O aumento de infeções respiratórias, entre elas a infeção por SARS-CoV-2, poderá justificar, segundo a Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, o aumento da procura das urgências, uma situação que leva “à sobrecarga nos serviços, com atraso no tempo de atendimento”. No primeiro trimestre deste ano, 30 por cento dos casos eram considerados pouco e não urgentes.
Texto Nélia Pedrosa
Os serviços de urgência da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba) têm registado “um aumento de procura” nas suas várias vertentes, “superando os valores pré-pandemia”, o que estará, “provavelmente, relacionado com o aumento de infeções respiratórias, entre elas a infeção por SARS-CoV-2”. Uma situação que resulta “numa sobrecarga nos serviços, com atraso no tempo de atendimento”, diz, ao “Diário do Alentejo”, a presidente do conselho de administração da unidade, Conceição Margalha.
Segundo dados disponibilizados pela Ulsba, na semana de 21 a 27 de março, foram efetuados 2267 atendimentos nos serviços de urgência da unidade – urgência geral, obstétrica e pediátrica do hospital de Beja e serviços de urgência básicos (SUB) de Castro Verde e Moura –, mais 257 do que em igual período de 2019 e mais 353 do que em 2018.
Ainda de acordo com os mesmos dados, na semana de 25 a 31 de março registou-se uma média diária de 324 atendimentos nos referidos serviços de urgência, um valor acima da média diária verificada no primeiro trimestre deste ano (média diária de 279 atendimentos), assim como em igual período de 2021 (231 média diária) e 2020 (200 média diária) e antes da pandemia de covid-19 (291 em 2019 e 289 em 2018).
Fazendo a análise por serviço, na referida semana, a urgência geral do hospital de Beja e os SUB de Castro Verde e Moura apresentavam a média diária de atendimento mais elevada, com 136 e 114 (total das SUB) atendimentos, respetivamente.
Nas 12 primeiras semanas deste ano, indicam ainda os dados adiantados pela Ulsba, foram registados 11 184 atendimentos na urgência geral do hospital de Beja, mais 3156 do que em período homólogo de 2021. Em 2020 tinham sido 9922 atendimentos e, em 2019, 9933. Já a urgência da Pediatria registou, nas primeiras 12 semanas deste ano, 5266 atendimentos, mais 3469 do em período homólogo de 2021 e mais 1250 do que em 2020. Em 2019, antes da pandemia, tinham sido efetuados 5007 atendimentos.
Os dados disponibilizados pela Ulsba mostram, igualmente, que no primeiro trimestre deste ano os principais diagnósticos de ida ao serviço de urgência prendiam-se com outros sintomas e sinais gerais (20,7 por cento), dor aguda devida a trauma/queda (20,6 por cento), covid-19/suspeita/testes (20,3 por cento) e outras infeções respiratórias (19,8 por cento). Em 2021, em igual período, os casos relacionados com a covid-19 estavam no topo da lista dos diagnósticos, representando 32,3 por cento, seguindo-se dor aguda devido a trauma/queda (21,5 por cento) e outros sintomas e sinais gerais (19,3 por cento). Outras infeções respiratórias correspondiam, em 2021, somente a 4,5 por cento dos diagnósticos, enquanto no primeiro trimestre de 2020 representavam 42,9 por cento.
30 POR CENTO DOS CASOS SÃO POUCO E NÃO URGENTES
No que concerne à proporção de atendimentos de atendimentos por nível de prioridade da triagem de Manchester, verifica-se que, no primeiro trimestre deste ano, 30 por cento dizem respeito aos níveis verde e azul (pouco urgente e não urgente), sendo que, no total de atendimentos registados em 2019, 2020 e 2021, rondam os 20 por cento. Conceição Margalha diz que estes casos “não deveriam ser observados num serviço de urgência”, no entanto, sublinha, “nestes dados estão incluídos os serviços de urgência básicos, que são um atendimento de proximidade e que fazem aumentar o número de casos verdes e azuis”.
No primeiro trimestre deste ano, os casos urgentes (nível amarelo) representavam 48,3 por cento, os muito urgentes (laranja) 13,3 por cento e os emergentes (vermelho) 0,3 por cento.
Os tempos médios entre a triagem e o primeiro atendimento estão a aumentar nos níveis verdes e azuis, adianta ainda a presidente do conselho de administração, “mas, mesmo, assim, ainda são inferiores a 2019, estando dentro dos tempos de resposta”. O tempo médio nos casos urgente e muito urgente, no primeiro trimestre deste ano, é também superior à média registada em 2020 e 2021. Os atendimentos triados como vermelho, assegura Conceição Margalha, “são atendidos de imediato”.
“As equipas estão dimensionadas para um atendimento médio. Quando existem picos de afluência fora do normal, o que acontece é um maior atraso no atendimento e maior permanência dos doentes no serviço de urgência, ainda que o esforço de todos os profissionais seja no sentido de responder eficazmente à procura”, conclui a responsável.
Para o presidente do conselho sub-regional de Beja da Ordem dos Médicos, a sobrecarga dos serviços de urgência da Ulsba “radica nas questões sobejamente conhecidas: pico sazonal de infecções víricas, ausência de condições que atraiam profissionais para o interior e para o Serviço Nacional de Saúde e, consequentemente, progressiva falta de médicos de família que permitam aos centros de saúde dar uma resposta quer para quem os procura, quer de retaguarda que esvazie o número de ocorrências aos serviços de urgência”, diz ao “DA”. Aliás, adianta Pedro Vasconcelos, “cada vez há menos médicos de família, tanto pela sucessiva aposentação de vários, como pela incapacidade da sua substituição”.