Diário do Alentejo

Baixo Alentejo é a região onde menos se arrenda casa

18 de outubro 2019 - 12:00

O Instituto Nacional de Estatística (INE) fez um estudo sobre as rendas da habitação a nível local e chegou à conclusão que o Baixo Alentejo apresentou, no primeiro semestre de 2019, o menor número de novos contratos de arrendamento, registando apenas 390. O valor mediano das rendas, no entanto, encontra-se abaixo da média nacional, verificando-se o mesmo no Alto Alentejo e no Alentejo Litoral. Fomos ouvir quem decidiu alugar casa e perceber os motivos desta realidade em solo alentejano. Mas, para o presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária em Portugal, “não é a nova lei da habitação que vai alterar esta situação nas regiões do interior”.

 

Texto Bruna Soares

 

Face ao período homólogo, o valor mediano das rendas aumentou em 21 das 25 sub-regiões, tendo diminuído, por exemplo, no Alto Alentejo (-3,6 por cento) e no Alentejo Litoral (0,2 por cento).

Recorde-se que, no primeiro semestre deste ano, o valor mediano das rendas de alojamentos familiares estabelecidas em novos contratos de arrendamento no País fixou-se em cinco euros por metro quadrado. Acontece que no Baixo Alentejo o valor situou-se abaixo da média nacional. Tendo o valor mediano das rendas se cifrado nos 3,60 euros por metro quadrado.

Em Beja, de acordo com estes dados do INE, o valor mediano das rendas por metro quadrado de novos contratos de alojamentos familiares é de 4,06 euros por metro quadrado. Valor ainda mais baixo apresenta Ferreira do Alentejo (3,36 euros por metro quadrado), Moura (3,35 euros por metro quadrado) e Vidigueira (2,91 euros por metro quadrado).

No Alentejo Litoral só Sines apresenta o mesmo valor que se fixou no País (cinco euros por metro quadrado). Todos os restantes concelhos ficam abaixo deste valor mediano. Alcácer do Sal (3,62 euros por metro quadrado), Grândola (4,14 euros por metro quadrado), Odemira (3,89 euros por metro quadrado) e Santiago do Cacém (4,13 euros por metro quadrado).

 

Relativamente a novos contratos de arrendamento, segundo o INE, em Beja foram registados 161, seguindo-se Ferreira do Alentejo com 34, Moura com 32 e Vidigueira com 33. 

 

“Acho que tivemos muita sorte, porque a ideia que tenho é que a maioria das pessoas leva muito tempo à procura de uma casa para alugar . Existem muitas casas para serem arrendadas e existe procura, mas, por algum motivo, os donos dos imóveis não estão dispostos a arrendá-las, por isso, o que se vê são muitas casas para venda, mas não para arrendamento”. Flávia Silva

Flávia Silva foi uma das pessoas que decidiu arrendar uma casa no Baixo Alentejo. “Vim trabalhar para Beja, e inicialmente por um período de um ano, daí termos optado pelo mercado de arrendamento”, explica ao “Diário do Alentejo”. E acrescenta: “Conseguimos uma casa de acordo com as nossas expetativas, e por intermédio de uma imobiliária, que foi essencial para o negócio”.

No entanto, na região, embora as imobiliárias ofereçam estes serviços e estejam disponíveis para novas angariações, dos agentes imobiliários com que o “Diário do Alentejo” falou todos frisaram “que a procura continua a ser muito maior no que diz respeito ao mercado de compra e venda de casa” e que muitas pessoas “quando chegam às imobiliárias fazem-no, principalmente, com esse intuito”.

“Acho que tivemos muita sorte, porque a ideia que tenho é que a maioria das pessoas leva muito tempo à procura de uma casa para alugar”, considera Flávia Silva, porque, de facto, “existem muitas casas para serem arrendadas e existe procura, mas, por algum motivo, os donos dos imóveis não estão dispostos a arrendá-las, por isso, o que se vê são muitas casas para venda, mas não para arrendamento”.

Quem também optou por arrendar uma habitação, em vez de comprar, foi Mara Carvalho. “Decidimos fazê-lo, eu e o meu companheiro, por não envolver créditos bancários e porque, hoje em dia, a nossa situação laboral também pode ser muito inconstante, o que nos pode levar a ter de mudar de terra e com uma casa arrendada temos mais mobilidade. Mas também porque podemos encontrar uma casa que se adapte às nossas necessidades e não ficamos limitados a uma só casa”. E explica: “Quando éramos apenas dois, um casal sem filhos, vivíamos num T1. Agora que a família aumentou foi mais simples mudar e encontrar uma casa com as condições que necessitávamos, uma casa com pelo menos dois quartos, com quintal e com espaços para arrumos”.

“Foi bastante difícil encontrar casa. A oferta é objetivamente pouca, como se pode verificar com uma simples pesquisa na Internet. Acresce que os preços são pouco acessíveis, principalmente, quando se trata de arrendamento para uma única pessoa, o que considerando a quantidade de casas por habitar, sobretudo, no centro histórico da cidade de Beja, não deixa de ser pouco compreensível”. Nádia Mira

Em contrapartida, Mara Carvalho diz que “não é fácil encontrar casa”, até porque, em sua opinião, “as rendas são muito elevadas” na região. Ideia, esta, corroborada por Nádia Mira, que também arrendou casa recentemente, em Beja. “Face à realidade da região o preço é incrivelmente elevado. Numa região cada vez mais despovoada, de baixos salários, com poucas oportunidades de emprego, sobretudo, qualificado, e com uma enorme dificuldade em fixar jovens, o preço das rendas no Baixo Alentejo parece-me absolutamente desajustado”.

Para Nádia Mira, “foi bastante difícil encontrar casa. A oferta é objetivamente pouca, como se pode verificar com uma simples pesquisa na Internet. Acresce que os preços são pouco acessíveis, principalmente, quando se trata de arrendamento para uma única pessoa, o que considerando a quantidade de casas por habitar, sobretudo, no centro histórico da cidade de Beja, não deixa de ser pouco compreensível”.

Nádia Mira apresenta, assim, como vantagens do mercado de arrendamento “a flexibilidade dos contratos” e o facto de “numa casa arrendada as obrigações de manutenção do imóvel e do cumprimento das obrigações fiscais, relativas ao imóvel, ficarem a cargo do proprietário e não do arrendatário”. No entanto, frisa: “Alcançando outro tipo de estabilidade laboral, penso comprar casa”.

Virá, então, a Nova Lei da Habitação, que entrou recentemente em vigor, aumentar o número de arrendamentos nas regiões do interior? “Esta lei define que todos têm direito à habitação, para si e para a sua família, independentemente da ascendência ou origem étnica, sexo, língua, território de origem, nacionalidade, religião, entre outros. Ao fim e ao cabo, esta lei nomeia o Estado como garante do cumprimento do direito à habitação. Não sei se será esta lei que poderá fazer crescer o número de arrendamentos no interior do País. Diria que não”. Quem o diz é Luís Lima, presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária em Portugal (Apemip).

Para Luís Lima, “esta lei vem ajudar no cumprimento do direito constitucional à habitação, e diz-nos, ao fim e ao cabo, que o Estado é também responsável por fazer cumprir este direito”. Por isso, “para promover a dinamização do arrendamento será necessário dinamizar primeiro a economia local, por via da captação de investimento, nomeadamente, no setor turístico”.

Pouca oferta para este segmento de mercado

O presidente da Apemip diz que o facto de se registarem tão poucos contratos de arrendamento no Baixo Alentejo se deve “há pouca oferta, sendo que, por outro lado, também há pouca procura para este segmento”. E que esta realidade só se pode alterar com a “descentralização do investimento e a dinamização económica desta região, que pode bem ser feita através da promoção turística, e, por esta via, de uma maior procura, nomeadamente, por estrangeiros, que acabará por gerar novas dinâmicas económicas”. “Tal fará com que haja mais jovens e famílias a estabelecerem-se e a trabalharem e, consequentemente, a optar por alternativas habitacionais, como é o arrendamento”, conclui.

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