Diário do Alentejo

“Já ninguém escreve uma carta… nem de amor”

11 de março 2023 - 12:00
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Geada de Sousa tem 79 anos e é natural de Alcains, no concelho de Castelo Branco. Iniciou a sua carreira profissional de enfermagem, em 1962, no Hospital de São José, em Lisboa, e terminou-a como enfermeiro-chefe especialista, em 1995, no hospital de Beja.

 

Em 1996, como voluntário de uma organização não-governamental, prestou assistência de saúde em Angola, em acampamentos de militares da Unita,  no âmbito do acordo de paz de Lusaka. Recebeu, na área da saúde, várias distinções. Em 2005 e 2011 venceu o “Prémio Godofredo Ferreira – Melhor Livro”. Em 2014 foi agraciado com a Ordem de Mérito Filatélico.

 

Recentemente, a Federação Portuguesa de Filatelia (FPF) premiou-o com "A.Guedes de Magalhães - Melhor Autor" referente aos seus artigos publicados no "Diário do Alentejo".

 

Texto José Serrano

 

Que significado tem para si esta distinção que lhe foi atribuída pela FPF?

É grande o significado. É não só um reconhecimento pelo trabalho que fui realizando semanalmente, ao longo do ano, mas também um desafio que me leva a tentar melhorar, cada vez mais, a rubrica que vem “desmentir” as vantagens da informatização – a informação esperada não nos chega e os sítios consultados estão quase sempre desatualizados.

 

Escreve, no “Diário do Alentejo”, uma crónica semanal de filatelia. Esta periodicidade semanal de escrita indicia uma dedicação apaixonada pelo tema?

Dedicação apaixonada é mesmo a expressão adequada. Tinha 16 anos quando li, no jornal “O Século”, um anúncio de um rapaz português, da minha idade, residente em Joanesburgo, a pedir correspondentes portugueses, pois temia esquecer o pouco [da língua portuguesa] que ainda sabia. Respondi. Na resposta que recebi, três ou quatro semanas depois, enviou-me selos. Eram, e eu não tinha a menor dúvida, os mais bonitos do mundo.

 

Se tivesse de escolher um selo emblemático português, qual seria?

Essa é a pergunta mais difícil. São tantos, que a dificuldade está na escolha. Porém, escolheria um, que, infelizmente, ainda não existe: um selo sobre as celebérrimas “Cartas Portuguesas”, de Mariana Alcoforado. Em nota dos CTT, de 2 de novembro do ano passado, dá-se conta que está em estudo uma emissão para assinalar os 300 anos da morte da freira bejense.

 

Qual a sua função primordial, o que nos pode um selo ensinar quanto à cultura e história de um povo?

O selo é um extraordinário elemento cultural, pela multiplicidade de motivos que apresenta. É um embaixador, pois leva a história e a cultura do país que o emite a todo o mundo. E é colecionado por todos, não se distinguindo sexos, ideologias ou etnias.

 

Estando as cartas em envelope a perder terreno para o correio eletrónico, significa este facto que, paralelamente, a importância dos selos está a diminuir?

Infelizmente, o selo tem o futuro comprometido, pois não é “prático”, aos balcões já quase se não vende e também já ninguém escreve uma carta… nem de amor.

 

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