Diário do Alentejo

Politécnico: Entrevista a Aldo Passarinho, candidato à presidência do Instituto Politécnico de Beja

01 de junho 2025 - 08:00
Foto | Ricardo ZambujoFoto | Ricardo Zambujo

Aldo Passarinho, de 56 anos, professor do departamento de Artes, Humanidades e Desporto do Instituto Politécnico de Beja (IPBeja), anunciou, em fevereiro passado, a intenção de se candidatar à presidência da instituição. Em entrevista exclusiva ao “Diário do Alentejo”, analisa a situação atual do politécnico, apresenta a sua visão para o mesmo e qual o papel que deve ter na região.

 

Texto Marco Monteiro Cândido | Fotos Ricardo Zambujo

 

Em fevereiro apresentou um projeto de programa de ação com vista à sua candidatura à presidência do IPBeja. O que é que motivou essa decisão?

A motivação que me levou a apresentar esta candidatura acho que está muito relacionada com o princípio que eu tenho, que é honrar o passado do instituto e construir um futuro. Digamos que foi, e é, essa a minha motivação. Muitos participaram na construção daquilo que nós temos hoje na cidade de Beja, nos edifícios que são as quatro escolas que acompanham o instituto, mas não só. Também o conjunto de residências que servem e que têm servido nos últimos anos o instituto e que permitiram que o mesmo crescesse nos momentos em que foi possível crescer, que contivesse o decréscimo de alunos, durante alguns períodos em que de facto o objetivo era conter a diminuição dos alunos, associada a questões demográficas. Há aqui um legado que nos foi deixado, nomeadamente, pelo professor Mariano Feio, que expande aquilo que é este campus que temos aqui na região. Isso são vetores de desenvolvimento que hoje o instituto tem e que são fruto desse passado de vários presidentes, todos eles com diferentes características, mas todos eles muito empenhados. E é isso: honrar o passado e, claro, construir um projeto de futuro. Alguém como eu, que tenho uma ligação muito próxima com o instituto e que participei nessa construção, pretendo participar naquilo que é a construção de um futuro para o instituto e acredito que tenho ideias com a minha equipa para o fazer.

 

Nesse comunicado de fevereiro, a certa altura diz que o move “a determinação e a responsabilidade de construir um projeto com todos e para todos”. Acrescenta, também, que “os desafios serão igualmente oportunidades” e que juntará “à determinação, e ambição institucional”, “sensibilidade”, “bom senso”, “capacidade de comunicação e espaço para o pensamento crítico onde cada um se reveja no todo”. E, continua: “Onde a empatia e a inclusão estejam presentes no momento da decisão”, de forma a “alcançar níveis superiores de relação institucional com base numa postura democrática e ética”. O que é que está aqui subjacente?

Penso que está uma coisa muito simples. Que representasse uma coisa em que acredito: que todos nós nos devemos pautar por princípios dos quais não devemos abdicar. Tenho esses princípios que são os que estão nesse comunicado e os quais desejo para a instituição onde trabalho todos os dias e invisto o meu tempo. Subjacente a esse comunicado estão esses princípios de ética, de afeto, de considerar o outro, e da construção de uma instituição como o IPBeja, com relevância para a região. E tem de ser feito com todos. Nunca nos podemos esquecer desse honrar o passado, que é uma das coisas que está muito presente, e de construir o futuro. O futuro tem de ser construído com todos.

 

Volto a insistir, e vou ser o mais direto possível: considera que isso não tem acontecido com a atual presidência do IPBeja? Parece-me que está aqui uma crítica algo velada às circunstâncias deste mandato…

Percebo a pergunta, mas penso que temos de pensar no futuro e penso que o IPBeja, neste momento, precisa de tranquilidade e precisa de pensamento crítico…

 

E isso não tem acontecido?

Não sei se não tem acontecido, mas penso que é necessário expandir esse pensamento crítico e assumi-lo como algo construtivo que nos leva mais além.

 

Então, nesse seguimento, que avaliação é que faz, como candidato, desta presidência do IPBeja, cujo mandato termina no fim do ano?

Penso que esta presidência, à semelhança de anteriores, está a lidar com todo um contexto legal, societal e, com certeza, que o resultado do seu trabalho resulta desses contextos. Saímos de uma pandemia, estamos a beneficiar de um PRR [Plano de Recuperação e Resiliência], mas também, de facto, estamos perante uma presidência com ideias muito próprias sobre aquilo que é uma instituição de ensino superior. Pessoalmente, preconizo uma outra perspetiva, em que não nos podemos esquecer nunca do tal legado em que temos de honrar o passado e, nesse aspeto, há uma coisa fundamental que é a nossa estrutura estatutária, porque o instituto tem uns estatutos, há toda uma regulamentação que nos confere obrigações, mas também nos confere direitos, e penso que, quando falo em direitos, estamos a falar de direitos que estão associados àquilo que é a nossa missão, e que são direitos para os nossos estudantes, para os nossos investigadores, para os nossos não-docentes, para os docentes e para a própria relação com a comunidade. Tudo isto é alicerçado naquilo que é um documento estruturante para nós, os estatutos e toda a regulamentação que decorre daí. Acredito que devemos olhar para aquilo que é esse constructo, numa lógica de contribuir para o desenvolvimento da região, mas contribuir também para a defesa daquilo que são os interesses de cada um dos membros da nossa comunidade académica.

 

Como é que tem olhado para algumas questões que têm vindo a público sobre o IPBeja nos últimos dois, três anos? A demissão das direções das quatro escolas, a abertura dos concursos de promoção a que só poderiam concorrer, alegadamente, os vice-presidentes, todas as atribulações na eleição do conselho geral, com a questão da representação da Escola Superior de Tecnologia e Gestão…

Diria que olho com preocupação e com sentido de dever e de responsabilidade, perante aquilo que para mim é fundamental no meio de isto tudo: o serviço público. E o IPBeja é uma instituição pública. Nessa perspetiva, penso que deve existir muita transparência naquilo que é a nossa atuação, quer na minha como docente, quer na minha como dirigente, e tenho mais de 11 anos como dirigente nesta instituição. Sempre prezei muito aquilo que é a boa informação, a transparência, a clareza e, em relação às questões que está a colocar, penso exatamente a mesma coisa. Portanto, em cada momento, devemos traçar as tais linhas, os tais limites, que têm que ver com os nossos princípios, tendo sempre em conta aquilo que são as pessoas e esse princípio de servidores públicos. Encaro essas notícias com preocupação, com sentido de responsabilidade, porque temos de trazer alguma tranquilidade e essa transparência ao instituto. Os órgãos têm de funcionar. Portanto, há aqui uma questão que eu penso que é central até na resposta e que responde diretamente sem qualquer tipo de cautela: nós temos de deixar os órgãos estatutários funcionarem e, em primeiro lugar, claro, o conselho geral. Não só, mas em primeiro lugar o conselho geral e, depois, todos os órgãos que vêm por aí abaixo, que são esses que nos garantem a estrutura.

 

Como encara as possíveis mudanças no Regime Jurídico das Instituições de Ensino, nomeadamente, a hipotética alteração do mandato da presidência de quatro para seis anos (não renováveis), o próprio processo eleitoral para eleição do presidente do politécnico, em que será quase por cotas em termos de direito de voto entre o pessoal docente, alunos, antigos alunos e pessoal não-docente, e, depois, esta aproximação entre o ensino universitário e o politécnico?

Tivemos contacto com aquilo que foi a proposta do Governo, em que, de facto, se colocou essa hipótese de a duração do mandato ser mais longo e não renovável. Não sei se irá ficar assim ou não. O que tenho a dizer sobre isso é que sou a favor da limitação de mandatos. Isso é um princípio, para mim, fundamental e que eu sublinho. Relativamente à questão da participação, também concordo, em absoluto, com o alargamento que está previsto, e que se vai ouvindo nas propostas, por exemplo, aos antigos alunos. Considero, também, e acho interessante, que o corpo que constitui o conselho geral possa ser mais alargado e com maior representatividade, por exemplo, dos não-docentes, que, na atualidade, têm pouca representatividade. Penso que essa representatividade devia ser maior e tal e qual como dos estudantes. Os estudantes são um pilar fundamental naquilo que é a construção de uma instituição de ensino superior. E a participação democrática dos estudantes nestes órgãos deve ser ampliada tanto quanto possível. Portanto, vejo com muito bons olhos que a participação dos não-docentes seja ampliada, assim como dos antigos alunos e dos estudantes.

 

Mas, não haverá algum desequilíbrio? O que estará em cima da mesa é que os votos dos estudantes contarão 20 por cento, os dos antigos estudantes, 15 por cento, e os dos técnicos e administrativos das instituições, 10 por cento. Não haverá aqui um desequilíbrio, com, por exemplo, os técnicos e administrativos das instituições terem só 10 por cento e os antigos alunos terem 15?

Sem querer concretizar em valores percentuais, a estrutura do instituto está muito suportada por aquilo que é o trabalho dos técnicos e, claramente, eles devem ter uma participação ativa naquilo que é a eleição do presidente, que se traduza numa outra divisão dessas percentagens. Mas os antigos alunos também. Os antigos alunos também são um ativo que o instituto tem, como todas as instituições de ensino superior, e temos de contar mais com eles, como uma voz ativa na construção da instituição.

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E no que diz respeito à aproximação do ensino politécnico ao universitário? Não será uma espécie de “presente envenenado”?

Penso que não, e que é necessário vermos isto num contexto mais amplo. Nós temos de pensar na resposta a partir do contexto onde estamos. O facto de que temos aqui uma instituição, em primeiro lugar, de ensino superior, seja ele politécnico ou de ensino superior universitário. O que é verdade é que estamos próximos das comunidades. Depois, numa outra perspetiva um pouco mais ampla, a nível nacional, estamos novamente numa rede de proximidade. A questão da designação para universidade politécnica tem subjacente uma outra preocupação, e um outro princípio, nomeadamente, ao nível da internacionalização. E, como é sabido, neste momento, naquilo que é a nossa comunicação enquanto instituição de ensino superior ao nível da Europa, podemos usar a designação de universidade politécnica. Isso já está consignado e podemos fazê-lo. E penso que temos de olhar nesta perspetiva, ou seja, em primeiro lugar, de facto, a designação permite-nos um diálogo com parceiros, a nível internacional, de igual para igual. Por outro lado, e isso esteve subjacente a essa proposta, também ajuda a combater um bocadinho aquilo que era um suposto estigma, que eu não sinto, daquilo que era um ensino superior politécnico. Será que não vamos estar a fazer a mesma coisa que o ensino universitário? Ou seja, qual é a questão da diferenciação? Penso que vamos continuar a manter, digamos, um princípio, que é o que subjaz a isto tudo, que é a qualidade. E isso é um risco, acho que é uma das preocupações, tem de ser um dos focos da atuação, em que nós temos de nos concentrar na qualidade, independentemente da designação que se venha a ter. E a designação também está associada a essa qualidade, a qualidade do trabalho. O facto de passarmos a universidade politécnica não é uma questão automática, ou seja, vai exigir algum trabalho, nomeadamente, ao nível de investigação e ao nível da oferta formativa, de doutoramentos. E isso é um caminho que tem de ser feito. É precisamente nesse caminho de qualidade do que fazemos aqui e que essa qualidade esteja associada a fatores diferenciadores. E, aí, o IPBeja tem uma grande vantagem sobre outras instituições, e que são os fatores diferenciadores que penso que nós podemos vir a oferecer no futuro, se nos organizarmos e se deixarmos que os órgãos funcionem. Eu não tenho receio, estou a colocar isto num outro patamar, que é o de diferenciação. Nós temos é que diferenciar o politécnico em função do sítio onde ele está.

 

Qual o papel que o IPBeja deve ter no território? Não só em termos de oferta formativa – como, por exemplo, na indústria mineira ou no potencial do setor aeronáutico –, mas também em relação ao futuro desta região?

Em primeiro lugar, há uma coisa que o IPBeja tem de ter, que é uma voz ativa, participativa e proactiva naquilo que são os interesses da região. Ou seja, não podemos estar fechados sobre nós próprios. No passado o instituto soube fazer isso: ser uma voz ativa na região e isso permitiu que se fosse edificando aquilo que é hoje. Como é que o instituto deve estar na região? Primeiro, penso que temos de começar a comunicar de outra forma e, para isso, precisamos de, digamos, estruturar aquilo que eu chamo de eixo de atuação. Nós associamos muito o IPBeja a uma instituição de educação e de formação, em termos daquilo que é a perceção que existe na comunidade. Claro que, a pouco e pouco, temos vindo a associar o IPBeja também à investigação. Mas, acima de tudo, nós pensamos no politécnico como uma instituição de formação. Em segundo, penso que temos de fazer um trabalho interno de organização, que se estrutura em termos daquilo que são áreas científicas de formação que têm fileiras de formação. Fileiras de formação começam nos TESP [cursos técnicos superiores profissionais], licenciaturas, mestrados e doutoramentos, em que também estamos a trabalhar. O que é que é preciso acrescentar aqui? É comunicar que nós também fazemos investigação, também desenvolvemos conhecimento, conhecimento aplicado àquilo que é o tecido da região. Então, à educação e formação temos de acrescentar a investigação. E isso é que vai trazer qualidade à própria formação. E isso é que vai trazer estudantes, vai trazer investigadores, vai posicionar o instituto de uma outra forma. A terceira questão é a da prestação de serviços à comunidade associada às atividades de extensão à mesma. Temos de ser uns atores que prestam esses serviços e diferenciar essa prestação de serviços – há áreas no instituto que já o fazem com muita qualidade. O instituto tem de se posicionar dessa forma, com esses três pilares. É claro que, para o conseguir, temos de ter uma outra coisa: instalações de qualidade – que temos –, mas que precisam de manutenção, para que a mantenham e ofereçam bem-estar a estudantes e docentes. Depois, por último, temos de ter uma relação com a indústria, com o setor agrícola, agroalimentar, com aquilo que são as forças vivas, com os atores da região. Temos de ter uma ligação muito próxima. E, aí, para responder à pergunta – ou seja, a questão do setor mineiro, do setor aeronáutico, aos desafios da própria agricultura e sustentabilidade – o instituto tem de se organizar em função destes cinco eixos e comunicar isso. Ao conseguirmos estabilizar com esta lógica de reforço das áreas científicas o que temos, então, podemos avançar para novas áreas. Quando estamos a falar de alguns desses setores vamos ter de montar os pilares para novas áreas científicas, e, aí, sim, é o meu desejo, estarmos abertos, trabalharmos com os atores, porque quando o fazemos temos muito sucesso. Se tivermos a casa bem organizada desta forma, com esta lógica, do reforço das áreas científicas, conseguimos avançar para mais.

 

A comunidade tem essa perceção de que o IPBeja, no que diz respeito à oferta formativa, poderia ter uma maior ligação com a região. Será apenas um problema de comunicação?

Aí não é uma questão de comunicação. Eu percebo e é uma questão que me preocupa, e admito isso. Há áreas como a questão do setor mineiro, a questão da aeronáutica, a própria logística, e mesmo dentro daquilo que são os setores agrícolas, em que admito que possa existir essa perceção. Há áreas em que, de facto, não estamos ainda a atuar como podíamos, embora haja algumas aproximações ao nível dos TESP, mas, claramente, o IPBeja vai ter de estar muito dialogante e muito atento e julgo que será possível fazê-lo nos próximos anos. Penso que passa por auscultar, de facto, e trabalhar com as entidades que estão associadas a esses setores. Penso que passa muito por aí.

 

E de caminho, porque isso é o que mantém vivo este organismo, como continuar a cativar a vinda de mais alunos? Também passa por esta questão da oferta formativa…

Penso que a captação de estudantes, de novos estudantes, passa, de facto, por fazer a tal ligação entre a formação, a investigação, a prestação de serviços à comunidade e a relação com as empresas. E é uma coisa que temos feito, mas que pode ser incrementada. Quando nós pensamos, por exemplo, na área do setor agrícola, ou agroalimentar, ou ambiental, para captarmos estudantes, não podemos só promover aquilo que é a oferta formativa em si. Temos de promover a investigação que é feita associada a essa oferta formativa. E acho que é fundamental promover as empresas, as entidades com quem trabalhamos. Para cativar um aluno, penso que, neste momento, é fundamental que a qualidade da oferta formativa tenha estes alicerces, para que um candidato, um futuro aluno, perspetive trabalhar numa das empresas com quem nós também trabalhamos. E, claro, o instituto, é uma realidade, vai ter aqui fatores diferenciadores como a questão do alojamento. E há aqui fatores que também acabaram por nos ajudar de alguma forma, mas que vamos ter de continuar a trabalhar de forma proativa. Um fator que nos ajudou imenso, por exemplo, foi a questão do passe ferroviário, a questão dos transportes. Hoje a região está melhor servida, mas temos de continuar a trabalhar e é preciso que o instituto também seja, no futuro, uma voz ativa no sentido da melhoria das acessibilidades – que têm vindo a ser melhoradas, não podemos ignorar –, e isso contribui para atrair estudantes, investigadores e para nos posicionarmos de uma outra forma na região.

 

De uma forma muito simples, nesta candidatura parece-me que podemos apontar aqui dois objetivos fundamentais: uma organização interna, uma otimização, mas também uma comunicação, um esclarecimento melhor a quem está fora da comunidade académica, do que é o IPBeja e o que oferece. Em suma, será isto?

Em traços muito gerais, é isso. É acreditar muito na instituição, muito nas pessoas. É, de facto, haver um alinhamento entre aquilo que é a forma como nós nos apresentamos, comunicamos e aquilo que é a organização interna. E essa consolidação da organização ser muito estruturada em torno daquilo que são as áreas de formação, aquelas que temos e aquelas que podemos vir a ter. E numa lógica muito integrada, mas muito alinhada com essa comunicação. Para que haja um bom entendimento interno daquilo que nós somos e para que possamos comunicar na forma como nos apresentamos e na forma como nos procuram. Estamos a falar a nível regional, de Baixo Alentejo, mas também a nível nacional e internacional.

 

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“É uma coisa que eu tenho muito interiorizado, que é o funcionamento democrático dos órgãos e o respeito por eles”

 

Foi pró-presidente do IPBeja até ao início de 2024. Por que é que saiu, por que é que deixou a atual equipa?

Bem, para responder a essa pergunta, tenho de dizer que, neste momento, tenho mais de 11 anos como pró-presidente para a imagem e comunicação do IPBeja. Fui pró-presidente do anterior presidente [Vito Carioca], em dois mandatos, mais de oito anos. Há determinado tipo de princípios que eu tenho e que em momento algum permito que sejam ultrapassados. Princípios de relação, de respeito e de escuta do outro. Digamos que a minha saída esteve associada a isso. Sem particularizar, mas tem a ver com os meus próprios limites e aquilo que são os meus princípios éticos e, acima de tudo, com a minha forma de estar como servidor público. Com muito respeito por aquilo que é o funcionamento dos órgãos e os processos de escuta das pessoas no geral. Nós temos sempre muitos desafios, e eu nunca quis ser fator de instabilidade, mas, digamos, que foi por princípios que eu nunca abdiquei, nem nunca abdicarei no futuro.

 

Podemos inferir princípios democráticos, também?

Eu diria, por respeito pelo funcionamento dos órgãos democráticos, que sim. E, lá está, como instituição pública, temos de ter isso sempre muito presente. E é uma coisa que eu tenho muito interiorizado, que é o funcionamento democrático dos órgãos e o respeito por eles. E os órgãos são compostos por pessoas. Digamos que as minhas linhas, os meus limites, estão a esse nível. A partir de um determinado momento, quando os direitos das pessoas são colocados em causa, temos de traçar as nossas linhas. Tive a oportunidade de privar com vários presidentes ao longo do meu percurso de mais de 30 anos no instituto. Então, tenho muito interiorizado o funcionamento institucional do IPBeja. E os meus limites têm a ver com esse meu conhecimento, essa história.

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