A propósito da recente apresentação, em Beja, da estratégia nacional “Água que une”, por parte da ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, e do ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, o “Diário do Alentejo” conversou com o presidente da Associação de Agricultores do Sul (ACOS), Rui Garrido, sobre a impressão com que ficou acerca do que está delineado para o Baixo Alentejo no âmbito deste plano e as medidas que consideraria importante englobar neste plano. O responsável da ACOS falou ainda sobre o comprometimento de algumas culturas na região face à pluviosidade decorrente no mês de março.
A ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, e o ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, apresentaram, recentemente, em Beja, a estratégia nacional “Água que une”. Com que impressão ficou acerca do que está delineado para o Baixo Alentejo no âmbito deste plano?
Registamos com agrado a previsão de construção de duas barragens a sul, no concelho de Mértola, nomeadamente, nas ribeiras de Terges e Cobres e de Carreiras. Mas, o objetivo da sua construção, parece, tem a ver com o acordo luso-espanhol recentemente celebrado, a fim de garantir caudais ecológicos. O que nós pretendemos, nunca iremos abdicar disso, é que a água dessas barragens possa, também, servir para a constituição de pequenos regadios de apoio à pecuária, especialmente, na região sul do Baixo Alentejo, onde as secas têm sido mais intensas. Um segundo aspeto que gostávamos de realçar tem a ver com a preocupação manifestada em aumentar a água do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva, quer pelo alteamento da barragem do Pedrogão (e eventualmente a de Alvito), quer pela ligação das bacias do Tejo e do Guadiana, a partir de Nisa.
Existe alguma medida que consideraria importante englobar neste plano?
Consideramos que o estudo de viabilidade deve começar já e não, conforme previsto, realizar-se entre 2030 e 2043. Teremos de ser mais ambiciosos, até porque terá de haver muita articulação entre a agricultura e o ambiente de forma a minimizar impactos e destruir “barreiras” que possam surgir. Só com mais água no sistema do Alqueva se poderão viabilizar todas as pretensões já aprovadas, assim como a interligação Alqueva/Mira, também equacionada nesta estratégia, por ser tão importante para a manutenção do regadio e da economia da região do concelho de Odemira.
Este mês de março poderá vir a ser o mais chuvoso dos últimos 20 anos, sobretudo, a sul. Compromete esta pluviosidade algumas culturas, na região, neste ano?
Obviamente, o balanço de tantos dias de chuva é positivo, pois as reservas hídricas, superficiais e subterrâneas, estão a ser parcial ou totalmente repostas. O arvoredo tem outro aspeto, a campanha de rega das culturas permanentes será provavelmente menor, e há erva/ /pastagens por todo o lado. Mas não há bela sem senão… Se pensarmos nas culturas de outono/inverno, particularmente, nos cereais, o panorama já não é o mesmo. As searas já estão amarelas, resultado de asfixia radicular e não se consegue entrar nas terras para adubar ou mondar. Neste setor em particular, haverá prejuízos assinaláveis. No que diz respeito ao olival e ao amendoal, pelas mesmas razões, os tratamentos estão atrasados, sendo expectável uma incidência grande de doenças. No amendoal, apesar de muita floração, poderemos vir a ter uma quebra significativa da produção, uma vez que muita chuva, vento e frio não são uma conjugação favorável ao bom vingamento dos frutos.
José Serrano