Diário do Alentejo

Vinho: Candidatura recebeu 43 votos, vencendo as regiões dos Açores e Algarve

30 de maio 2025 - 08:00
Foto | Ricardo ZambujoFoto | Ricardo Zambujo

Mestria, empreendedorismo, sustentabilidade, hospitalidade, cultura e paisagem. Estas foram as palavras- -chaves que permitiram que o Baixo Alentejo vencesse, no passado dia 23, a candidatura para “Cidade Europeia do Vinho” em 2026. A distinção tem um “significado ambicioso” e assume-se como “o reconhecimento” da qualidade dos vinhos existentes na região.

 

Texto  Ana Filipa Sousa de Sousa 

 

O terroir dos vinhos baixo-alentejanos, juntamente com a arte do saber fazer, o número de produtores, a diversidade de castas e a densidade de espaços de enologia e de enoturismo são o que diferenciam a região do Baixo Alentejo no setor vinícola. Quem o diz é António Bota, presidente da Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (Cimbal), uma das promotoras da candidatura do território a “Cidade Europeia do Vinho” em 2026, a par da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo.

“Temos uma das melhores ofertas do mundo em termos daquilo que a natureza nos dá [e] daquilo que são os produtos endógenos da nossa região. Há um aproveitamento bastante significativo e há uma constante melhoria daquilo que é a nossa qualidade no setor”, refere ao “Diário do Alentejo”

Na proposta apresentada, e que esteve a votação no passado dia 23 em assembleia intermunicipal extraordinária da Associação de Municípios Portugueses do Vinho (AMPV), no Alandroal, foram realçados os 537 viticultores que exploram os 5880 hectares de vinha, os 65 produtores de vinho que produzem cerca de 25 milhões de litros por ano, os 167 membros do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA) e, destes, os 10 que têm uma certificação de “produção sustentável”, assim como o vínculo secular que existe nas famílias, com um em cada quatro agregados familiares no Baixo Alentejo a ter ligação a atividades do setor.

A candidatura, que foi exibida em diversos eventos vínicos e turísticos nos últimos meses, assentou no facto de a região ser “a única do País que tem uma estratégia de valorização económica e regional para o setor do vinho e do turismo”, através do Programa de Valorização Económica de Recursos Endógenos (Provere) – Enoturismo do Alentejo e Ribatejo (Enotur), com projetos em rede e planos pioneiros de certificação de adegas. Além disso, fundamentou-se também por o território ser “a geografia e o espaço por excelência do cante alentejano” e pelo vinho de talha, “um dos pilares fundamentais da candidatura”, estar “inscrito na Lista Nacional do Inventário” e ser “candidato a Património Cultural Imaterial da Humanidade”.

“Estamos a consumir vinho do Baixo Alentejo e sabemos que ele é bom, mas temos de conseguir mandar a mensagem de marketing lá para fora de que ele é, reconhecidamente, bom, não só porque eu digo, mas porque muita gente o diz e porque tem um selo de sustentabilidade que garante que estamos ao mesmo nível da França, Espanha, Itália e de países que pensávamos que estavam melhor do que nós nestas andanças”, afirma o autarca.

Em competição estavam também duas candidaturas conjuntas de oito municípios dos Açores – Madalena, Lajes do Pico, São Roque, Angra do Heroísmo, Praia da Vitória, Santa Cruz da Graciosa, Vila do Porto e Horta – e seis do Algarve – Albufeira, Lagoa, Lagos, Monchique, Portimão e São Brás de Alportel.

Em comunicado publicado no site oficial da AMPV, José Arruada, secretário-geral da entidade, garantiu que “as três candidaturas eram muito fortes” e “qualquer uma delas poderia ganhar”, dado que “são territórios que apresentam características muito distintas, com grandes mais-valias no setor dos vinhos e do enoturismo”.

Segundo António Bota, a região do Baixo Alentejo “foi a mais representativa em termos de votos”, com 43, deixando para trás nesta escolha os Açores, com 16, e o Algarve, com 11.

“No total das três candidaturas qualquer uma delas podia ter ganho. O nosso território é maior, é mais abrangente e diversificado e nós estávamos, de certa maneira, à espera deste título, lutámos por ele e apresentámos fundamentos e argumentos para que fosse nosso”, adianta o autarca.

Na referida nota, o presidente da AMPV, Luís Encarnação, fez notar, também, “a presença de mais de 70 municípios” na votação e, consequentemente, “o interesse e a importância que este projeto da ‘Cidade Europeia do Vinho’ tem para a dinamização e promoção dos territórios e como o vinho tem a capacidade de agregar as regiões nestas candidaturas conjuntas”.

 

O sucesso do futuro

 

Para o presidente da Cimbal, este rótulo agora alcançado surge de forma natural, uma vez que a região tem “muitos vinhos premiados” e, portanto, “não é uma surpresa que o Baixo Alentejo tenha este reconhecimento”, porque “esta distinção vai ao encontro das géneses dos baixo-alentejanos, do trabalho de todos aqueles que produzem, que vendem, que promovem” e que investem nos setores.

Alavancado neste selo, o território apostará agora em seis áreas de interesse, nomeadamente, nas artes, no património, na rua, na saúde, na ciência e no futebol. Desta forma, no que diz respeito aos eventos âncoras, destacam-se o Wine Music Series, Moura Wine, Vinhos no Castelo, Vidigueira Vinho, Vinipax, Vitifrades, Vinho na Vila, Vin & Cultura, Feira da Vinha e do Vinho, Talhas à Mesa, Festival Internacional do Vinho e Saúde no Baixo Alentejo, Congresso Internacional e Estudos sobre o Impacto das Alterações Climáticas e Futebol na Vinha – Encontro com Antigos Craques e Produtores de Vinho.

Relativamente ao futuro, António Bota acredita que esta distinção abrirá “portas para outros mercados” e fará com que “os nossos produtores possam escoar os seus vinhos e possam produzir e vender os seus vinhos para mercados mais diversificados”.

“Cada vez mais os selos de qualidade e sustentabilidade são valorizados nos mercados exteriores de Portugal. Quando se entra nos mercados de Espanha, França, Itália ou nos Estados Unidos da América a primeira coisa que perguntam é se [o produto] tem qualidade e reconhecimento de tal, ao nível da sustentabilidade do meio ambiente. A verdade é que o nosso Baixo Alentejo tinha um bocadinho de tudo isso, mas faltava este selo”, adianta. Acrescentando, de seguida, que, “naturalmente, que sem este título não deixava de existir qualidade [nos nossos vinhos], mas não tínhamos nada para mostrar que essa qualidade estava reconhecida”.

Uma semana depois de terem sido conhecidos os resultados, o presidente da Cimbal admite que a distinção tem “um significado ambicioso para quem vive, ama e vibra com o Baixo Alentejo”, relembrando que, neste momento, “só temos de nos orgulhar”.

“Nós fizemos a candidatura para 2026, mas é como Évora ser a ‘Capital Europeia da Cultura’ em 2027, não desaparece ao fim daquele ano. O trabalho que é feito prolonga-se e espalha-se nos anos seguintes, porque o conhecimento do produto fica cá e daqui em diante”, reforça.

A candidatura do Baixo Alentejo será apresentada no próximo dia 18 de junho no Parlamento Europeu, em Estrasburgo.

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