Diário do Alentejo

Isenção na A2 é “positiva”, mas não chega para fixar população e empresas na região

06 de dezembro 2025 - 17:00
Gratuitidade nas portagens permitirá poupar até 14,90 euros por viagem
Foto | Ricardo ZambujoFoto | Ricardo Zambujo

O Parlamento aprovou recentemente a isenção de portagens na Autoestrada 2 (A2), no troço Marateca-Almodôvar, para pessoas ou empresas com residência nesta área de influência. Os autarcas e empresáriosda região garantem que a medida é de “parabenizar”, mas que “há muitos anos que precisamos de mais” para dinamizar um território que tem “vivido aos bochechos”.

 

Texto | Ana Filipa Sousa de Sousa

São cerca de 156 os quilómetros que, a partir do próximo ano, estarão isentos de portagens na Autoestrada 2 (A2), num troço que liga Marateca e Almodôvar. A proposta, apresentada pelo PS, foi aprovada no passado dia 26 de novembro, no âmbito da votação na especialidade do Orçamento do Estado para 2026.

 

A medida, vista como “positiva” por parte de autarcas e empresários, prevê a isenção de pagamento “entre o nó A2/A6/A13 e Almodôvar” para pessoas com residência e empresas com sede em determinadas “áreas de influência” do referido traçado.

 

Estima-se que numa viagem neste troço se poupe 14,90 euros, segundo os valores praticados atualmente.

 

A empresa Sulcastas – Comércio de Bebidas está, desde 2014, sediada em Beja e a fazer distribuição de vinho para Albufeira e Lisboa. Ao “Diário do Alentejo” (“DA”), João Paulo Sousa, em representação da referida entidade, garante que esta proposta é “vantajosa” e que vem poupar “por volta de 150 a 170 euros por mês” à empresa.

 

“Temos carros a circular constantemente nas autoestradas, principalmente, na A2. Por isso, obviamente que haverá uma redução de custos”, refere, acrescentando: “Nós temos sido esquecidos aqui no interior e, então, esta é uma forma de tentar compensar o tal abandono que temos há anos”.

 

A mesma opinião é partilhada por Jorge Lopes, proprietário da empresa Biquímicos, com sede em Aljustrel, que conta com “cerca de 15 comerciais no terreno” em “todo o território nacional”. Segundo o responsável, que abriu, também, recentemente, uma empresa de transporte, esta medida “é uma ajuda que o Estado dá para as empresas da região que ficam pouco competitivas por estarem no Alentejo”.

 

“Se uma pessoa quiser levar material para Lisboa o custo é grande e esta é uma grande poupança que vamos ter. Para além disso, temos também um armazém no Algarve e apesar de não ser muito até Almodôvar sempre é algum dinheiro que se poupa”, reconhece.

 

Para Jorge Lopes este tipo de incentivos poderá estimular a fixação de novas empresas no território, uma vez que os proprietários “começam a fazer contas” e percebem que é proveitoso terem empresas mais a sul do País.

 

“Percebem que poupam dinheiro nas autoestradas e que as câmaras municipais do Alentejo têm incentivos para os terrenos e para criar empresas [e que] há vantagens em se estar aqui em vez de nos grandes centros”, alude.

 

A empresa de Jorge Lopes poupará cerca de 1500 euros por mês em portagens.

 

Por sua vez, João Silva, um dos proprietários do Grupo A.F. Silva – Produtos Alimentares e Ultracongelados, com sede em Ourique, admite que, de momento, a A2 não é uma das vias que mais utiliza, uma vez que os seus trajetos de distribuição são “no interior”, mas no próximo ano será uma possibilidade a considerar.

 

“No nosso caso não há a necessidade de andarmos na autoestrada, mas para outro tipo de empresas [a isenção] é boa. Aliás, para nós também é boa, porque se antes não fazíamos [este percurso], se calhar a partir de agora vamos começar a fazer”, diz.

 

Ainda assim, apesar de não utilizar a A2 diariamente, João Silva assegura que a proposta irá fazer com que a sua empresa poupe “cerca de três mil euros” por ano devido às viagens que faz “de 15 em 15 dias” até aos fornecedores em Lisboa.

 

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É IMPORTANTE, MAS...

David Simão, presidente da Associação Empresarial do Baixo Alentejo (Nerbe/ /Aebal), e António José Brito, presidente da Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (Cimbal), em declarações ao “DA”, convergem no mesmo ponto, ou seja, a isenção das portagens na A2 é “positiva” para quem vive ou para quem se instala na região, mas não chega.

 

“Parabenizamos, sem dúvida nenhuma, esta medida, [mas] aquilo que seria realmente significativo na nossa economia era termos a nossa capital de distrito ligada com uma autoestrada, ou seja, precisamos urgentemente de acabar com os 40 quilómetros de autoestrada que falta”, afirma David Simão.

 

Para o presidente do Nerbe/ /Aebal, o término da construção da autoestrada – “que há tempo está planeado, que há tanto tempo está prometido e que há mais tempo ainda é desejado” – seria o grande passo para atrair mais pessoas e empresas para o Baixo Alentejo.

 

“O que assistimos agora é as empresas a percorrem, muitas vezes, vias secundárias no sentido de menorizar custos e despesas para que possam permanecer competitivas e em linha de concorrência com outras áreas do País. [Por isso], precisamos disso [autoestrada] para que possamos ficar em igualdade de situações com as outras capitais distritais e para eliminar estas objeções e constrangimentos que a falta de autoestrada faz às indústrias do nosso distrito”, recorda.

 

António José Brito também refere que “o Baixo Alentejo precisa de mais enquanto território de baixa densidade”, particularmente, “mais investimento público em infraestruturas fundamentais”. “Diria que, sempre salvaguardando o lado positivo desta medida, há questões que não podemos deixar de reforçar como fundamentais para a região, nomeadamente, a integração de Beja na rede de autoestradas e até a eletrificação urgente da ferrovia”, assume.

 

O presidente da Cimbal teme que a proposta “acabe por não surtir o efeito e o resultado que achamos que seria desejado para a economia da região”, pois esta tem “vivido aos bochechos” e está “muito atrasada” face aos “anos e anos sem soluções para estes problemas”.

 

“Não podemos dizer que não é positivo. É uma medida que é uma resposta concreta e vai ao encontro de um certo reconhecimento de um território como o nosso que tem poucas pessoas, dificuldades a nível empresarial e de investimento. Por isso, o que não quero deixar de sublinhar é que, independentemente deste impulso, há muitos anos que precisamos de mais”, reconhece.

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