Em 2018, os cereais representaram apenas 3,4 por cento da produção na agricultura nacional, com 246,2 milhões de euros, constituindo o milho em grão a componente com maior peso na produção cerealífera (58 por cento), seguido pelo trigo e espelta (17 por cento) e pelo arroz (16 por cento). Segundo o gabinete da ministra da Agricultura, numa resposta a questões colocadas na Assembleia da República pelo deputado João Dias, eleito do PCP pelo círculo de Beja, “apesar de Portugal continuar a ser um país deficitário em cereais, nos últimos anos tem vindo a desenhar-se uma tendência de incremento das exportações, principalmente no que diz respeito ao milho e arroz”.
Com efeito, em 2018 o valor das exportações aumentou muito mais do que o das importações, com o milho e o arroz a serem os principais responsáveis por estes aumentos. No que se refere a quantidades, nesse ano foram exportadas 305 mil toneladas de cereais, exceto arroz, com o milho a representar 89 por cento do total. De referir que as exportações de milho quadruplicaram em quantidade nos últimos cinco anos. No caso do arroz, foram exportadas 82 mil toneladas (mais 12 por cento face ao ano anterior). Por outro lado, as importações de cereais, no seu conjunto, “têm vindo a registar uma tendência de aumento”. No que se refere à repartição por cereal, “o milho e o trigo continuam a ser os principais cereais importados, com 60 por cento e 30 por cento, respetivamente, face ao total de importação de cereais incluindo o arroz”.
As origens de importação são distintas, consoante o tipo de cereal. O milho é importado principalmente de países de fora da União Europeia (71 por cento, em média) e a importação do trigo, pelo contrário, “apresenta predominância nos países comunitários (96 por cento, em média)”. No caso do milho, em 2018, a Ucrânia continua a liderar o grupo das principais origens, seguindo-se o Brasil, que tem vindo a aumentar a sua quota de mercado. No que se refere ao arroz e para o agregado anual, Portugal importa sobretudo das Guianas (56 por cento). Espanha corresponde à segunda origem do arroz, seguindo-se o Camboja. Em 2018, Myanmar passou também a ter um papel importante nas quantidades de arroz importadas por Portugal.
A MENOR SUPERFÍCIE DE CEREAIS CULTIVADA EM 100 ANOS
A área de cereais de outono/inverno cultivada em Portugal em 2019 foi a menor em 100 anos, entre 1919 e 2019. No ano passado, foram cultivados no País 20 mil hectares de trigo mole, quando em 2014 este cereal ocupava mais do dobro de superfície (46 mil hectares). A área de cultivo do centeio e da aveia também recuaram nesses cinco anos, passando, no caso do centeio, de 20 mil hectares em 2014 para 15 mil hectares em 2019, e no caso da aveia de 51 mil hectares em 2014 para 35 mil hectares no ano findo. Em sentido inverso, nesse período, o trigo duro duplicou de área, de dois mil para quatro mil hectares, e a cevada passou de 17 mil hectares para 20 mil hectares. No período de um século, a situação mudou radicalmente: a superfície de cereais de outono/inverno no País era, em 1919, de cerca de 900 mil hectares, passando para menos de 200 mil hectares em 2019. O auge da produção cerealífera ocorreu nas décadas de 1940 e 1950 – quando a política agrícola salazarista pretendeu transformar o Alentejo, dos latifúndios, no “celeiro da Nação”.