O projeto de voluntariado em cuidados paliativos, promovido pela Equipa de Apoio Psicossocial da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, em parceria com o Grupo de Apoio de Beja da Liga Portuguesa Contra o Cancro, deverá entrar em funcionamento entre a última semana de outubro e a primeira de novembro. Centrado nas necessidades e no conforto do doente e da sua família, o projeto-piloto conta com sete voluntárias “extremamente motivadas” e abrangerá, nesta fase inicial, o concelho de Beja e a vila de Ourique.
Texto Nélia Pedrosa
Melhorar a qualidade de vida das pessoas com doenças avançadas e das famílias é um dos principais objetivos do projeto de voluntariado em cuidados paliativos que deverá arrancar no concelho de Beja e na vila de Ourique “entre a última semana de outubro e a primeira de novembro”.
O projeto-piloto é promovido pela Equipa de Apoio Psicossocial da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba), em parceria com o Grupo de Apoio de Beja da Liga Portuguesa Contra o Cancro.
Criada em dezembro de 2018 no âmbito do Programa de Apoio Integral a Pessoas com Doenças Avançadas – Programa Humaniza, financiado pela Fundação La Caixa, a Equipa de Apoio Psicossocial da Ulsba é constituída por duas psicólogas e uma assistente social e trabalha em conjunto com a Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos Beja +. Atualmente abrange os concelhos de Aljustrel, Almodôvar, Alvito, Beja, Castro Verde, Cuba, Ferreira do Alentejo, Ourique, Serpa e Vidigueira.
Segundo Catarina Gaspar, psicóloga da Equipa de Apoio Psicossocial da Ulsba, o projeto de voluntariado em cuidados paliativos será centrado nas necessidades e no conforto do doente e da sua família.
“Muitas vezes as famílias estão cansadas, porque é a medicação, são os cuidados, é a alimentação, é toda a gestão familiar. Muitas vezes têm de assumir as tarefas que eram do doente. A família está sobrecarregada e pequenas coisas que são importantes para o doente acabam por ficar um bocadinho para trás. Se o doente simplesmente quiser ouvir música, é isso que os voluntários irão fazer com a pessoa. O voluntário é alguém que disponibiliza tempo para fazer com o doente aquilo que ele mais gostar. Isso faz toda a diferença, quer para o doente, quer para a própria família”. Por outro lado, acrescenta, o projeto “permite o descanso do cuidador”.
A parceria estabelecida com o Grupo de Apoio de Beja da Liga Portuguesa Contra o Cancro, esclarece a psicóloga, deve-se ao facto de o referido grupo ter voluntárias no Hospital de Dia da Ulsba, onde os doentes oncológicos fazem os seus tratamentos, sendo que o objetivo é “que haja uma continuidade dos cuidados” no domicilio “por pessoas que já são conhecidas”.
Posteriormente, pretende-se alargar a parceria a outras instituições, de forma “a acompanhar pessoas que tenham outro tipo de doença, nomeadamente, insuficiência cardíaca, insuficiência orgânica, demências, entre outras”.
PANDEMIA ADIOU INÍCIO DO PROJETO
Catarina Gaspar explica que o voluntariado, “que vem acrescentar valor e qualidade aos cuidados prestados”, é “um dos pilares” da atividade desenvolvida pela Equipa de Apoio Psicossocial, a par dos apoios psicológico, social, espiritual e no luto. A pandemia de covid-19 acabou, no entanto, por adiar o arranque do projeto.
“O desenvolvimento do voluntariado estava pensado desde o início da constituição da equipa psicossocial”, reforça a psicóloga, adiantando que o projeto-piloto conta com sete voluntárias “extremamente motivadas”, número considerado suficiente para esta fase inicial, tendo em conta que é necessário perceber “qual a adesão dos doentes e das famílias”.
“Não somos um voluntariado hospitalar, ou seja, vamos ao domicílio das pessoas. É entrar na casa do outro. Para nós é algo que faz sentido, mas temos de perceber se para o doente e para a família isto também lhes faz sentido. Preferimos começar com poucos voluntários para perceber qual a adesão e depois ir alargando”.
Catarina Gaspar sublinha que tanto a Equipa de Apoio Psicossocial como a Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos Beja + “são bem recebidas” pelos doentes e famílias, pelo que acredita que os voluntários, “uma vez que fazem parte do nosso trabalho, também irão ser bem recebidos”.
Entre “a última semana de outubro – o mês dos cuidados paliativos – e a primeira de novembro”, revela a psicóloga, a equipa espera “ter, pelo menos, um ou dois pares de voluntárias no terreno”. Inicialmente, estava previsto abranger somente o concelho de Beja. Contudo, “como duas das voluntárias são de Ourique”, o projeto irá também avançar naquela vila “para perceber se há abertura”, diz.
A primeira visita ao domicílio “será sempre feita com um elemento” da Equipa de Apoio Psicossocial. Posteriormente, as voluntárias, que se deslocarão em dupla, “irão no horário que for mais adequado tanto para elas como para os doentes e famílias”.
No decorrer do processo de formação das voluntárias, que chegou ao fim no passado sábado, foram abordados temas como “o que são os cuidados paliativos – que não são para as pessoas que estão a morrer, mas sim para alívio do sofrimento de doenças avançadas, de doenças crónicas –; como se deve comunicar com estes doentes e com as famílias; como se faz o apoio no luto, não só da família que, infelizmente, perde o doente, mas também do próprio doente que deixa de ser autónomo e que se vê a ser alvo da prestação de cuidados, o que também é considerado uma perda”, refere Catarina Gaspar.
Para além disso, foi abordado o “autocuidado” dos voluntários, ou seja, “a importância de nos cuidarmos primeiro para conseguirmos ajudar a cuidar do outro”. “Vemos muito isso nas famílias, o desleixo dos cuidados ao próprio em prol do outro, porque o doente é que precisa, mas se o cuidador lhe falhar o doente perde todo o apoio que tem”, conclui a psicóloga.
Desde que entrou em funções, em dezembro de 2018, até ao passado dia 31 de agosto, a Equipa de Apoio Psicossocial da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo efetuou um total de 3100 intervenções com doentes, sendo 1009 primeiras visitas. Nesse mesmo período foram ainda feitas 3873 intervenções com familiares e 725 em luto. Entre janeiro e agosto deste ano foram acompanhados 183 novos doentes.
PESSOAS COM DOENÇA AVANÇADA, FAMILIARES E/OU CUIDADORES
O apoio prestado pela Equipa de Apoio Psicossocial da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo destina-se “a pessoas com doença avançada (doença oncológica, demência, insuficiência orgânica ou doença neurodegenerativa)” e a “familiares e/ou cuidadores que apresentem dificuldade em lidar com a situação da doença e sintomas como ansiedade, tristeza, raiva, desespero, revolta”.
Segundo o Programa Humaniza, a “experiência” adquirida pelas equipas de apoio psicossocial “tem demonstrado que, em momentos de grande incerteza e vulnerabilidade perante a doença, o acompanhamento e a presença de profissionais especializados, com um modelo de apoio sólido a nível técnico e ético, faz uma enorme diferença nos cuidados que as pessoas recebem”.