Diário do Alentejo

Beja tem oito mil utentes sem médico de família

22 de janeiro 2023 - 10:00
Câmara exige “particular atenção” para o hospital. Substituição de Conceição Margalha à espera da direção-executiva do SNS
Foto | Ricardo ZambujoFoto | Ricardo Zambujo

O presidente da Câmara Municipal de Beja escreveu ao ministro da Saúde e ao diretor-executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS) a reclamar uma “muito particular atenção” para com o Hospital José Joaquim Fernandes depois desta instituição ter sido obrigada a encerrar a urgência de obstetrícia e a sala de partos durante o Natal e Ano Novo.

 

A somar a este problema Paulo Arsénio revelou esta semana que o concelho tem cerca de oito mil utentes sem médico de família atribuído e que equaciona tomar medidas para atrair e fixar especialistas no território.

 

 

Texto Aníbal Fernandes

 

"Beja tem de ser alvo de uma muito especial atenção, devido às longas distâncias que nos separam” de outras unidades de saúde com urgência de obstetrícia e pediatria. Paulo Arsénio, em resposta a uma questão levantada pelo vereador Nuno Palma Ferro, da coligação Consigo Beja Consegue, na reunião pública do executivo municipal, realizada no passado dia 11, argumentou que, com o fecho “em simultâneo” da maternidade de Portimão, entre Faro e Évora (226 quilómetros); entre Faro e Setúbal (244 quilómetros); e entre Barrancos e Odemira (200 quilómetros), uma área substancial do território nacional ficou sem acesso à prestação deste tipo de cuidados de saúde.

 

O presidente da Câmara Municipal de Beja recordou ainda que, exceto no ano de 2020 (com 902 nascimentos), em todos os outros anos têm nascido em Beja mais de um milhar de crianças, o que justifica, no seu entender, a manutenção da urgência de obstetrícia e a sala de partos abertas permanentemente, para evitar “situações complicadas”.

 

O autarca revelou, também, que, no dia 5 deste mês, escreveu ao ministro da Saúde, Manuel Pizarro, e ao diretor-executivo do SNS, Fernando Araújo, a sensibilizá-los para o problema, esperando que as medidas anunciadas pelo Governo para “a criação de novas condições” para o recrutamento destes médicos especialistas “possa trazer alguns” para Beja.

 

Apesar de tudo, Paulo Arsénio reconheceu “o empenho que o conselho de administração da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba) teve, muitas vezes à última da hora, para tentar resolver os problemas” que foram surgindo.

 

Mas nem só de más notícias, em relação ao hospital, falou o presidente da câmara que fez questão de referir alguns dados positivos verificados nas últimas semanas, nomeadamente, a conclusão das obras no serviço de cuidados intensivos, uma obra orçada em 1,2 milhões de euros; a realização de uma cirurgia “quase pioneira” na área de cardiologia no hospital de Beja; e a resolução em tribunal da questão que impedia a conclusão do concurso para a instalação da ressonância magnética no Baixo Alentejo.

 

oito MIL UTENTES SEM MÉDICO

Entretanto, na passada segunda-feira, em declarações à agência Lusa, Paulo Arsénio revelou que o concelho de Beja tem cerca de oito mil utentes (25 por cento da população) sem médico de família atribuído, admitindo, à semelhança do que está a acontecer em municípios vizinhos, a possibilidade de criação de um regulamento municipal para fixar mais clínicos.

 

 “Faltam-nos cinco médicos de família no concelho capital de distrito, o que é naturalmente muito preocupante”, reforçou o autarca, lembrando que a falta de médicos de família tem igualmente repercussões no funcionamento do hospital da cidade.

 

“Havendo uma boa prevenção de saúde e bons cuidados de saúde a nível primário, são também menos os casos que chegam aos hospitais e às urgências”, onde “começamos a ter uma situação realmente muito complexa e muito preocupante”, afirmou.

 

“Temos o hospital, que por si só é também um fator que confere centralidade ao território e traz médicos para Beja, mas [a criação de incentivos à fixação de clínicos] é uma possibilidade que não descartamos”, disse, ressalvando que “a distribuição de médicos ao longo do território nacional é iminentemente uma competência da administração central que tem de ser salvaguardada, em primeiro lugar, pelo poder central”.

 

NOVA ADMINISTRAÇÃO DA ULSBA À ESPERA DA DIREÇÃO-EXECUTIVA DO SNS

No final de dezembro o nome de José Carlos Queimado foi citado na imprensa como o mais provável substituto de Conceição Margalha na presidência do conselho de administração da Ulsba, o que deveria acontecer no princípio do ano.

 

No entanto, o Ministério da Saúde, contactado esta semana pelo “Diário do Alentejo”, disse que a “Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo encontra-se entre as unidades hospitalares do SNS cujos conselhos de administração terminaram o seu mandato no final de 2022.

 

Desde a entrada em funções da direção executiva do Serviço Nacional de Saúde, as nomeações são efetuadas por proposta desta entidade. Este processo está a seguir a tramitação definida, sendo prematuro anunciar a nova equipa”. Fontes do hospital de Beja, contactadas pelo nosso jornal, disseram esperar a “qualquer momento” que a substituição seja anunciada.

 

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