Diário do Alentejo

“A melhor prenda que podemos dar aos filhos é a nossa companhia”

06 de abril 2022 - 12:20

José Jordão tem 59 anos e é natural de Sintra. Com oito anos escreveu as suas primeiras quadras, tornando-se a poesia, desde aí, uma constante na sua vida. Alguns dos seus poemas foram publicados em antologias. É autor de peças de teatro infantil e fundador e encenador do Grupo de Teatro da Câmara Municipal de Sintra. Criou e desenvolveu trabalhos de teatro infantil e sketches de palhaços.

Autor e intérprete, venceu, em 1986, o Festival da Canção do Alentejo. Viveu em Beja cera de 30 anos e hoje divide a sua vida entre Portimão e Lisboa, a cantar em eventos, hotéis e bares.

 

Texto José Serrão

 

José Jordão apresentou, recentemente, na Biblioteca Municipal de Beja, o livro “Brincar com poesia, histórias e fantasia”, que conta com ilustrações de Paulo Salvador.

 

Como nos apresenta este seu livro?

Neste livro, onde construí cada um dos poemas num esquema rimático diferente – para mostrar como essas diferenças alteram a musicalidade no dizer de cada um –, procuro incentivar, nos mais novos, o gosto pela arte poética. Cada poema tem uma história, sendo que o último está incompleto, para que cada criança possa escolher as palavras para aquele espaço, exercitando o seu vocabulário. As ilustrações, a preto e branco, esperam que as crianças as possam pintar, tornando-se, assim, mais um motivo de contacto com o livro.

 

Considera que há “ancestralidades”, tal como o contar de uma história ao deitar, que trarão sempre mais felicidade que qualquer “modernice tecnológica”?

As “modernices tecnológicas” são importantes e vieram trazer-nos, para o bem possibilidades. Contudo, é bom não esquecer que o essencial é, geralmente, o mais simples. A melhor prenda que podemos dar aos filhos é o nosso tempo, a nossa companhia, estarmos disponíveis para escutar, conversar e brincar. Será isso o que de nós mais lembrarão e não o que o dinheiro possa ter comprado. Ler uma história aos filhos, antes de dormir, é sempre um bom momento – a tal tecnologia até permite fazer isso à distância, como eu já o tenho feito.

 

Há, nas rimas que constituem as várias histórias deste livro, o objetivo de brincar com as palavras, permitindo a quem ouve e a quem lê perceber que a poesia pode ser divertida?

Neste livro procuro apenas brincar com as palavras e a sua sonoridade, quase que criando música no seu dizer. Para as crianças tinha de ser mesmo divertido, o que não implica que deixe de ser um assunto sério, contado a brincar.

 

Que sentimento deseja que estas histórias levem junto dos seus narradores, ouvintes ou leitores?

Gostaria que no fim de cada poema se possa conversar sobre o valor que lhe está associado, pois em todos os meus trabalhos, para crianças, procuro deixar significados didáticos. Tenho recebido mensagens muito engraçadas e enternecedoras. A Mariana enviou-me um vídeo que me encheu o coração, a mãe da Maria diz que ela já leu o livro três vezes e que anda preocupada para conseguir encontrar as palavras adequadas para o “Poema Incompleto”… esse é o meu melhor prémio – sentir que a minha mensagem chega ao destinatário.

 

Qual “o caminho” que pretende para esta sua obra?

Este livro, candidatado ao Plano Nacional de Leitura, deu origem a um espetáculo de poesia infantil, que pretendo levar a escolas, bibliotecas e municípios de todo o país. No espetáculo, associamos músicas, criadas pelo José Liaça, a cada poema por mim declamado e fazemos jogos com as palavras e as rimas. Ficarei feliz se conseguir cativar mais um leitor de poesia, se conseguir que surja mais um poeta, se o livro aproximar os pais dos filhos, num momento simbólico.

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