Tendo como objetivo a promoção da “palavra escrita e lida e a promoção da leitura”, a Feira do Livro de Beja, promete atrair muito público ao centro histórico da cidade, valorizando-o como “espaço de interação social e cultural”, acalentando a expetativa, ao comércio local da zona, de melhores dias vindouros.
Texto José Serrano
A Feira do Livro de Beja, ontem inaugurada, decorrerá, no centro histórico da cidade, na zona pedonal comummente conhecida como “portas de Mértola”, até domingo, dia 14. Sendo promovida pela câmara municipal e organizada pela Biblioteca Municipal de Beja, o certame, de periodicidade bienal, tem como missão “celebrar os escritores, os leitores, a palavra escrita e lida e a promoção da leitura”. Paula Santos, responsável pela programação da biblioteca, sublinha tratar-se “da maior feira do livro a sul de Portugal”, referindo a contribuição do evento para a vivência do centro histórico da cidade, “mantendo-o como um espaço de interação social e cultural da cidade”.
De entre as várias atividades, todas de acesso gratuito, “interessantes para descobrir ou experienciar”, que ocorrem ao longo do circuito da feira, entre a rua Capitão João Francisco de Sousa e o jardim do Bacalhau, Paula Santos destaca: a presença, no “Mercado do Livro”, de “alguns dos melhores livreiros portugueses, vindos de todos os cantos do País, cujo trabalho entusiástico tem por missão aconselhar e aumentar os índices de leitura”; o “Espaço Consultório Literário”, com diversos mediadores de leitura “que conseguem contagiar o gosto pela palavra”; a possibilidade do visitante contactar com mais de 70 autores e leitores da região de Beja e de ler, de forma espontânea, bastando para isso inscrever-se no ponto de leitura que será o “Espaço Leitores”; a presença de “Jovens Embaixadores da Leitura” que, “por certo, serão uma fonte de inspiração” para partilhar no “Espaço Pais e Filhos”.
Para Luís Miguel Ricardo, presidente da Assesta – Associação de Escritores do Alentejo, entidade parceira na programação, o certame, “que vai encher de letras o coração de uma cidade”, representa “uma oportunidade singular para os autores abrirem os seus romances, os seus contos, as suas poesias e as suas crónicas ao universo de leitores da região”.
Tendo por base a experiência das edições anteriores, a feira desperta no público a curiosidade acerca de obras de autores contemporâneos da região, diz Luís Miguel Ricardo, recebendo a associação, “na ressaca de um evento desta natureza”, contactos de autores, “que se querem juntar à Assesta” e de leitores, procurando informação sobre a instituição literária.
Um outro ponto positivo incontornável do evento, sublinhado por este responsável, é a sua previsível contribuição para espoletar hábitos de leitura nos mais novos e relembrar aos adultos o prazer de ler: “A literatura é como uma planta num jardim, se não for regada murcha e morre – as feiras do livro são regas literárias para todas as idades”.
O impacto do evento
Sendo que a Feira do Livro tem o seu palco no centro histórico de Beja, numa das artérias pedonais centrais da cidade, o “Diário do Alentejo” falou com duas responsáveis comerciais com lojas abertas na zona. Para Susana Maldonado, que valoriza como comercialmente benéfico ”qualquer tipo de animação e eventos culturais” ali desenvolvidos, a expetativa da presença “de bejenses e de pessoas de fora” a visitar a cidade, “de entrarem nas lojas, de frequentarem a restauração e a hotelaria”, é sempre “muito boa”. Também, a abertura, ao longo destes quatro dias, de lojas que se encontram fechadas e que servirão de palco aos vários espaços expositivos e de interatividade da feira, permite-lhe, para além de lhe fazer recordar a outrora pujança comercial da área, acalentar a confiança em dias melhores. “Nós sabemos que os tempos são outros, mas tenho a esperança que as ‘portas de Mértola’ e todas as zonas envolventes voltem a ter o movimento que já tiveram. Mas para isso é preciso que haja um gabinete de apoio que permita inverter a degradação de grande parte dos edifícios da zona histórica, pois se existirem prédios disponíveis, se se fixarem aqui pessoas, vão abrir lojas. Toda esta zona deve ser pensada de uma forma diferente, porque se deixar de existir comércio tradicional, acaba a essência do centro de Beja. E isso será muito triste”, expõe.
Também Sandra Raposo considera “bastante importante”, para o comércio, a realização da Feira do Livro de Beja, pela capacidade do evento dinamizar o centro da cidade, que, no seu entender, se encontra desvalorizado – “deixaram de dar a importância devida ao centro da cidade, muitas lojas fecharam e, sendo assim, as pessoas afastam-se daqui”. Atraindo um público etário transversal, da “infância à terceira idade”, a lojista considera que esta é mais uma oportunidade, para relembrar aos bejenses a importância da fruição e valorização deste local, “fundamental para que Beja seja uma cidade com mais vida”.