Diário do Alentejo

“Tudo o que sai do montado tem a sua sazonalidade e isso rem que ser, cada vez mais, valorizado”

02 de março 2024 - 12:00
Três Perguntas a Ricardo Vieira, técnico da Associação de Defesa do Património de Mértola (ADPM)
Foto | D.R.Foto | D.R.

A propósito da premiação do projeto “Desenvolvimento sustentável do montado”, da responsabilidade da Associação de Defesa do Património de Mértola (ADPM), o “Diário do Alentejo” conversou com o técnico da ADPM Ricardo Vieira sobre quais os principais objetivos delineados por este projeto e que vantagens, para o território e proprietários, existem na preservação e valorização do montado, enquanto uma das imagens mais emblemáticas do Mediterrâneo, assim como a sua opinião quanto à possível negligência que acontece na conservação do mesmo.

 

Texto | José Serrano

 

O projeto “Desenvolvimento sustentável do montado”, da responsabilidade da ADPM, foi galardoado com um dos prémios AGIR, no âmbito da política de envolvimento com a comunidade e inovação social da REN. Quais os principais objetivos delineados por este projeto?

O grande objetivo deste projeto é a transferência de conhecimento. Nos últimos anos, a ADPM tem trabalhado no reconhecimento e na proteção do montado. Através de um conjunto de parcerias, tem sido possível diagnosticar e implementar boas práticas para a gestão do montado. Em diversos projetos, temos tido a oportunidade de aprimorar diferentes técnicas e, hoje, o nosso objetivo é transmitir conhecimento a novos agricultores, técnicos e gestores. Por outro lado, devido a diversos fatores, temos um montado com presença de doenças – assim, numa parceria com a Universidade de Évora/MED – Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento, iremos promover mais uma edição da formação “Sanidade do montado”.

 

Considera que a conservação do montado, habitat classificado e protegido pela União Europeia, tem sido negligenciada no Alentejo?

Por norma, as práticas adotadas pelos agricultores vão um pouco em linha com os apoios que estão disponíveis e, neste momento, está a crescer uma consciencialização para a conservação do montado. No fundo, o agricultor programa a sua exploração conforme os apoios, que são uma ajuda muito grande, em diversas situações. A reprogramação de políticas com base em demonstração de boas práticas é um caminho a seguir.

Quais as grandes vantagens, para o território, para os proprietários, do incremento da preservação e valorização do montado, uma das paisagens mais emblemáticas do Mediterrâneo?

Na primeira instância, é a conservação de um sistema que abarca inúmeros recursos endógenos, como os animais, os frutos, flores, etc… Tudo o que sai do montado tem a sua sazonalidade e isso tem que ser, cada vez mais, valorizado. Por outro lado, quem gere os montados não os gere sozinho, são precisas pessoas para ajudar na dinâmica do território. Sem isto, temos zonas mais suscetíveis ao fogo. Do ponto de vista do turismo, nada melhor do que a promoção de locais à sombra de um sobreiro, para que cada visitante contemple as paisagens que são cuidadas pelos agricultores, todos os dias.

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