Diário do Alentejo

Turismo do Alentejo vira-se para mercado nacional

29 de abril 2020 - 17:20

O Alentejo quer captar turistas nacionais este verão e está a trabalhar na certificação sanitária do setor, para que os visitantes prefiram férias em Serpa ou Alegrete (Portalegre) do que na Broadway, em Nova Iorque (Estados Unidos). “É lógico que, este verão, teremos apenas turismo interno. Será muito difícil que o turismo internacional possa ter qualquer espécie de retoma nesta fase”, devido à pandemia de covid-19, disse à agência Lusa o presidente da Entidade Regional de Turismo (ERT) do Alentejo e Ribatejo, António Ceia da Silva.

 

Segundo o responsável, o território tem, pois, de “lutar imenso para conquistar turistas portugueses” para o verão, colocando em evidência “as características muito interessantes que também, neste aspeto”, em tempos de pandemia, “a região possui”.

 

O Alentejo “tem horizonte, espaço, tranquilidade, não tem grande aglomerado de pessoas. Eu diria que um turista, hoje em dia, preferiria ir para uma unidade de turismo rural em Serpa”, no distrito de Beja, “ou em Alegrete”, no concelho e distrito de Portalegre, “do que ir para a Broadway, em Nova Iorque”, nos Estados Unidos da América.

 

O presidente da Turismo do Alentejo e Ribatejo disse acreditar que “a reabertura” do setor turístico, quer ao nível dos alojamentos, quer ao nível da restauração e das empresas de animação, “irá surgir durante o verão, de uma forma progressiva” e que os territórios que lidera já estão “preparados para lançar uma campanha de turismo interno”.

 

Mas, para captar turistas, “a segurança sanitária será decisiva”, alertou, destacando que o Alentejo e Ribatejo estão já a trabalhar na “certificação sanitária”, com a Universidade Nova, os hotéis, a restauração e as empresas de animação turística. Como exemplo, o responsável indicou que, fruto deste trabalho, que também terá de incluir as autoridades de saúde, vai decidir-se “se os hotéis abrem quarto sim, quarto não ou piso sim, piso não”, o que depende da sua dimensão, “e qual a lotação de restaurantes”.

 

“Há matérias que têm de ser trabalhadas agora, em maio e junho, para que no verão possamos ter algumas expectativas de receber turistas portugueses”, mas estes só virão com estas “questões de segurança, como a utilização de máscaras em todas as unidades, a limpeza e higienização dos espaços e a criação de zonas devidamente confinadas nas praias”, assinalou.

 

Com uma faixa atlântica que se estende ao longo de 43 quilómetros, o concelho de Grândola, no litoral alentejano, vive essencialmente do setor turístico, que, nos últimos anos, ganhou novo fôlego com a aposta em investimentos hoteleiros, num valor “de 500 milhões de euros”, que poderão sofrer quebras significativa.

 

“Temos hotéis, não só de praia, mas também rurais, alguns deles com ocupação ao longo do ano, que tiveram de encerrar e isto deixa-nos muito preocupados. Mesmo que abram em junho, com condições especiais, não vai ser igual”, avançou António Figueira Mendes, presidente da Câmara de Grândola. Apesar da pandemia de covid-19, os promotores “com grandes investimentos” no concelho - que tem uma capacidade para 15 mil camas - “não pararam os projetos ou as obras” em curso.

 

Afirmando-se preocupado quanto ao desemprego e à restauração, que, sem turistas, vai sofrer quebras, o autarca, sem uma previsão dos efeitos da pandemia, também disse acreditar que a aposta passa pelo turismo interno.

 

No interior alentejano, a cidade de Évora, cujo centro histórico é Património da Humanidade pela UNESCO, integra os principais roteiros turísticos da região, mas, desde março, as ruas estão “praticamente desertas”, diz Carlos Pinto de Sá, presidente da autarquia local, segundo o qual as quebras no setor "estão acima dos 95% em relação a abril do ano passado”.

 

O autarca disse acreditar que as restrições possam começar a ser levantadas em maio, mas avisou que “o verão vai ser difícil para todos”, porque “não haverá no imediato turistas estrangeiros” e a afluência turística “aumentará a pouco e pouco, sobretudo, com portugueses”.

 

“Provavelmente, o turismo, tal como estamos habituados, só iremos ter quando a vacina for descoberta e começar a ser utilizada. Vamos ter meses muito preocupantes do ponto de vista da quebra da atividade económica e em particular do turismo”, assinalou.

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