Recentemente, para assinalar o Dia da Produção Nacional, no passado dia 26 de abril, a Pordata, base de dados estatísticos da Fundação Francisco Manuel dos Santos, disponibilizou alguns indicadores sobre o setor agrícola em Portugal, traçando a sua evolução nos últimos 40 anos.
Texto Marco Monteiro Cândido
Um setor em declínio, no que à riqueza gerada diz respeito, com um decréscimo na maioria dos indicadores, revelando, por um lado, uma menor apetência nacional para a produção agrícola, reveladora, em simultâneo, de uma maior dependência das importações de produtos alimentares. Se em 1989 havia cerca de 1,5 milhões de agricultores em Portugal, 30 anos passados, em 2019, esse número decresceu para menos de metade, à volta de 650 mil. Uma perda de 900 mil trabalhadores, segundo os dados da Pordata, referindo o decréscimo médio anual de 30 mil trabalhadores por ano, com a queda mais acentuada acontecer na década de 1989/1999 (menos 500 mil trabalhadores). Dados curiosos e preocupantes, tendo em conta que foi em 1988 que se investiu mais em maquinaria e materiais, cerca de quatro vezes mais do que é investido atualmente, tendo em conta os indicadores apresentados. A suportar este cenário surgem os 429 milhões de euros aplicados no setor em 1989, face aos 170 investidos em 2020, tendo em conta a inflação, uma diferença de 2,5 vezes.
Quanto ao perfil do trabalhador agrícola, segundo dados de 2019, são maioritariamente homens, com mais de 55 anos, com o ensino básico. Num cenário com cada vez menos trabalhadores agrícolas e investimento, não surpreendem os números que dão conta a riqueza gerada pelo sector agrícola: em 2021 foram 3500 milhões de euros, face aos cerca de 8200 milhões de 1980. Segundo o relatório, menos de metade, já “descontando a inflação acumulada ao longo dos anos”, com os valores mais baixos a serem atingidos em 2012, à volta dos 2500 milhões de euros, em plena crise económica e assistência financeira a Portugal.
No que diz respeito às culturas agrícolas, é o olival que ocupa uma maior parcela do território, com 4,1 por cento de área, seguido dos cereais e da vinha, com 2,3 e 1,9 por cento, respetivamente. Uma mudança na paisagem agrícola em relação a 1986, onde os cereais ocupavam 9,5 por cento de área, face aos 3,7 e 2,8 por cento ocupados pelo olival e a vinha. Em relação às culturas agrícolas, são as culturas forrageiras que têm uma maior produção atualmente, com 4,4 milhões de toneladas, com as principais culturas para indústria a ocuparem o segundo lugar, com 1,3 milhões de toneladas, suplantando as culturas hortícolas (1,2 milhões) e a produção de cereais (1 milhão).
O panorama no Alentejo
Em termos nacionais, é no Alentejo que a agricultura assume um maior peso económico, representando 8,8 por cento do Produto Interno Bruto (PIB). Para estes números contribui, por exemplo, o facto de a região produzir cerca de três quartos do azeite nacional, atingindo os 814 mil hectolitros em 2020, num universo de 1,08 milhões nacionais. Ou o facto de a superfície agrícola ocupar, também, três quartos do território (2,351 milhões de hectares), com uma média de 61 hectares por exploração, bem acima do valor nacional (14 hectares), algo que se explica pela tradição de grandes latifúndios a sul do Tejo.
Nos indicadores da produção vitivinícola, o Alentejo surge em terceiro lugar no ranking nacional, com cerca de 13 por cento (cerca de 980 mil hectolitros), um valor em conformidade com o facto de ser a terceira região do país com maior área de vinha, 34 225 hectares.