Diário do Alentejo

Violência infantil é o mote de exposição fotográfica na Escola Profissional de Cuba

18 de junho 2022 - 12:30
A exposição reúne as 10 melhores fotografias, de um leque de cerca de 300, onde os alunos do curso de Operador de Fotografia da Escola Profissional de Cuba foram os “autores e atores” do projeto
Fotos | Ana Calvário, Beatriz Militão, Carolina Garcia, Cristiano Nunes, Lara Camões E Lara MartinsFotos | Ana Calvário, Beatriz Militão, Carolina Garcia, Cristiano Nunes, Lara Camões E Lara Martins

A Escola Profissional de Cuba tem patente ao público, até ao final do mês, a exposição "Como se sentirá uma criança após ser agredida por um adulto?”, que pretende que as crianças e jovens sensibilizem os seus pares e mobilizem a comunidade para a violência infantil.

 

Texto Ana Filipa Sousa De Sousa

 

“Como se sentirá uma criança após ser agredida por um adulto”, projeto realizado no ano letivo de 2020/2021 pelos atuais alunos do 2.º ano do Curso de Educação e Formação de Operador de Fotografia (CEF) da Escola Profissional de Cuba em parceria com o projeto Cuba (Com)Vida CLDS 4G e a CPCJ,  tem como principal objetivo dar voz e sensibilizar as crianças e jovens a “quebrar os ciclos de violência, a se protegerem umas às outras e a mostrar que a violência nunca é opção”.

 

Ao “Diário do Alentejo”, a coordenadora do projeto Cuba (Con)Vida da associação Terras Dentro, Célia Escrevente, explica que “quando são as próprias crianças e jovens que, através da imagem e das palavras, se responsabilizam por mostrar a dor e o sofrimento dos seus pares, agredidos e maltratados, esse poder ganha uma dimensão ainda maior. A exposição centra a sua mensagem no sofrimento de quem é agredido e por isso, o seu impacto é fortíssimo. É quase impossível não sentirmos essa dor quando olhamos para as imagens. Identificamonos com a criança que sofre e isso faz-nos refletir sobre a forma como educamos e como tratamos quem é mais frágil e era esse o objetivo”.

 

Apesar de ter como bases um projeto sensibilizador, o mesmo alargou os seus horizontes e partiu à descoberta de reforçar também “o papel interventivo dos jovens na comunidade e das parcerias, na execução das iniciativas, para aproximar os serviços à população”, permitindo que diferentes faixas etárias refletissem sobre a sociedade atual.

 

 

Multimédia0 “Maltratar uma criança é crime; Não o faça, pelo bem de todos!”

 

A humilhação, a dor, o medo, a tristeza, a impotência, a desproteção, a desilusão, o ódio, a desconfiança e a revolta vivida e escondida, frequentemente entre quatro paredes, foram as emoções que motivaram cada fotografia e que permitiram aos alunos espelhar “esta realidade cruel” experienciada “em todos os cantos do mundo”.

 

O PERCURSO ATÉ AQUI Ao “DA”, os alunos do CEF de Operador de Fotografia, garantem que o caminho até ao resultado final não foi fácil. O peso e a sensibilidade do tema causaram uma responsabilidade acrescida e a noção que esta não poderia ser uma exposição vista com um ânimo leve. O desconforto e a inquietação eram os sentimentos que tinham de acompanhar todos aqueles que olhavam cada fotografia e só assim seria possível dar o valor que a temática merecia.

 

Carolina Garcia, uma das alunas produtoras da exposição, assegura que “o mais difícil foi fotografar”, não só pela parte técnica da fotografia, mas essencialmente pelo “nervosismo de sermos os próprios atores de uma temática tão sensível e violenta”. A entrega dada ao projeto levou, em algumas ocasiões, à mistura da realidade e da ficção, onde a jovem de 16 anos conta que “por vezes pensava que era eu mesma [que estava a viver aquela situação] quando não o era”.

 

A dedicação dos seis estudantes culminou, não só na legendagem das fotografias, mas sobretudo na entrega de panfletos “em mão” sobre o tipo, o contexto e a importância de reconhecer uma situação de violência infantil em qualquer situação. “Esta temática despertou-me para esta realidade e trouxe-me uma riqueza de conhecimentos [que me permitem] não só ajudar terceiros, como defender-me caso me aconteça algo do género, isto é, saber pedir ajuda e não ter medo ou vergonha de o fazer”, esclarece.

 

Também para o diretor de turma, Álvaro Honrado, numa altura em que “são cada vez mais sinalizados casos de maus-tratos” o poder de consciencializar e de trazer para o debate público este tema é fundamental. Visivelmente orgulhoso, o professor de Língua Portuguesa crê ainda que “esta foi, sem dúvida, uma experiência deveras enriquecedora, na medida em que os alunos que estiveram envolvidos neste projeto desenvolveram um excelente trabalho” e o resultado disso foram as diversas iniciativas que tiveram como mote a exposição.

 

Multimédia1“Não maltrate uma criança, pois, ao fazê-lo, poderá destruir duas vidas…”

 

MAIS DE 300 QUILÓMETROS PERCORRIDOS

Exposta pela primeira vez no Parque Manuel de Castro, em Cuba, rumou de seguida ao Centro de Inovação Social da Fundação Eugénio de Almeida, em Évora, e mais tarde à Casa da Cidadania de São Domingos de Benfica, em Lisboa, onde serviu de motor para diversas atividades e debates. Recentemente, regressou à vila tendo estado exposta ao público na Biblioteca Municipal de Cuba. Célia Escrevente conclui relembrando que “inicialmente, a exposição foi pensada essencialmente como forma de sensibilização da comunidade local, pelo que o impacto que conseguiu alcançar ultrapassou todas as expetativas. O feedback tem sido muito positivo e os convites que foram surgindo são a prova de que, quando as temáticas os tocam verdadeiramente, os jovens são criativos, motivados e transformadores das suas comunidades”.

 

Para os alunos, os mais de 300 quilómetros que a exposição já percorreu são o “merecido valor face do nosso trabalho”, que demonstra que “as pessoas sentem [a exposição] como nós a sentimos”.

 

A dor, o sofrimento, o medo, a esperança e a compaixão pelo outro estão agora expostos em cada fotografia patente na sua casa de origem, a Escola Profissional de Cuba, até ao final do mês.

Multimédia2“A infância não se repete; fica para sempre…”

 

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“Dê cor ao mundo de criança; não lhes tire a infância!”

 

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