A comissão técnica independente (CTI) para o novo aeroporto de Lisboa aponta Beja como alternativa “de curto prazo” para aliviar o movimento no aeroporto Humberto Delgado (AHD), em Lisboa. A sugestão consta de um relatório conhecido nesta semana e que propõe, ainda, o desvio de tráfego civil para Cascais, a transferência das instalações militares de Figo Maduro para outra base aérea e a construção de um terceiro terminal para passageiros.
Texto Aníbal Fernandes
“O AHD apresenta ineficiência operacional e de layout que condicionam o uso da capacidade instalada e a possibilidade de uma solução de médio prazo de incremento de capacidades”, lê-se no relatório divulgado na passada segunda-feira pela CTI. Este documento – que é o terceiro desde que Maria do Rosário Partidário iniciou os trabalhos – aponta algumas sugestões para o curto prazo que visam “melhorar as condições operacionais do AHD” e reduzir a “perda de receita por recusa de tráfego que decorre das limitações causadas pelo congestionamento” daquela infraestrutura.
Este documento da CTI apresenta a análise da situação atual do AHD, pretende contribuir para aumentar a sua eficiência e eficácia operacional e possível redução do spillage (perda de receita por recusa de tráfego), que decorre das limitações causadas pelo congestionamento do AHD.
A construção de um novo terminal, no espaço atualmente ocupado pela base aérea de Figo Maduro, desviar voos não comerciais para Cascais e Beja ou favorecer aviões de maior dimensão são algumas das medidas sugeridas no relatório entregue pelo CTI ao Governo.
“BEJA ESTÁ PREPARADA”
Uma fonte da empresa concecionária do aeroporto de Beja, Vinci, que não quis ser identificada, contactada pelo “Diário do Alentejo”, disse que, “ao contrário do que muita gente pensa, o aeroporto de Beja existe e não está parado”, acrescentando que dispõe de “um terminal de carga que nunca foi utilizado”.
“O aeroporto de Beja tem vindo a desenvolver um trabalho difícil e delicado para criar as melhores condições, de forma a convencer os operadores de que tem as condições” para os receber, e “o feedback recebido é positivo. O aeroporto está preparado”, concluiu a mesma fonte.
Também Manuel Valadas se mostra convencido de que a infraestrutura alentejana “vai mesmo ter de ser utilizada”, uma vez que as obras na pista de Lisboa vão condicionar, ainda mais, a pista do Humberto Delgado. “O aeroporto de Beja existe e está pronto a ser utilizado”, reafirma.
O porta-voz da Plataforma Cidadã Sim! Ao Aeroporto de Beja vê com bons olhos a posição da CTI, o que, no seu entender, “vai pressionar o Governo para avançar com o investimento nas acessibilidades”.
No mesmo sentido manifesta-se Bruno Ferreira, do movimento Beja Merece +: “Seja o que for que vier para Beja mantém-se a necessidade de investir nas acessibilidades. Continuamos com as mesmas estradas e linha férrea”, diz o humorista, para quem a sugestão da CTI não representa uma surpresa já que, “desde há muito”, se “sabia que o aeroporto de Beja era uma mais-valia”.
A questão das ligações rodoviárias e ferroviárias é citada no relatório da CTI, em que se lê que, com as “condições atuais de acessibilidade”, o aeroporto de Beja “não pode ser uma alternativa comercial para gestão das pontas de tráfego de passageiros do AHD e do aeroporto de Faro”, mas admite que “pode ser considerada para acolher operações exclusivas de carga e de charters não regulares, libertando espaços do AHD”.
Por outro lado, Ricardo Penarróias, presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, apoiou a sugestão da CTI para utilizar o aeroporto de Beja para voos de carga e para charters, enquanto não houver um novo aeroporto.
Em declarações à “Antena 1”, o sindicalista considerou que “o aeroporto de Beja é uma óptima alternativa. Já tem as infraestruturas e já existe uma companhia aérea que [o utiliza]”. É um aeroporto “que foi pago pelos contribuintes e, a verdade, é que é uma companhia privada que está a usufruir” do espaço. “É um aeroporto que tem capacidade de crescer e desenvolver o interior do País, o que é muito importante”, concluiu.
CURTO PRAZO Já em abril deste ano a CTI tinha identificado “a necessidade de considerar soluções de curto prazo para aumento da capacidade aeroportuária da região de Lisboa”, considerando como curto prazo “o período de tempo em que o AHD tem de se manter como aeroporto único em funcionamento fazendo face à crescente procura, enquanto uma primeira pista no novo aeroporto de Lisboa não se encontrar em funcionamento”.
O relatório aponta para um período de entre cinco e sete anos, um espaço temporal considerado “muito otimista” por muitos especialistas, que tendem a apontar uma década como o mínimo necessário para que isso aconteça e que é admitido pela CTI: “Estima-se que a primeira fase do novo aeroporto de Lisboa possa, no limite, não estar em operação em menos de 10 anos, embora seja possível considerar um período mais reduzido entre cinco a sete anos, dependendo da opção estratégica que vier a ser selecionada e da celeridade dos inerentes processos de contratação pública”.
IDEIA ANTIGA
Um ex-membro da administração da Empresa de Desenvolvimento do Aeroporto de Beja (EDAB), extinta em 2012, recorda que, numa primeira fase de estudos prévios – durante o Governo de Durão Barroso –, se apontava para que o aeroporto não fosse entregue à ANA – Aeroportos de Portugal, de forma a poder apresentar taxas aeroportuárias “mais competitivas” e atrair o serviço de carga, charters e low cost. Tal não se veio a confirmar e o Governo de José Sócrates seguiu outro caminho, cedendo a exploração à Vinci.
Já em pleno Governo de Passos Coelho, a 5 de junho de 2011, foi criado um grupo de trabalho coordenado por João Paulo Ramôa, com o objetivo de propor formas de rentabilização daquela infraestrutura e que integrava representantes da Força Aérea Portuguesa, ANA, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo, Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Associação de Municípios do Baixo Alentejo e Alentejo Litoral e Nerbe/ /Aebal. Entre as conclusões a que chegaram aparecia, tal como hoje, a utilização da pista para o transporte aéreo de carga.