A propósito da recente oficina “Pensar e Agir”, organizada pela Associação dos Moradores do Centro Histórico de Mértola (Amchm), o “Diário do Alentejo” conversou com o seu presidente, Jorge Pulido Valente, sobre as principais diretrizes/conclusões saídas deste encontro, os primordiais constrangimentos que se colocam aos moradores dos centros históricos de localidades com um considerável fluxo de turistas, tal como Mértola, assim como a sua opinião quanto aos centros históricos “pensados” para o acolhimento turístico, relegando para segundo plano as necessidades ou anseios dos seus moradores.
Texto | José Serrano
Organizada pela Associação dos Moradores do Centro Histórico de Mértola (Amchm), decorreu, recentemente, a primeira oficina “Pensar e Agir”. Quais as principais diretrizes/conclusões saídas deste encontro?
Podemos sintetizar as reflexões: É necessária discriminação positiva relativamente ao centro histórico e aos seus moradores, dado que estão sujeitos a deveres, regras e condicionamentos que não se aplicam noutras áreas do concelho e, por isso, devem ser compensados por não terem os mesmos direitos e oportunidades dos outros munícipes. Há que ter em conta que os proprietários e os moradores são os guardiões e os “fornecedores” de serviços patrimoniais e socioculturais deste ativo/atrativo turístico; é necessário um plano estratégico, que estabeleça as prioridades, as ações, os prazos e os custos da intervenção urgente, ao nível da rede de águas e esgotos, energia, iluminação, das telecomunicações, dos pavimentos, do ensombramento e sinalização. Esse planeamento deve ser feito ouvindo e envolvendo os moradores e acompanhado pela Amchm. É necessário um programa de animação sociocultural para o centro histórico, que envolva residentes e visitantes; há necessidade de mais atenção e carinho relativamente ao centro histórico, devendo ser criado um canal específico de comunicação com a autarquia, para que não surjam, constantemente, constrangimentos à vida do dia a dia; é desejável a criação de um imposto sobre os turistas, cuja receita reverta para melhoramentos do centro histórico.
De uma forma geral, quais os primordiais constrangimentos que se colocam aos moradores dos centros históricos de localidades com um considerável fluxo de turistas, tal como Mértola?
O principal constrangimento, no dia a dia, é o trânsito de não residentes, dado que não há fiscalização relativamente ao cumprimento do regulamento aprovado pela câmara. Em termos mais estruturais, o maior constrangimento tem a ver com as condicionantes e as exigências que se colocam ao nível de projetos e de obras de reabilitação e a falta de apoios por parte da autarquia.
Considera que os centros históricos estão, especialmente, “pensados” para o acolhimento turístico, relegando para segundo plano as necessidades ou anseios dos seus moradores?
Não há no centro histórico de Mértola conflito de interesses entre as necessidades e anseios dos moradores e os turistas, se excetuarmos a circulação e estacionamento abusivo de viaturas de não residentes.