Diário do Alentejo

“O aeroporto de Beja pode desempenhar um papel muito mais relevante”

04 de março 2024 - 11:00
Gonçalo Valente manifesta que o Governo tem ignorado investimentos estruturantes “num completo desprezo por toda esta região”
Foto | Ricardo ZambujoFoto | Ricardo Zambujo

O cabeça de lista da Aliança Democrática (AD) pelo círculo eleitoral de Beja pretende levar à Assembleia da República um conjunto de reivindicações dos agricultores da região, a exemplo da desburocratização da agricultura – nos acessos a apoios – e da defesa do incremento dos investimentos públicos no setor. No tema da mão de obra imigrante, presente no território, Gonçalo Valente considera urgente o combate “intenso à imigração ilegal e ao tráfico humano”. Relativamente à rede de acessos à cidade de Beja, o candidato manifesta ser “imperativo a resolução dos investimentos estruturantes” e o aumento da relevância do aeroporto de Beja. Na Saúde preconiza a ampliação do hospital de Beja e a tomada de medidas discriminatórias positivas capazes de atrair mais profissionais.

 

Gonçalo Valente 43 anos. Empresário agrícola. Presidente da distrital de Beja do PSD. Vereador, sem pelouros, na Câmara Municipal de Ourique. Natural de Ourique. Residente em Ourique

 

Quais as medidas que defende no sentido de apaziguar o diferendo entre o setor agrícola, no distrito de Beja, e o Governo?

Num momento em que o setor agrícola tem levantado a voz para pedir a atenção que não lhe tem sido dada pelo Governo, a AD tem vindo a reunir-se com associações e cooperativas de agricultores de vários concelhos. Urge reverter a extinção das direções regionais de Agricultura, que representavam uma ligação direta com os agricultores, assim como as Florestas devem voltar à alçada do Ministério da Agricultura. É de extrema importância trabalhar para uma reformulação do Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (Pepac), adaptando-o às especificidades de cada região. Há que desburocratizar a agricultura, pois é impensável a complexidade dos processos pelos quais os agricultores têm que passar para terem acesso aos apoios que lhes são devidos. Tudo farei para encontrar soluções mais ajustadas para os constrangimentos que a Rede Natura 2000 tem no desenvolvimento do setor em alguns concelhos do distrito. Defendemos o incremento dos investimentos públicos na agricultura, não só no aumento do perímetro de rega do Alqueva mas, igualmente, em toda a região, sendo de extrema importância aumentarmos a fiscalização da entrada de produtos de fora da União Europeia. Defendemos um planeamento hídrico nacional, que consiga trazer a água do Norte para o Sul, envolvendo o Alqueva, a única forma de a minimizar o impacto da seca e das alterações climáticas no distrito.

 

Muitos trabalhadores agrícolas imigrantes, na região, vivem em condições deploráveis e são vítimas de redes de tráfico humano. Quais as diligências que propõe para reverter estas situações?

Assistimos, nos últimos anos, a situações graves, que têm vindo a aumentar e que desde há muito este governo PS tem conhecimento e nada fez para as contrariar. Urge ampliar a segurança nos campos, pois temos denúncias de que nas últimas campanhas se assistiu a várias ocorrências que não se podem repetir. É urgente que exista um combate intenso à imigração ilegal e ao tráfico humano. Que haja maior controlo e se trabalhe no sentido de aplicar medidas que atraiam a imigração de indivíduos qualificados, para responder às necessidades demográficas e de mão de obra no nosso distrito, garantindo condições dignas para a sua prestação profissional e pessoal. Os agentes locais têm que se unir e criar um plano de intervenção urgente, no sentido de dar uma resposta ao problema grave que se instalou.

 

Tem vindo a sublinhar que a melhoria das ligações rodo e ferroviárias da região e a potenciação do aeroporto de Beja são duas das suas bandeiras. O que é imprescindível fazer para se passar da retórica política à execução?

É imperativa a resolução dos investimentos estruturantes nas acessibilidades à cidade de Beja. O Governo ignorou estes investimentos num completo desprezo por toda esta região. Temos de ser mais ambiciosos e passar à ação. A ferrovia tem que ser modernizada e eletrificada. As acessibilidades rodoviárias têm que ser reabilitadas e têm de ser terminados os investimentos que estão previstos, como é o caso do IP8. O aeroporto de Beja poderia desempenhar um papel muito mais relevante, não apenas como aeroporto de passageiros, mas também como centro de manutenção e reparação de aeronaves, servindo ainda como apoio à alavancagem da agroindústria. Vou lutar intensamente para que isso aconteça.

 

Quais as ideias que defende na área da Saúde para a região, principalmente, no que diz respeito à diminuição da resistência da vinda de médicos?

Dos investimentos na área da Saúde destaco as obras de ampliação do hospital distrital de Beja, com a criação de novas valências e reforço das existentes. Trabalharemos para que sejam criados incentivos que possam atrair profissionais de saúde, para que as nossas populações tenham serviços com a dignidade que merecem. Esta atratividade passa por oferecer melhores condições. É necessário que as autarquias se envolvam e que, em sintonia, criem propostas de ações concretas, que poderiam passar pela habitação, por isenção de pagamento de taxas de licenciamento para os profissionais que se quisessem fixar no nosso território, entre outras.

 

Qual a posição da AD em relação à regionalização e que modelo defende? Um Alentejo com base na Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) ou uma região para o Baixo Alentejo?

As CCDR centralizam, já, uma série de atribuições, que têm vindo a aumentar, substancialmente, com este governo socialista. A CCDR Alentejo tem a sua sede em Évora e, por isso, considero que o modelo que está atualmente pensado iria acentuar o esvaziamento de serviços e a incapacidade de intervenção no distrito de Beja. Mas é óbvio que considero que a regionalização pode facilitar uma gestão mais eficaz dos recursos do Alentejo. Defendo que a regionalização pode ser uma estratégia para promover um desenvolvimento mais equilibrado, sustentável e adaptado às características específicas de cada região. No entanto, considero fundamental que esse processo seja realizado de forma participativa, transparente e com foco nas verdadeiras necessidades e aspirações das comunidades.

 

“O Alentejo tem sido votado ao abandono pelo Governo PS”

Que medidas considera fundamentais serem tomadas para estancar e reverter o despovoamento da região?

O Alentejo tem sido votado ao abandono pelo Governo PS, que o tem esvaziado de serviços que centralizou nas zonas urbanas. Os investimentos ao nível das infraestruturas são extremamente relevantes, assim como é essencial investir em setores económicos diversificados, como o Turismo, a agricultura sustentável, a agroindústria, as energias renováveis e a tecnologia, garantindo um acesso confiável à Internet de alta velocidade, em toda a região, essencial para promover o empreendedorismo, facilitar o teletrabalho e atrair mais empresas. É importante a criação de mais oportunidades de emprego e apostar na melhoria da qualidade da educação, através do desenvolvimento de melhores programas e cursos de formação profissional e superior, mais centrados nos focos emergentes do nosso distrito.

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