Diário do Alentejo

“Mapa Nacional de Vulnerabilidades Sociais” propõe políticas ajustadas às realidades locais

22 de dezembro 2025 - 08:00
Alentejo é uma das regiões mais sensíveis “à sazonalidade dos mercados de trabalho”Foto | Ricardo Zambujo

O “Mapa Nacional de Vulnerabilidades Sociais”, apresentado no Porto na passada quarta-feira, dia 17, propõe a construção de políticas ajustadas às realidades locais porque a pobreza e a exclusão social são variáveis em função do território. 

O mapa, apresentado pelo Obser-vatório da Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN) Portugal, apresenta algumas propostas, nomeadamente, a adoção de critérios de majoração ou um apoio diferenciado consoante as regiões, explicou uma das autoras do estudo.Este trabalho “permite-nos ter dados estatísticos fiáveis ao nível mais micro, não só do distrito, não só das regiões, mas dos concelhos e das freguesias”, explicou a socióloga Ana Teixeira, do Observatório da EAPN/Portugal, uma das responsáveis deste trabalho, realizado em colaboração com Pedro Candeias, professor no Iscte, Instituto Universitário de Lisboa.A socióloga exemplificou que existem em Portugal regiões particularmente envelhecidas, “o que configura um tipo de vulnerabilidade”, e outras mais jovens, com famílias mais alargadas que “são mais sensíveis às pressões habitacionais que atualmente se fazem sentir. Essas regiões são, sobretudo, as próximas do litoral e a Região Autónoma dos Açores”.Citou as regiões do Norte e do interior como aquelas onde as questões do envelhecimento se fazem sentir com mais preponderância.“Isto também espelha um bocadinho qual foi o espírito deste exercício, ou seja, a ideia não é propriamente construir rankings de vulnerabilidade, quem está melhor ou quem está pior, mas, sim, dar a entender a dimensão qualitativa desta vulnerabilidade”, disse.“Esta abordagem demográfica permite-nos perceber que regiões mais envelhecidas ou regiões mais jovens se deparam com desafios que são diferentes, mas que têm de ser encarados”.Segundo Ana Teixeira, os territórios têm características e dinâmicas diferentes em função das populações, nomeadamente, do ponto de visa da sua qualificação, dos níveis de remuneração, mais bem ou mal posicionados.“Temos também a questão do emprego, ou melhor, do desemprego e do tipo de desemprego que se faz sentir. Aqui procuramos perceber onde é que temos um maior número de agregados, onde todos os elementos se encontram desempregados, onde é que há uma maior proporção de famílias mais dependentes dos subsídios e das prestações sociais, porque isto configura um tipo de vulnerabilidade”, referiu.As regiões do Algarve, do Alentejo e da Madeira são “particularmente sensíveis à sazonalidade dos mercados de trabalho, que têm muito a ver com as questões do turismo e da agricultura”.Uma outra questão abordada na análise realizada tem a ver com a habitação. “Analisamos, sobretudo, as questões da vulnerabilidade energética e também as questões do arrendamento apoiado. Constatamos que há regiões onde, de facto, esta questão da vulnerabilidade se coloca com uma maior acutilância do ponto de vista da capacidade energética das suas habitações”, disse.No caso do arrendamento apoiado, destaca-se a região do Alentejo e, na vulnerabilidade energética, destacam-se as regiões do interior Norte e as ilhas como sendo particularmente afetadas.A ideia desta primeira abordagem “é, no fundo, evidenciar esta heterogeneidade que caracteriza a vulnerabilidade social e a exclusão social em Portugal” e também discutir como é que se podem construir e desenvolver políticas que sejam mais ajustadas a estas necessidades, que são necessariamente territorialmente distintas”.Em 2026, os investigadores pretendem discutir estes resultados nos diferentes territórios, “com as autarquias e com todos os interlocutores que se mostrarem interessados a entrar neste debate e a fazer este trabalho também de maior diferenciação de respostas”, acrescentou a socióloga.O estudo resulta da análise de um conjunto de indicadores estatísticos organizados em cinco áreas fundamentais: demografia e ciclos de vida, classes sociais, desemprego, acesso a serviços e habitação. “Lusa”

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