O setor pecuário do Baixo Alentejo, particularmente, os rebanhos de ovinos, está a ser alvo do novo vírus da língua azul. Esta doença, transmitida por insetos provenientes do norte de África, encontra no nosso território, devido às mudanças climáticas, condições propícias para o seu desenvolvimento, mas não só: já existem registos em vários outros países da Europa. A consequência são “elevados prejuízos” e uma quebra significativa na produção. Perante este cenário, a Federação da Associação de Agricultores do Baixo Alentejo apela ao ministro da Agricultura apoio igual ao que os seus colegas europeus auferem dos seus governos.
Texto Aníbal Fernandes
Os serotipos do vírus da febre catarral ovina 1 e 4, popularmente conhecida como língua azul, já não eram novidade para os produtores portugueses, mas, neste ano, uma nova variante, a 3, veio baralhar as contas e a produção de ovinos, em todo o País, mas, particularmente, no Alentejo, região onde se encontra à volta de 60 por cento do total do efetivo nacional e que ronda os dois milhões de cabeças.
Nesta semana a Federação das Associações de Agricultores do Baixo Alentejo (Faaba) veio manifestar, em carta enviada ao ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, a sua “apreensão” por em Portugal, “apesar da gravidade da situação”, o Governo não ter manifestado, “até ao momento”, qualquer intenção de apoiar a produção a suportar estes prejuízos e custos acrescidos.
Os agricultores apelam para que “tendo em conta a relevância da ovinicultura na estruturação e na economia dos territórios, nomeadamente, nas zonas do interior, mais frágeis do ponto de vista social e económico, e o potencial destrutivo desta nova crise sanitária, parece-nos de elementar justiça, esperar, com brevidade”, por parte do Governo, “igual tratamento ao dos colegas espanhóis e franceses”.
Miguel Madeira, da direção da ACOS – Associação de Agricultores do Sul e veterinário coordenador do setor ovinicultor, explica ao “Diário do Alentejo” que este vírus “afeta essencialmente ovinos, mas também pode manifestar-se em bovinos e caprinos”, mas, nestes casos, sem grandes complicações.
“Trata-se de um pequeno inseto, na verdade uma pequena mosca, vinda do norte de África, sem grande capacidade de voo, mas que chegou aos nossos territórios, e até já a países do norte da Europa, devido aos ventos”, e que acabam de proliferar devido às condições criadas pelas alterações climáticas.
O aparecimento do novo serotipo não permitiu que a vacinação – tal como é normalmente feita para os serotipos 1 e 4 – fosse efetuada antes do período de risco que “se prolonga até finais de julho”. “Começamos agora, em efetivos não infetados, mas estamos a ser reativos”, refere.
No entanto, a vacinação “tem um custo muito elevado”, cerca de três euros cada, o que é um custo acrescido, a juntar a outros, dificilmente suportado pelos produtores. A possibilidade de pulverizar preventivamente os rebanhos com um produto preventivo “não é eficaz e cria outros problemas, nomeadamente, de ordem ambiental”.
A Faaba, no comunicado, revela que “os primeiros focos conhecidos desta variante surgiram com grande intensidade no Alentejo Central e rapidamente se alastraram aos territórios vizinhos. Atualmente, praticamente todo o Alentejo está confrontado com este problema”. Trata-se de uma doença de declaração obrigatória que, “quando confirmada na exploração, implica um impedimento da movimentação animal durante 60 dias, o que se revela muito penalizador do ponto de vista económico”.
Por esta razão, alerta, é de admitir que exista “uma clara subnotificação da doença, constatando-se que o número real de rebanhos afetados está muito longe de corresponder ao número de casos comunicados aos serviços veterinários oficiais”, mas as organizações de produtores “constatam que a situação é, na realidade, muito grave”.
A Faaba calcula “que os prejuízos causados à produção são muito consideráveis e decorrem da significativa mortalidade de ovinos, cuja taxa aumentou mais de 50 por cento face a período homólogo do ano passado, mas também do número elevado de animais doentes que deixam de produzir, dos abortos e dos custos elevados com os tratamentos médico-veterinários que têm que ser administrados a estes animais”.