Diário do Alentejo

O Porteiro do Elefante Branco, um livro de Elsa Bicho

10 de janeiro 2020 - 12:00

Bacharel em Ciências da Comunicação pela Universidade do Algarve. Integrou a redação da “Rádio Voz da Planície”. Jornalista desportiva no jornal “A Bola” durante 18 anos, assinando “inúmeras páginas de histórias”. A reportagem é o seu estilo jornalístico de eleição. Recentemente, foi diretora de comunicação do Casa Pia Atlético Clube (Liga Pro), tendo agora publicado o livro O porteiro do Elefante Branco.

 

Texto José Serrano

 

O Porteiro do Elefante Branco é o primeiro livro de Elsa Bicho, jornalista bejense que nesta obra revela histórias, “quase inacreditáveis, de noites loucas, de abastança, glamour e sedução”, da casa noturna mais afamada de Lisboa.

 

 

Poderá este livro revelar-se inconveniente para alguns dos habitués, politicamente imaculados, do Elefante Branco?

Não acredito, houve a preocupação com a privacidade de figuras públicas. Espero que aqueles que têm curiosidade no livro, pela simples procura de escândalos, não fiquem desiludidos. As páginas contam histórias, quase inacreditáveis, de noites loucas, de abastança, glamour e sedução. Conta o porteiro que conhecia metade da Assembleia da República. E, refira-se, que havia quem dissesse que era assíduo do Elefante sem nunca lá ter entrado. Só para se “armar”, já que frequentar aquela casa não era para todos. Para muitos ter assistido de camarote aos anos dourados do Elefante Branco é motivo de orgulho.

 

 

A obra apresenta histórias contadas por Manuel Ribeiro, o porteiro, durante mais de 20 anos, desta casa noturna. O poder que este homem detinha iria muito além da decisão de deixar entrar “este ou aquele”?

O livro é reportagem pura, centrado na personagem do porteiro que, durante anos, foi a pessoa mais importante da casa, onde iam todos quantos tinham estatuto social. Vetou muita gente à entrada, fez inimigos, muitas situações se passaram debaixo dos seus olhos. Um homem que primava pela discrição e fiel à privacidade dos clientes. Um homem que escolhia as mulheres que abrilhantavam o Elefante e que lhes ouvia muitos suspiros e inconfidências. A sua importância ia muito além de entregar bilhetes de entrada, sim.

 

Ir ao Elefante Branco terá sido, durante uma época, sinónimo de status quo, um item imprescindível no currículo de alguém com ambições sociais, políticas?

É verdade. O Elefante era especial porque a nata da sociedade sabia que podia lá estar à vontade. Que a privacidade estava acautelada. Sendo notáveis e ilustres da sociedade, ali conseguiam estar descontraídos, pois ninguém via, ouvia ou comentava nada. Fosse para estarem à conversa, para comerem bifes ou para se “esticarem” com mulheres. Nunca lá entraram jornalistas ou câmaras.

 

Ver e ser visto, para não ferir suscetibilidades…

Muito isso, sim. Era do domínio público que lá estavam deslumbrantes mulheres que muitas vezes saíam com clientes só para os acompanharem em reuniões ou eventos. Mulheres diferenciadas na altura, como explica o porteiro, que sabiam conversar, opinar, “estar”, encantar, com inteligência e educação. De lá resultaram vários casamentos, divórcios também, certamente. Clientes que eram figuras públicas e que só no Elefante conseguiam ser eles próprios, sem preocupações quanto à imagem ou reputação. 

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