiça assada. Os pregos são alternativa, com o pouco comum prego de choco frito a emparceirar com os tradicionais do lombo e de picanha. As sugestões do dia são tão diversificadas, quanto aliciantes: arroz de gambas com grão perfumado e coentros; açorda de ovas de saboga; vinagrada; migas de tomate com peixe frito; filete de robalo com batata doce; bochechas em vinho do Porto com puré de nabo.

 

Na ocasião, saboreámos a tomatada, acompanhada com carne grelhada, que se revelou esplendorosa: tomate biológico de um produtor local e confeção apurada resultaram em pleno. Aos domingos, o cozido é rei no inverno; o cabrito impera nos restantes meses. O leitão assado à moda do Abaladiça é outra especialidade da casa onde, às quartas-feiras e aos sábados, há sempre marisco fresco. A lista apresenta ainda, nos pratos de maior consistência, o polvo do amigo Pedro Zé com batatinha assada e grelos salteados e o bacalhau à moda da casa, com batata-doce, grelos salteados, cebola roxa e pimentos vermelhos.

 

Atraente, o montado da costa alentejana, uma versão mais elaborada do conhecido “terra e mar”: lombinho de porco envolto em bacon e camarão. Por encomenda, um trio de arrozes – lavagante, tamboril ou gambas – e cataplana.

 

Da grelha vêm a picanha argentina; tomahawk; e as carnes de porco alentejano: presa, plumas, abanicos, lagartos; mista de porco preto ou tábua para duas ou quatro pessoas. Para “o grande final”, relendo a lista, as farófias justificam o estatuto de especialidade, mas há tarte tatin com gelado de baunilha e hortelã e o duo de mousses do Tio Zé.

 

Garrafeira com maioria de referências de produtores locais. Serviço a copo neste restaurante onde na última quinta-feira de cada mês há jantares vínicos. Com uma equipa jovem, dinâmica e simpática, bem liderada, e uma cozinha feita com rigor por mãos experientes, o Abaladiça marca pontos.

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