Diário do Alentejo

Carlos Teles: "A minha missão é focar-me nas soluções"

03 de dezembro 2021 - 14:40

Vice-presidente da Câmara Municipal de Aljustrel nos últimos 12 anos, o socialista Carlos Teles assume agora os destinos da autarquia, sucedendo a Nelson Brito. O novo presidente, em entrevista realizada por ‘email’, diz que pretende consolidar a estratégia de desenvolvimento iniciada em 2009 e que está “mais motivado do que nunca para trabalhar” pelo concelho.

 

Texto Nélia Pedrosa

 

Vai dar continuidade ao trabalho do presidente cessante ou este será um mandato de renovação?

Procurarei colocar o meu cunho pessoal num mandato que é assumidamente de continuidade. Temos uma estratégia de desenvolvimento que iniciámos há 12 anos e que agora é preciso consolidar, com políticas adequadas, com visão, com compromissos e muito trabalho.

 

Quais são as prioridades para o concelho?

As prioridades já definidas e que transitam do anterior mandato, ação social, desenvolvimento económico, educação e cultura, juntámos duas novas linha mestras de governação, fundamentais na nossa vida coletiva: ambiente e resposta aos efeitos da covid-19. Porque conhecemos muito bem os problemas que nos afetam relacionados com o ambiente, queremos que o município continue a ser um agente ativo na busca de equilíbrios entre as atividades que criam emprego e riqueza e o respeito pelos valores ambientais. A água é também neste campo um bem estratégico e de importância vital e cada vez mais escasso. Por isso, já estamos a desenvolver um plano estratégico que visa a redução das perdas de água. O ambiente será, pois, uma prioridade nos próximos anos. O segundo novo objetivo, resposta aos efeitos da pandemia, dará prioridade ao combate às suas consequências presentes e futuras, dimensão que estará sempre presente em todas as ações do município nos próximos anos. Este combate aos efeitos da pandemia não é uma obrigação apenas da autarquia, mas sim de todas as entidades do concelho e da própria população.

 

Que outros projetos considerados estruturantes quer implementar neste seu primeiro mandato?

Temos vários projetos que vamos implementar nos próximos anos, em benefício do nosso concelho e das nossas gentes. Por exemplo, a concretização da nossa Estratégia Local de Habitação, em que fomos um dos primeiros concelhos a nível nacional a assinar acordo com o Estado para criar melhores condições de habitação no concelho. Destaco também a variante à vila de Aljustrel, obra reclamada há mais de 30 anos, e que agora está garantida e inscrita no Programa Nacional de Investimentos. Realço, ainda, o Centro de Negócio de Aljustrel, já em construção, bem como o alargamento das áreas de acolhimento empresarial a todas as freguesias. Está já em obra também o projeto da nova extensão de saúde de Rio de Moinhos e tudo faremos para viabilizar a unidade de cuidados continuados no nosso concelho. Estamos também a concluir o Centro de Receção e Acolhimento do Parque Mineiro, que será uma peça fundamental na dinamização do turismo.

 

Escreveu recentemente que “Aljustrel é uma terra fértil em oportunidades” e “que se devem aproveitar todas as sinergias que emergem de diversos atores, juntado entidades públicas e privadas, em prol do progresso”. Os setores mineiro e agrícola continuarão a ser prioritários para o desenvolvimento de Aljustrel?

Somos orgulhosamente um concelho mineiro, da mesma maneira que assumimos plenamente a nossa vocação rural. Minas e agricultura significam emprego e distribuição de riqueza. Hoje somos um concelho com qualidade de vida. Os indicadores assim o testemunham. Temos um nível salarial acima da média nacional. Temos uma taxa de natalidade alta. Estancámos a sangria demográfica. Mas não queremos ficar por aqui e entendemos que devemos diversificar a nossa base económica. A autarquia tem sido, por exemplo, um agente catalisador na fixação de vários investimentos industriais no nosso concelho. Temos, também, uma visão para o desenvolvimento turístico, que assenta sobretudo na potenciação do riquíssimo património mineiro, através da dinamização do Parque Mineiro de Aljustrel, que abrirá ao público em breve, com objetivos de lazer, didáticos e de investigação, com reflexos positivos na economia local, como a criação de emprego e receitas. “Lutaremos” por manter Aljustrel como referência para os investidores que procuram o nosso concelho e a nossa região para aplicarem os seus recursos financeiros. Seremos sempre facilitadores na busca de soluções e não enfatizaremos problemas.

 

Os Censos 2021 mostram que o Baixo Alentejo continua a perder população. Na última década, Aljustrel registou um decréscimo populacional na ordem dos quatro por cento. Embora não seja dos concelhos do distrito que mais habitantes perdeu, do seu ponto de vista como é que se poderá travar o despovoamento?

Os Censos 2021 demonstram que alcançámos aquele que foi o desígnio a que nos propusemos em 2009, que foi estancar a sangria demográfica que estava a devastar o nosso concelho. O concelho de Aljustrel foi aquele que, entre os que desceram o número de habitantes, menos perdeu população no distrito. Também é aquele que apresenta neste campo a menor taxa quando comparado com os distritos de Évora e de Portalegre. No caso de Aljustrel é preciso considerar também que várias centenas de pessoas que estão diariamente no concelho e que aqui permanecem a maior parte do seu tempo, em particular trabalhadores das minas, não foram contabilizados como residentes. Sendo os resultados dos Censos 2021 animadores para Aljustrel, tal não nos retira a capacidade de olhar para estes números numa perspetiva regional e até nacional. E esse olhar mais global deixa-nos muitíssimo preocupados, porque os resultados traduzem os efeitos de um modelo de desenvolvimento centralizador e que está a condenar o interior do País ao abandono. É preciso mudar muita coisa.

 

Como está a situação financeira da autarquia?

O município tem vindo a reduzir paulatinamente o seu endividamento e isto com o mérito de não deixar de fazer investimento. Somos um dos municípios que a nível nacional apresenta melhor taxa de execução dos fundos comunitários e isso é um orgulho para nós. Continuaremos, pois, na senda de reduzir os níveis de endividamento e contamos com a ajuda do Estado Central para não nos sobrecarregar financeiramente, nomeadamente, com a diminuição de transferências de verbas do Orçamento do Estado (OE) ou com a atribuição de novas competências sem o acompanhamento de envelopes financeiros adequados. Como é o exemplo do presente OE que previa um corte de 600 000 nas transferências.

 

Qual é o balanço que faz deste primeiro mês de governação?

Tem sido um período de adaptação, mas que tem decorrido com normalidade. O balanço é claramente positivo. Estou mais motivado do que nunca para trabalhar pela nossa terra.

 

 

Quais são os grandes desafios que se colocam atualmente ao concelho e como antevê o futuro próximo?

Temos os nossos problemas, claro, que não são muito diferentes dos da generalidade dos concelhos do interior. Não rejeitamos as nossas dificuldades e não deixaremos ninguém para trás, continuando a apostar em políticas sociais fortes. Mas a minha missão como presidente da câmara é focar-me nas soluções, no progresso de que a nossa terra precisa, pelas anteriores, presentes e futuras gerações de gente que quer acreditar no futuro e continuar o rumo de progresso que coloca hoje Aljustrel como referência de desenvolvimento económico e social da região e do País.

 

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