Diário do Alentejo

Produção de amêndoa no Alqueva multiplica-se por 10 desde 2015

28 de fevereiro 2020 - 10:35

Se, em 2015, o amendoal era uma cultura com pouca expressão no Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva, em 2019 a situação alterou-se. Em apenas quatro anos, a área de amendoal passou de 975 para 11 448 hectares. Só o olival ocupa uma área superior.

Texto: Luís GodinhoFotografia: José Ferrolho

O relatório anual publicado pela Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA) é claro no que se refere ao crescimento exponencial da cultura de amêndoa nos últimos cinco anos, impulsionado pelo elevado preço desta matéria-prima nos mercados internacionais. Só entre 2018 e 2019 esse crescimento foi de 52 por cento, tendo a área de amendoal passado de 7419 para 11 448 hectares. Tendo em conta que o custo médio de instalação da cultura por hectare será de cinco mil euros, o investimento nos últimos cinco anos terá sido superior a 50 milhões de euros. De acordo com a EDIA, o investimento espanhol “é o principal responsável pela área de amendoal em Alqueva”, representando cerca de 53 por cento da totalidade, o que se explica “pela ligação” do amendoal ao olival em sebe, “onde também o investimento espanhol tem um peso importante”. Os empresários agrícolas portugueses estão na origem de 32 por cento do investimento global, seguindo-se empresas com origem nos Estados Unidos (12 por cento) e em França (três por cento). Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2018, Portugal produziu 21 642 toneladas de amêndoa, 43 por cento das quais com origem no Alentejo. Pela primeira, o volume de exportações (4857 toneladas) foi superior ao das importações (4428 toneladas).

 

“No caso de Alqueva temos pomares que ainda não atingiram o pleno da sua capacidade produtiva, e outros que só em 2019 é que entrarem em exploração, o que significa que a produção de amêndoa no País deverá continuar a aumentar, melhorando o saldo da balança comercial”, diz fonte do setor. O Centro Nacional de Competências dos Frutos Secos aponta para a duplicação da produção nacional ao longo dos próximos três anos, em resultado da “apetência do mercado mundial pelos frutos secos” e das condições naturais para a sua produção em Portugal. Nos últimos dois anos instalarem- se duas unidades de transformação e comercialização de frutos secos no Alentejo, uma das quais a Migdalo, em Ferreira do Alentejo. “[O ano de] 2019 pode ser considerado o ano de afirmação da cultura da amêndoa, em regadio, no Alentejo, com vários amendoais a ultrapassarem já o patamar de produtividade dos dois mil quilos de miolo por hectare, isto em amendoais conduzidos em sebe ou em copa e para diferentes variedades, confirmando e validando o potencial que existe na região para esta cultura”, refere fonte da empresa, sublinhando que as “boas produtividades” associadas a um “preço firme” da matéria- -prima e ao continuo aumento da procura “permitiram aos produtores atingir uma ótima rentabilidade nas suas parcelas de amendoal”.

 

 

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“BOA OPORTUNIDADE PARA OS AGRICULTORES”

 

Investir no amendoal “pode ser uma boa oportunidade para os agricultores e investidores da região e uma ótima alternativa cultural, com um bom potencial agronómico e económico”, considera a EDIA, segundo a qual estão em estudo novos investimentos no setor, principalmente, em áreas de “produção intensiva e sebe”. Além da fábrica de Ferreira do Alentejo, uma nova unidade de descasque de amêndoa “está em vias de entrar em funcionamento” na Azaruja, concelho de Évora. Também a empresa De Prado, “um player do mercado do azeite e a crescer no mercado da amêndoa”, fez recentemente investimentos na instalação de uma fábrica de descasque e processamento deste fruto seco. “A matéria-prima é proveniente dos cerca de três mil hectares que já tem plantados, sendo que existe a intenção de continuar a expandir a área de amendoal”, conclui a EDIA.

CULTURA DO OLIVAL JÁ SUPERA OS 66 MIL HECTARES

De acordo com o relatório anual da EDIA, em 2019 foram inscritos 66 327 hectares de olival nos aproveitamentos hidroagrícolas do empreendimento de Alqueva, o que representa um crescimento de cerca de cinco mil hectares comparativamente com o ano anterior. É a cultura que ocupa maior área neste perímetro de rega. “As expectativas são que o crescimento da área de olival continue, embora com um ritmo mais reduzido do que ao verificado recentemente”, assinala a EDIA.

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A área de olival em Alqueva triplicou entre 2014 e 2019, situação que a empresa justifica “pelo valor do produto no mercado, que leva as empresas do setor a serem muito ativas na procura por novas áreas, e rapidamente desenvolverem todo o processo para a instalação de novas plantações”. De acordo com a mesma fonte, embora as primeiras grandes áreas de olival moderno em Alqueva tenham sido da responsabilidade de investidores espanhóis, a situação inverteu-se: “Com o tempo os portugueses foram adquirindo conhecimento da nova forma de condução do olival e também investiram em novos olivais, sendo responsáveis por mais de metade do investimento nesta cultura”.

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