A Câmara Municipal de Barrancos e a Universidade de Évora estão a colaborar no âmbito de um Programa de Preservação, Estudo e Valorização do Património Linguístico e Cultural de Barrancos. Em março arranca a formação de informantes, a primeira ação do Estudo do Barranquenho, que inclui diversas iniciativas, tais como a documentação da língua, a elaboração de uma convenção ortográfica, a elaboração de uma gramática e de um dicionário e a organização do seu ensino. Para o presidente da Câmara Municipal de Barrancos, João Serranito Nunes, o objetivo da autarquia é a concretização do programa protocolado com a Universidade de Évora, que “compreende todos os domínios do barranquenho, desde a língua à cultura, em todas as suas vertentes – estudo, preservação e promoção”.
Texto: Carlos Lopes PereiraFotografia: José Ferrolho
Vai avançar o Programa de Preservação, Estudo e Valorização do Património Linguístico e Cultural de Barrancos, protocolado no quadro da colaboração entre o município barranquenho e a Universidade de Évora. “Estamos, neste momento, a ultimar os procedimentos burocráticos e administrativos para dar início ao Estudo do Barranquenho”, revelou o presidente da Câmara Municipal de Barrancos, João Nunes. Das iniciativas a realizar “destacam-se a documentação da língua – a primeira e a mais urgente –, a elaboração de uma convenção ortográfica, a elaboração de uma gramática e de um dicionário e a organização do seu ensino”, especifica. Cada uma destas iniciativas contempla uma série de ações, consistindo a primeira delas na formação de informantes, que já se encontra agendada para o mês de março.
A Universidade de Évora será a instituição responsável pelos trabalhos a desenvolver no âmbito do Estudo do Barranquenho, sob a orientação de uma equipa técnica constituída pelos investigadores Filomena Gonçalves, María Victoria Navas Sánchez-Élez e Filipe Themudo Barata. Nesta colaboração estão contempladas as parcerias e os apoios necessários de acordo com as necessidades do projeto, como, por exemplo, com o Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, a Universidade Complutense de Madrid e o Centro Interdisciplinar de Documentação Linguística e Social. As medidas de preservação da língua têm carácter prioritário, em termos de política municipal de Barrancos, assegura o autarca: “O principal objetivo da câmara é a concretização do programa protocolado com a Universidade de Évora, que compreende todos os domínios do barranquenho, desde a língua à cultura, em todas as suas vertentes – estudo, preservação e promoção”. O presidente João Nunes explica que, hoje, o barranquenho é falado por pessoas de todas as idades, desde as crianças aos mais idosos. É certo que a população mais idosa “fala um barranquenho mais cerrado e mantém muitos dos traços linguísticos mais antigos e genuínos”. No entanto, “as crianças também são ótimas falantes de barranquenho”.
Relativamente ao total de falantes, é difícil avançar um número. Nos dias de hoje, há o perigo do barranquenho desaparecer? João Nunes é cauteloso: “O barranquenho é, neste momento, apenas uma língua oral, que está exposta às influências da atualidade, nomeadamente, dos meios de comunicação social, da informatização e da era digital. O envelhecimento da população e o desaparecimento da geração mais velha acarreta a perda irreparável de memórias, de práticas e tradições antigas e de informação cultural e linguística importante para a documentação da identidade barranquenha. Daí a necessidade urgente de documentar a língua barranquenha”. Recorde-se que, em 2008, o barranquenho foi classificado como Património Imaterial de Interesse Municipal.
Em 2017, a Câmara Municipal de Barrancos anunciou que pretendia candidatar o barranquenho a Património Linguístico Nacional, junto do Ministério da Cultura, para ser reconhecido como língua oficial. Hoje, a autarquia defende que “o reconhecimento do barranquenho como língua cooficial minoritária é o último passo do estudo do barranquenho”. Trata-se de um processo demorado que requer uma série de tarefas de curto, médio e longo prazo e até estar concluído não oferece condições para apresentar uma candidatura ao Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial. O reconhecimento por parte de organismos nacionais ou internacionais passará, necessariamente, por um conjunto de medidas prévias.
VOCÁBULOS BARRANQUENHOS
Buche (gole de água)Calabaça (cabaça; abóbora)Codo (cotovelo)Cosquilhas (cócegas)Culébra (cobra)Hipo (soluço)Mérrua (melro ou “mélroa”)Nutra (lontra)Pantorrilla (barriga da perna)Pilá (chafariz)Piporro (vasilha de barro)Quartilho (caneca de esmalte)Regata (vala)Zambomba (instrumento musical)Tubilhu (tornozelo)Xixarrõeh (torresmos)Zorra (raposa)
FRASES E EXPRESSÕES POPULARES BARRANQUENHAS
“Quasi que mê caio” (Por pouco não caí!)“Não dô abádo a tanta coisa” (Não consigo fazer tanta coisa!)“Belá a bê si tá chobendo” (Vê lá se está a chover)“Ontem íam os doih bêbadoh um em compáh do outro”(Ontem iam os dois bêbados juntos um do outro)“É a cara do pai em táto!” (É tal e qual a cara do pai!)