Diário do Alentejo

Projeto de prevenção da depressão pós-parto será implementado na Ulsba

18 de novembro 2024 - 14:00
Intervenção psicológica pretende promover a saúde mental das mulheres e famílias no período perinatalFoto| Ricardo Zambujo/Arquivo

A Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo é uma das entidades que irá acolher um projeto-piloto, on line, de prevenção da depressão pós-parto, doença mental que, de acordo com o Serviço Nacional de Saúde, afeta em Portugal entre 10 a 15 por cento das parturientes, sobretudo, até quatro meses após o parto.

 

Texto | José Serrano

 

Foi recentemente apresentado, na Universidade de Coimbra, numa sessão que contou com a presença da ministra da Saúde, Ana Paula Martins, um projeto-piloto de prevenção à depressão pós-parto (DPP), denominado “Be a Mom”, que, numa primeira fase, vai chegar às unidades locais de saúde do Baixo Alentejo (Ulsba), Alto Ave, Gaia e Espinho e Viseu Dão-Lafões.

Os resultados do teste do programa, obtidos através de um “rigoroso ensaio clínico que envolveu mais de 1000 mulheres no período pós-parto”, em todo o País, demonstraram a sua eficácia “na redução dos sintomas de depressão e ansiedade das mulheres”, causados por DPP, refere Luzia Fialho, enfermeira especialista em Saúde Materna e Obstetrícia da Ulsba. Os resultados refletiram, também, uma “satisfação expressiva” por parte da “grande maioria” das intervenientes no teste, que consideraram “as informações e estratégias adquiridas nos módulos como importantes e úteis para o dia a dia”. Assim, revelando-se o projeto “uma solução eficaz para promoção da saúde mental no puerpério” – período pós-parto em que há a regressão das alterações físicas e psíquicas que ocorreram durante a gravidez –, tem a Ulsba “todo o interesse em fazer parte deste processo”, sublinha a enfermeira.

O principal objetivo do programa, iniciado na Ulsba em finais de setembro com a definição e formação de equipas multidisciplinares de saúde, pretende prevenir a depressão, neste período da vida da mulher, através de “uma intervenção psicológica, on line”, interativa e de auto-ajuda, permitindo, paralelamente, “que os casos sejam identificados precocemente, para que o tratamento comece o mais cedo possível”. Por conseguinte, a Ulsba terá no terreno uma equipa multidisciplinar nos cuidados de saúde hospitalares (Hospital José Joaquim Fernandes, Beja – serviços de Obstetrícia e de Psiquiatria) e nos cuidados de saúde primários – unidade de cuidados de saúde personalizados (UCSP) de Beja, UCSP de Moura, UCSP de Serpa e Unidade de Saúde Familiar Alfa Beja.

Durante a fase de implementação, a equipa da Ulsba pertencente ao projeto, a exemplo das outras três unidades locais de saúde “piloto”, contam, num processo contínuo de aprendizagem, com o acompanhamento de profissionais de saúde das entidades promotoras: Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamenta da Fa-culdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental, Fundação Calouste Gulbenkian e Institute For HealthCare Improvement.

O Serviço Nacional de Saúde (SNS), que classifica a DPP como “doença mental”, refere que, habitualmente, os sintomas da depressão pós-parto duram mais que duas semanas e se revelam através de: diminuição do interesse ou incapacidade para tarefas diárias; tristeza prolongada, irritabilidade e choro fácil; ansiedade e agitação; perturbações alimentares (aumento ou perda de peso); perturbações do sono (aumento ou diminuição do sono); sentimentos de culpa ou baixa autoestima; falta de memória e dificuldades de concentração; falta de energia e motivação e ideias de morte ou suicídio. Também, o “não estar feliz com a função materna”, o aparecimento de “alterações da relação com o parceiro” e o “afastamento social” são sinais “a ter em conta e a valorizar”, reforça Luzia Fialho, indicando como principal consequência da DPP “a alteração da relação da díade mãe-bebé”, comportando “um risco aumentado de abuso infantil, a interferência no sucesso da amamentação e a probabilidade da criança vir a desenvolver ansiedade”.

O SNS, esclarecendo que a DPP “pode surgir um pouco antes do parto e/ou durante todo o primeiro ano após o parto”, sendo, contudo, “mais frequente o seu início até quatro meses após o parto”, indica que a patologia afeta, no País, entre 10 e 15 por cento das mães. No distrito de Beja não existem “dados confirmados da percentagem de mulheres com risco de desenvolveram DPP”, sendo que este projeto permitirá, no futuro, “dar-nos a leitura” desses números, expõe Luzia Fialho.

Na Ulsba, “a utilização do programa pelas utentes” ainda não tem data prevista, estando neste momento a proceder-se à sua fase de “operacionalização”.

Comentários