O Centro de Interpretação e Observação do Lince-ibérico, com vista para a paisagem onde foi libertado o primeiro casal e onde há exemplares da espécie a viverem na natureza, foi inaugurado em São João dos Caldeireiros, no concelho de Mértola. Trata-se de uma iniciativa no âmbito do projeto “Por Terras de Lince-ibérico”, promovido pela Associação de Defesa do Património de Mértola (ADPM).
Quem chega ao novo Centro de Interpretação e Observação do Linceibérico, em São João dos Caldeireiros, é recebido com informação sobre este felino e o seu habitat, através de conteúdos expostos em painéis. Seguem-se recomendações sobre atitudes e comportamentos “compatíveis com uma observação responsável e sustentável” dos exemplares da espécie que vivem em liberdade, na natureza. Com um pouco de sorte, será possível ver um dos exemplares desta espécie que até 2015 esteve em “perigo crítico” de extinção. A sua sobrevivência estará agora assegurada, graças a um programa de reintrodução na Península Ibérica, no âmbito do qual já foram libertados 109 exemplares.
O centro tem uma vista panorâmica para uma paisagem onde vivem linces-ibéricos no Vale do Guadiana e é possível observar o cercado onde foi libertado, em 2014, o primeiro casal da espécie em Portugal – o macho Katmandu e a fêmea Jacarandá. Carla Janeiro, da ADPM, conta que foi igualmente criada uma rota- -âncora no território do lince-ibérico, ou seja, um percurso público rodoviário pelas áreas de ocorrência do felino no Vale do Guadiana e que se estende pelos concelhos de Mértola e Serpa. A rota contempla quatro percursos interpretativos da espécie e da paisagem envolvente, nos quais há “elevado potencial de avistamento” de exemplares e pontos de interesse turístico. A associação criou igualmente duas infraestruturas de suporte que garantem o acesso a informações sobre lince-ibérico, 24 horas por dia e em várias línguas, nomeadamente um quiosque multimédia interativo, instalado no Largo Vasco da Gama, em Mértola, e um sítio de Internet do projeto, além de uma exposição no Centro de Interpretação da Amendoeira da Serra, através da qual o visitante é convidado a conhecer a espécie e a evolução da sua presença no Vale do Guadiana. No final do século XX, o lince- -ibérico esteve perto da extinção em Portugal, o que levou à adoção de um plano de reintrodução no espaço natural, promovido pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) em articulação com autoridades espanholas. “Com a implementação de medidas de conservação da espécie e de sensibilização da população residente e visitante, espera-se alcançar a coexistência harmoniosa entre o homem e um dos felinos mais ameaçados do mundo”, sublinha Carla Janeiro.
MAIS DOIS LINCES
A inauguração do centro coincidiu com a libertação de mais um casal de linces. O macho Quinde e da fêmea Quisquilla nasceram em cativeiro, em 2019, no Centro de Reprodução de Lince-ibérico de El Acebuche, no Parque Nacional de Doñana, na Andaluzia, e vivem agora, em liberdade, no Vale do Guadiana. Fonte do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) estima que a população de lince-ibérico a viver livre na natureza Hongo, que tinha nascido em 2011 e sido localizado pela última vez em 2012 em Espanha, dispersou para Portugal, onde foi detetado numa zona de caça de Vila Nova de Milfontes, em 2013, e encontrado morto, vítima de atropelamento, em 2015, na Autoestrada 23, perto de Vila Nova da Barquinha, no distrito de Santarém. Os primeiros nascimentos comprovados da espécie em meio natural em Portugal desde a década de 1980 registaram-se em março de 2016 e a primeira reprodução de linces já nascidos na natureza no Vale do Guadiana ocorreu em maio de 2018. Desde março de 2016, o ICNF já contabilizou 91 nascimentos de lince-ibérico na natureza em Portugal, sendo que a maioria (75) nasceu nos últimos dois anos (29 em 2018 e 46 em 2019), o que “atesta o sucesso” do processo de reintrodução da espécie em Portugal. Segundo o ICNF, 2019 foi um ano “particularmente favorável” ao lince-ibérico em Portugal, devido ao nascimento das 46 crias em liberdade e ao estabelecimento de territórios ocupados por 13 fêmeas reprodutoras. “Com estes territórios já estabilizados, o Vale do Guadiana, com um núcleo populacional em franco crescimento, tornou- se uma das áreas de reintrodução com maior sucesso a nível ibérico”, refere a mesma fonte.