No verão de 1976 – um ano e meio depois da edição que hoje é notícia nesta crónica – milhares de jovens estudantes dos ensinos secundário e universitário das grandes cidades haveriam de ir pelo País fora, integrando brigadas de alfabetização, para ensinar as primeiras letras a quem não as conhecia.
Em poucos meses, o Movimento Alfa – assim se chamava – promoveu cursos de formação de alfabetizadores, segundo o método Paulo Freire, e, chegadas as férias, os jovens encaminharam-se para o campo, em particular, para o Alentejo, para trabalhar nas cooperativas e ensinar a ler e a escrever, aqueles que o quisessem, depois da jornada de trabalho.
Muito antes, na edição de 3 de fevereiro de 1974, o “Diário do Alentejo”, nas páginas centrais, dava conta de uma iniciativa de um grupo do Movimento Juvenil de Alvito que se propunha alfabetizar os seus vizinhos, à imagem e semelhança do que acontecia em todo o País.
“Esta campanha não só veio trazer o proveito àqueles que tanto desejavam ler e escrever (porque não podiam), mas também demonstrar a total aderência da juventude de Alvito ao Movimento das Forças Armadas, e o seu apoio para a consolidação da democracia em Portugal”, lia-se na notícia.
O texto explicava que o grupo se tinha preparado para levar a cabo esta missão. Em conjunto com o Sindicato dos Trabalhadores Agrícolas de Alvito, cuidaram de saber “quais e quantas pessoas eram analfabetas” e descobriram uma “grande quantidade de aderentes” interessados. Mesmo assim, foram “de casa em casa, de rua em rua” para que ninguém perdesse a oportunidade de aprender a ler e escrever.Na primeira reunião, trataram de analisar “os conhecimentos dos participantes, aqueles que eram completamente analfabetos e os que sabiam ler e escrever, mas com alguma dificuldade”, e dividiram-nos em dois grupos, para, por um lado, facilitar o ensinamento e “evitar degraus psicológicos entre eles. Ideia esta que teve ainda outro aspecto positivo: um forte interesse dos completamente analfabetos em desejar o mais depressa possível passar para o grupo superior”.
O repórter concluía que a “satisfação” entre o grupo era grande e esperava que o seu exemplo pudesse ser “um estímulo” para que mais jovens pudessem tomar a mesma atitude nesta “tão brilhante missão que lhe está ao seu alcance”, desejando que pudessem ser apoiados “por qualquer instituição, não só em recursos materiais, como em recursos financeiros e métodos de ensino a aplicar”.
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Na mesma edição, na informação da programação da radiotelevisão portuguesa – “I Programa” – lembrava-se que, entre as 14:00 e as 19:30 horas, seria apresentado o ciclo preparatório, o que permitia que, em muitos locais, os jovens continuassem a estudar depois de concluída a 4.ª classe.
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Na edição do dia seguinte, quarta-feira, na popular secção “Alentejo dia a dia”, noticiava-se que o Ministério da Educação e Cultura (MEC) iria suportar “as diversas despesas (água, luz, etc.) que o normal funcionamento do curso [liceal nocturno] venha a exigir. O pagamento aos professores será custeado pelos alunos que vierem a frequentar o curso (e, no momento, são já cerca de duzentos), através das respectivas inscrições”.
Aníbal Fernandes