O canoísta bejense Pedro Mestre integrou a equipa nacional que, muito recentemente, conquistou um inédito 7.º lugar (entre 21 seleções) no Campeonato do Mundo de Kayak Polo, disputado em França.
Texto Firmino Paixão
O bejense Pedro Mestre, atleta e treinador de kayak polo no Clube Naval de Portimão, participou, pela segunda vez, num campeonato do mundo desta modalidade. Iniciou a sua carreira desportiva em Beja, na extinta equipa da Associação Pagaia Sul, e já tem no seu horizonte competitivo a presença no próximo Mundial, que será disputado na cidade chinesa de Deqing. Pedro Mestre sublinha o feito inédito da seleção de Portugal e regozija-se por ter sido um dos canoístas que dela fez parte.
Um resultado histórico. Está orgulhoso de ter sido um dos elementos da equipa?
É um orgulho enorme ter feito parte da história do kayak polo português. Temos um grupo de trabalho muito bom, onde a maior parte da equipa já integra a seleção nacional há vários anos e, este ano, trabalhámos afincadamente algumas ideias de jogo, o que nos permitiu crescer como jogadores e como equipa.
Como é que viveram esses momentos? Asseguraram o 7.º lugar ganhando à forte seleção da Holanda, algo que nunca tinha sido conseguido...
Nunca tínhamos vencido à poderosa seleção holandesa. Foi um jogo que não começou bem, estávamos a perder 3-0 aos dois minutos de jogo, conseguimos perceber que algo não estava bem e subimos a linha defensiva, para podermos aguentar com as fortes entradas dos holandeses, chegando ao intervalo com o placard a marcar 3-2. Virámos o jogo para 3-4 na segunda parte, com duas saídas de bola muito rápidas da nossa parte e, nos últimos 20 segundos, sofremos o 4-4. Na decisão por ‘golo de ouro’ os holandeses vieram para a marcação individual e nós escapámos muito bem da pressão e fechámos o resultado em 4-5. No final, sentimos a emoção da vitória, da recuperação épica que fizemos e de termos conseguido o melhor resultado de sempre para o nosso país, um acumulado de boas sensações vividas com muita euforia.
Que importância teve esta participação no Mundial para a sua carreira desportiva?
Este foi o meu segundo Mundial, fruto da boa época que desenvolvi ao serviço do clube que representei na presente época e que se sagrou campeão nacional. Jogar a nível internacional aumenta significativamente a performance de qualquer atleta, é outra realidade. Sendo também treinador de uma equipa sub-16 no Clube Naval de Portimão, eles acabam por nos ver como um exemplo, o que é gratificante.
Quais são os próximos desafios da seleção nacional?
Temos já, no próximo ano, o Europeu, que se realizará em Brandenburg na Alemanha. O primeiro objetivo será sempre jogar no grupo de cima, na disputa entre o 1.º e 8.º lugar. Em 2024, o Campeonato do Mundo será em Deqing, na China, onde queremos manter a performance e igualar, ou melhorar, o resultado conseguido este ano.
Espera continuar a fazer parte das escolhas do selecionador?
Espero que sim. O kayak polo em Portugal está a crescer, com miúdos nos sub-21 a mostrarem um nível muito bom e que, também eles procuram o seu lugar na equipa sénior. Vou continuar a trabalhar, fazer uma boa época ao serviço do clube, para ser, novamente, chamado aos estágios.
O seu início no Kayak Polo foi na extinta equipa “Pagaia Sul” na cidade de Beja. Ainda recorda esses tempos?
Foi o início de tudo. Sou muito grato aos tempos vividos na Pagaia Sul. Iniciei a modalidade em 2009, logo no primeiro ano competitivo, em 2010, fomos campeões no escalão sub-16, e vice-campeões em 2011 e, na equipa principal, fizemos medalha de bronze em 2015. Tínhamos excelentes jogadores, e criámos equipas de formação muito competitivas.
Um projeto que parecia ter algum futuro, pela valia da equipa, mas que acabou por ser algo efémero…
Foi um projeto duradouro. Quando eu entrei, em 2010, sei que eles, os mais velhos, já cá andavam desde 1998. Depois, na minha geração, chegámos a ter três equipas no campeonato nacional, duas seniores e uma sub-16. O principal problema veio da não aquisição de material de formação por parte do clube. Quando queríamos colocar alguém novo a remar, tinha de ser com o nosso próprio material e isso não era sustentável.
Depois disso qual foi o seu trajeto desportivo?
Depois da medalha de bronze, em 2015, comecei a trabalhar e não conseguia conciliar a profissão com o kayak polo, pelo que me afastei da modalidade por quatro anos. Participei em algumas competições, mas treinava muito pouco.
Vive e trabalha em Portimão, é nessa cidade que mantém a atividade?
Sim, estou em Portimão a viver e a trabalhar. Em 2019 decidi, juntamente com outro atleta da modalidade, desenvolvermos uma escolinha de kayak polo no Algarve. Primeiro tentámos algo em Faro mas, devido à distância da minha área de residência, não me era favorável. Então, apresentámos uma proposta ao Clube Naval de Portimão, que nos abriu as portas e é por aqui que estamos a desenvolver o kayak polo.
Quais os objetivos que ainda persegue?
Este ano, fui campeão nacional ao serviço do Clube Kayak Polo Barra Oeiras, era um objetivo que perseguia e que conquistei. Agora, é manter o primeiro lugar pelo máximo de anos possível. Outros objetivos passam por continuar a fazer parte da seleção nacional e desenvolver o kayak polo na região do Algarve, depois, ir à conquista de medalhas no Europeu e no Mundial.
Que expressão tem o kayak polo no sul do País?
Durante a minha ausência as equipas do Alentejo (Beja, Ferreira do Alentejo e Fronteira) desapareceram. Pessoas que eram tão próximas da modalidade, simplesmente, desaparecem, algo que não acontece noutros países. Nos outros países ou vão para árbitros, ou criam novas equipas, ou fazem algo pela comunidade. Aqui, as pessoas, simplesmente, vão embora, e isso foi uma das coisas que me fez voltar, para ensinar aquilo que aprendi e ajudar no desenvolvimento.
A canoagem é uma das modalidades que mais medalhas conquista para Portugal?
Sim, este ano foram 21 medalhas em Campeonatos do Mundo e Campeonatos da Europa. Não sei se teremos outras modalidades a conquistar tanto como a canoagem.
Ainda assim, a canoagem continua a ser “um parente pobre” do desporto nacional? Mal apoiada e pouco reconhecida?
A Federação Portuguesa de Canoagem faz “omeletes sem ovos”. Ter resultados tão expressivos, como a canoagem tem a nível internacional, é a prova que trabalhamos bem e queremos estar no topo. Para nos mantermos assim, durante longos anos, é preciso que as entidades competentes estejam atentas à nossa modalidade, pois o esforço vem maioritariamente da Federação, clubes, atletas e treinadores, sendo os apoios apenas uma gota de água no oceano.