Diário do Alentejo

FairFruit admite relançar obra suspensa em Beja

05 de março 2020 - 15:42

Anunciada em 2017, a unidade agroindustrial da FairFruit iria criar 35 postos de trabalho durante todo o ano, mais cerca de 150 sazonais. O terreno foi cedido pela Câmara de Beja e o investimento apoiado por fundos comunitários. Apesar de as obras terem parado, a administração da empresa diz não ter desistido de um projeto “de grande importância para o Alentejo e para os produtores de frutas e de legumes”. A área de frutícolas no perímetro de rega do Alqueva duplicou entre 2012 e 2019.

Texto: Luís GodinhoFotografia: José Ferrolho

Há meses que as obras, financiadas em 8,2 milhões de euros por fundos comunitários, estão paradas. A unidade industrial da FairFuit, em Beja, destinada ao embalamento de frutas e produtos hortícolas, deveria estar concluída em julho deste ano. Mas o prazo não será cumprido. Em declarações ao “Diário do Alentejo”, Pascal Felley, administrador da empresa, garante que, apesar da suspensão das obras, a FairFruit não desistiu do projeto previsto para Beja: “Estamos a resolver algumas questões técnicas e organizacionais para colocar em operação essa unidade que é de grande importância para nós, para o Alentejo e para os produtores de frutas e de legumes”. Anunciada em abril de 2017, a unidade industrial envolvia um investimento de 13,7 milhões de euros, dos quais 8,2 milhões financiados através do programa Compete, destinado a reforçar a competitividade das pequenas e médias empresas, previa a criação de 35 postos de trabalho durante todo o ano e cerca de 150 sazonais.

 

Tendo em conta a criação de emprego e o “impulso à economia local” – estava previsto que, além do embalamento de fruta de primeira categoria para o mercado fresco, a laboração da unidade agroindustrial de transformação de fruta (desidratação, congelação e corte) pudesse servir diversas empresas, contornando a sazonalidade dos produtos frutícolas – a Câmara de Beja cedeu um espaço com cerca de 10 mil metros quadrados, situado na zona de acolhimento empresarial da Horta de São Miguel, para a construção do edifício. Depois de uma visita do secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, as obras começaram no início de 2019 mas pararam poucas semanas depois. “Tivemos muitos problemas técnicos, como a existência de pedras [de grande dimensão] que não poderíamos retirar sem licenças especiais [para uso] de explosivos ou de um poste elétrico que não podemos remover”, sublinha Pascal Felley, justificando ainda a paragem das obras com a existência de um “superaquecimento” do setor da construção civil em Portugal que envolve “um importante custo extra com que temos de lidar pois as regras do projeto de apoio são muito rigorosas”. “Estamos atualmente a selecionar uma nova equipa técnica para reiniciar o projeto no prazo de dois meses.

 

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No entanto, começaremos a trabalhar em instalações provisórias até que a construção seja concluída”, acrescenta o administrador da empresa. “Definitivamente, queremos continuar esse projeto, pois precisamos dos produtos e temos clientes para isso”. Fundada em 2014 e com sede na Suíça, a FairFuit está presente em diversos países, como Hungria, Áustria, França, Espanha e Portugal, desenvolvendo a sua atividade na produção de fruta com caroço e de azeite. Em Portugal, além da produção de frutos de caroço biológicos (como alperces, nectarinas, pêssegos e ameixas) no concelho de Serpa, a empresa arrancou em 2014 com a plantação de 74 hectares de frutas convencionais. “A FairFruit Portugal não possui produção direta. Ajudamos e participamos indiretamente no desenvolvimento de pomares sob várias formas, financeiras e técnicas, mas não produzimos diretamente. As nossas atividades concentram- se na seleção, calibração, embalagem e comercialização de frutas e vegetais, com especial ênfase nas frutas de caroço”, esclarece Pascal Felley.

PRODUÇÃO FRUTÍCOLA DUPLICA.

A área ocupada por frutícolas no Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva praticamente duplicou entre 2012 e 2019, passando de 804 para 1584 hectares, de acordo com dados publicados pela Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA). A empresa recorda que, historicamente, as restrições hídricas na região impediram o desenvolvimento da produção de fruta em larga escala. Em todo o caso, e também pela experiência de alguns regadios já existentes, havia a perceção que a produção de fruta nos perímetros de rega do Alqueva “poderia ter uma qualidade superior, fruto das condições edafoclimáticas existentes”. Assim, prossegue a EDIA, “com a introdução do regadio tem havido uma multiplicação de novos projetos frutícolas, desenvolvidos em vários moldes e usando diferentes fruteiras”. Em 2019 foram inscritos em Alqueva 133 hectares de damasco/ /alperce, dos quais cerca de 50 “pela empresa FairFruit e seus parceiros nacionais, na zona de Ervidel”, 157 hectares de pêssego/nectarina, da qual Portugal importa, todos os anos, mais de 54 mil toneladas, e 149 hectares de romãzeira, cultura que tem sido objeto de um “interesse crescente” na região, traduzido no surgimento de novos projetos e na instalação de novos pomares. “Os agricultores que manifestaram interesse em desenvolver esta cultura são, em grande parte, jovens agricultores e instalaram pomares novos, com variedade que o mercado necessita”, esclarece fonte da EDIA Depois do olival, amendoal e produção de uva, incluindo a uva de mesa (364 hectares, a maioria dos quais na herdade do Vale da Rosa, em Ferreira do Alentejo), a cultura de citrinos é a mais expressiva das culturas frutícolas nos perímetros de Alqueva, tendo sido inscritos 308 hectares em 2019. Com pouca expressão continua a maçã (37 hectares), a ameixa (23 hectares) e a figueira- da-índia (13 hectares).

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