Joana Rodeia 40 anos, natural de Beja
Licenciada em Engenharia Zootécnica pela Universidade de Évora, onde, atualmente, frequenta o mestrado integrado em Medicina Veterinária. É técnica superior de gestão do património da EDIA – Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva. Com 25 anos de experiência como caçadora, amante da caça menor e maior, privilegiou, desde sempre, a vida no campo e a proximidade à natureza. É gestora cinegética da herdade da Coitadinha, em Barrancos.
A direção do Clube Português de Monteiros (CPM) atribuiu o seu prémio anual “João I – Dr. António Salgado” para “monteiro do ano” a Joana Rodeia, “caçadora, monteira, conservacionista e responsável cinegética”. Os prémios serão entregues, no dia 20 de setembro, na Tapada Nacional de Mafra.
Com que sentimento recebeu esta distinção?Com admiração, porque sempre achei que este tipo de reconhecimento só se alcança em idade mais avançada, numa fase da vida em que já se vivenciou de tudo na caça e que as histórias para contar são “mais do que muitas”. Por outro lado, foi com um grande sentimento de honra e gratidão que recebi tal distinção, pelo facto, sendo uma mulher caçadora e, sobretudo, amante da natureza, de ser reconhecida por fazer aquilo que mais gosto. Num mundo maioritariamente de homens, cuja forma de estar e, por vezes, de pensar, não recebe de bom grado tal igualdade de géneros, nunca existiu, no meu caso, qualquer impedimento para exercer a minha atividade cinegética, quer de forma lúdica, quer de forma profissional.
Considera que este galardão premeia, também, simbolicamente, as mulheres dedicadas, de forma profissional ou lúdica, à atividade cinegética? Sim. Considero que qualquer uma de nós, mulheres caçadoras e/ou gestoras cinegéticas, poderia ter este tipo de reconhecimento, a nível pessoal ou profissional. Somos capazes e competentes a desenvolver qualquer tipo de profissão associada à atividade cinegética. Somos cada vez mais no mundo da caça, vendo-se no terreno um maior número de senhoras a organizar caçadas, a gerir zonas de caça e a fazer parte de associações de caçadores.
Poderá esta sua distinção marcar um novo tempo, deixando a caça de ser entendida como uma atividade “para homens”?A mulher vai-se afirmando, naturalmente, no mundo da caça, quer pela sua presença como caçadora, quer pela sua competência na organização e gestão cinegética. De qualquer forma, o facto de sermos reconhecidas, por uma entidade prestigiada a nível nacional, é um marco importante na história da integração da mulher na caça. As mentalidades de homens e mulheres estão a mudar – os homens acham cada vez mais natural a presença da mulher caçadora e, por outro lado, as mulheres começam a priorizar os seus gostos e interesses, em detrimento de tudo aquilo que a sociedade lhes exige. Num futuro muito próximo não se notará que, outrora, fomos uma minoria.
Como antevê o futuro da atividade cinegética na região?Será certamente um desafio continuar a pisar terrenos onde ainda há caça. Será um desafio conservar e promover o desenvolvimento das espécies em habitats cada vez mais ocupados, numa área significativa da região, por culturas superintensivas. Será um desafio atrair investimento para as regiões, do interior, mais desfavorecidas. E, o mais importante, será um desafio sensibilizar as novas gerações para a realidade e para a importância da caça como prática sustentável. José Serrano