Diário do Alentejo

Livro escrito a duas mãos por Bagão Félix e Ana Paula Figueira

18 de outubro 2019 - 10:10

Texto José Serrano

 

Doutorada em Gestão de Empresas, na área de Marketing, é docente no Instituto Politécnico de Beja onde, desde novembro de 2017, exerce o cargo de pró-presidente para o Planeamento, Marketing e Comunicação. Integra a lista de peritos da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior. Paralelamente à atividade académica, tem estado ligada a vários projetos de intervenção social e comunitária. Assina, desde 2011, uma coluna de opinião no “Diário do Alentejo”. Tem diversos trabalhos publicados, tanto de cariz técnico, relacionados com a sua área de formação académica, como livros infantis e coletâneas das suas crónicas.

 

Da autoria de António Bagão Félix e Ana Paula Figueira, foi publicado, no passado mês de abril e reimpresso em julho, o livro Raízes de Vida. Uma obra composta por seis capítulos que foram buscar os seus nomes à anatomia de uma árvore, onde encontramos, de acordo com os seus autores, “reflexões sobre a vida e os homens”.

 

Quais as raízes que sustentam este livro?Este livro tem a ambição de dar um contributo para alimentar a “vida do espírito” de quem o lê e, por isso, reconhecemo-lo como um ato intelectual. O livro representa também um exercício de liberdade: não escrevemos para ninguém em particular, escrevemo-lo seduzidos pelo mistério do encontro com o leitor, ou seja, fascinados pelo livro que o leitor pode criar a partir daquilo que nós escrevemos. Inclui 42 textos de “enamoramento entre António Bagão Félix e a botânica” harmonizados com 42 aforismos escritos por mim, chegando-se assim, “por vias diferentes, a uma soma de dois testemunhos, a uma pequena coletânea de vida de duas gerações, a questionamentos sem a sofreguidão da resposta, a epifanias de coisas por descobrir, a formas, quiçá utópicas, de valorizar a essência do simples. Em prosa, por vezes poética, e em quase poesia dita em prosa”.

 

É esta uma obra que faz a ponte entre o Homem e a natureza?Nesta obra existe uma ligação entre o Homem e a natureza, como se esta última desse resposta às maiores inquietações do Homem.

 

Pretendem estas reflexões constituir um contraponto ao ritmo acelerado das sociedades contemporâneas?Talvez seja isso mesmo. É desconfortável percebermos que hoje tudo é “engolido” pela avidez do tempo. Face à supremacia do negócio, promove-se o que é rentável já no momento imediatamente a seguir. As áreas que não se enquadram neste princípio acabam por ser desvalorizadas, com o argumento de que não são lucrativas. Ora, os intelectuais movimentam-se num espaço onde não podem existir pressas: a reflexão, como resultado da pergunta, da incerteza, do espanto, da hesitação e da inquietação, exige tempo. Neste contexto, infelizmente, e face ao enaltecimento do imediatismo, acaba por ser estimulada uma desvalorização de muito do que de mais elevado existe na condição humana e na atividade dos homens, e as artes, habitualmente preocupadas com esses aspetos, são, na sua generalidade, secundarizadas: o seu universo não é o do incontestável e o do imediato. Hoje, ou existe espetáculo ou dificilmente existe o que quer que seja. E isto é mau! Ao mesmo tempo, a capacidade crítica das pessoas parece estar cada vez mais desvanecida, fazendo prevalecer estereótipos enganadores e uma tremenda ausência de humildade. Em todos os setores e em todas as profissões. Hoje parece fácil rapidamente ser… qualquer coisa! Recordo a propósito o que o [Manuel António] Pina escreveu quando apresenta o seu O Inventão: “Penso coisas tão profundas e sinto-me tão mal/Que penso que sou um intelectual./E penso coisas tão mal e sinto-me tão profundo/ Que devo ser o Maior Intelectual do Mundo”.

 

Como surgiu este encontro literário com António Bagão Félix e como correu esta escrita a “quatro mãos”?A nossa amizade já conta alguns anos. Nasceu sem qualquer razão e não faz perguntas. Existe porque nos dá um imenso gosto. Por isso, escrever este livro a “quatro mãos” foi algo natural, muito simples e especialmente prazeroso.

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