É entre espetáculos com os amigos, concertos no Coliseu dos Recreios e a participação do “The Voice Kids” que tem dividido o seu tempo nos últimos meses. Com uma forte ligação ao cancioneiro alentejano, é com amor e autenticidade que se dedica à música e que sobe a palco sem receios. O “Diário do Alentejo” foi conhecer a voz “doce” e “delicada” de Inês Gonçalves.
Texto | Ana Filipa Sousa de SousaFoto | Ricardo Zambujo
É de sorriso no rosto, característica que lhe é apontada com naturalidade por quem está à sua volta, que Inês Gonçalves se apresenta em qualquer lugar. Seja nas ruas de Ourique, local onde reside, ou nos grandes palcos do País, é conhecida pela sua espontaneidade, desenvoltura e leveza ao cantar.
Ao “Diário do Alentejo” (“DA”) conta que começou a ter contacto com a música aos três anos e que, na sua família, a avó Fátima e a bisavó Noémia sempre cantaram. Diz que nasceu em Portimão e que, por isso, só quando foi viver para a vila ouriquense começou a ter ligação ao cante alentejano.
“Comecei a ter aulas com o professor José Diogo Bento na creche, no terceiro [ano] tive aulas de cante alentejano também, e, no ano seguinte, entrei para o Grupo Coral Infantil do Concelho de Ourique no qual ainda participo”, revela.
Quem a rodeava, admite, dizia-lhe que a sua voz “era incrível, muito boa, doce [e] delicada” e incentivavam-na a “cantar mais”. “O Zé Diogo gostava muito de me ouvir e quis meter-me em tudo o que fosse para cantar e onde a minha voz aparecesse mais”, graceja.Depois de algumas aparições esporádicas em programas de televisão, a solo ou em grupo, Inês Gonçalves decidiu participar, em conjunto com o seu amigo Dário Parreira, no concurso televisivo “Got Talent”, na “RTP1”. “Tinha 10 ou 11 anos quando fiz o ‘Got Talent’ e foi inesquecível, porque fiz muito amigos. Foi uma experiência que amei e muito engraçada”, recorda.
O início de um sonho Por influência do seu professor José Diogo Bento conheceu o músico Buba Espinho, sem que fizesse “a mínima ideia”, num restaurante. “Fiquei chocada quando ele apareceu. Depois fui a um concerto dele, reparou em mim e começou a chamar-me para fazer coisas, [uma delas] para participar no videoclipe ´É tão grande o Alentejo’”, gravado em Beja, diz.
Essa experiência, além de “muito cansativa”, porque “foi desde a hora de almoço até à noite”, foi, segundo Inês Gonçalves, muito gratificante e permitiu que a jovem cantora pudesse aprender “com 60 pessoas” de idades e características musicais diferentes.
Ainda assim, por ser “a sua maior crítica”, como a mãe Rita Guerreiro a apelida, diz que estava “um bocadinho sem voz” e que “podia ter feito melhor” o seu solo. “Eu não gostei muito da minha parte. Não era uma moda que eu conhecesse bem e foram muitas horas e muito trabalho, [mas] até rimos muito”, confessa.
Apesar da tenra idade, daí em diante começou a acompanhar o músico bejense nos seus concertos, tendo, inclusivamente, participado nos dois espetáculos esgotados no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.
“Sinto-me muito orgulhosa de mim mesma. Sinto que estou a realizar o meu sonho, que é estar a cantar com famosos e estar assim neste topo. É incrível”, reconhece a sorrir.
Neste ano, enquanto procurava sentir-se realizada no mundo da música, decidiu apostar noutro programa televisivo, também na “RTP1”, para reviver e colocar-se novamente à prova. “A minha mãe viu que estavam abertas as inscrições para o ‘The Voice Kids’ e como eu já lhe tinha dito em outras edições perguntou-me se queria participar”, conta.
A escolha do tema para as “provas cegas” não foi unanime. Da lista com “três ou quatro” músicas que preparou com a mãe para apresentar, aceitou colocar o “À Janela”, do cancioneiro alentejano, mas não era essa a sua primeira opção. “Fiquei um pouco triste porque queria o ‘Eu sei’ [da Sara Tavares], porque tem um significado grande para mim, mas a escolhida foi a outra”, diz. E acrescenta: “Quando a comecei a cantar senti que tinha de ser mesmo aquela [música], porque é doce”.
No primeiro dia de competição Inês Gonçalves admite que “estava super confiante” e com a certeza que “uma ou duas cadeiras” seriam viradas e, consequentemente, seria escolhida para participar. Apesar da segurança, quando “começou o silêncio” no estúdio o nervosismo apareceu por breves instantes. “Fiquei um bocadinho nervosa, mas estava ok, [mas] quando [os mentores] viraram [as cadeiras] fiquei ainda mais. Depois houve aquele erro em que, como a minha garganta estava seca, as cordas [vocais] pegaram-se e notou-se durante a atuação e fiquei com a cara sempre em baixo até ao alto”, revive.
Com as quatro cadeiras viradas, a jovem conta que não hesitou na escolha do seu mentor. “Eu já tinha uma ideia, como já conheço o [Miguel] Cristovinho, por causa dos concertos do Buba [Espinho] e do videoclipe e ele até conhece a minha voz...”.
Um futuro sorridente Do seu percurso breve, mas recheado de grandes momentos, como atuações e encontros com artistas conceituados da música portuguesa, como Bárbara Tinoco, António Zambujo, Vitorino Salomé ou Luís Trigacheiro, a jovem sente orgulho do que conseguiu conquistar até aos dias de hoje. “Sinto-me muito orgulhosa de tudo”, refere, timidamente.
Com 12 anos, Inês Gonçalves mantém os pés assentes na terra. Não descura, para já, a possibilidade de trabalhar na música, mas está a conhecer melhor “o mundo das profissões” e tem em mente algumas áreas, como nutrição, veterinária, moda ou teatro.
Sem pensar a longo curso, a jovem está agora focada na final do “The Voice Kids”, transmitida em direto no próximo domingo, dia 13. “Vou continuar a fazer o que gosto e se não ganhar não vou desistir, porque este foi um programa que amei e no qual fiz muitos amigos”, conclui.