Diário do Alentejo

“História da região e do vinho e da vinha são absolutamente indissociáveis”

06 de abril 2024 - 12:00
José Calado apresenta livro em Évora
Foto | D.R.Foto | D.R.

José Calado, 43 anos, natural de Redondo

 

É formado em História pela Universidade de Évora e doutorando em História e Filosofia da Ciência na mesma instituição. É historiador, consultor e empresário (fundador e CEO da empresa História e Memória), onde tem desenvolvido atividade nas áreas da história e património, sobretudo, nas vertentes local, regional, rural e imaterial, contando até ao momento com 17 obras publicadas nesses domínios. Faz ainda parte da equipa de investigadores da Cátedra Unesco em Património Cultural Imaterial (PCI) e é membro fundador do Observatório em Museus e PCI do Alentejo. 

 

Alentejo de Honra – Uma História do Vinho do Alentejo, obra de José Calado que discorre sobre oito séculos do precioso néctar, na região, é apresentado hoje, sexta-feira, dia 5, em Évora.

 

Como nos apresenta este seu livro?

Esta obra, que é o resultado de mais de 12 anos de investigação, procura traçar alguns dos principais marcos da história e do património da vinha e do vinho do Alentejo nos últimos oito séculos, fazendo referências a mais de 32 concelhos transtaganos.

 

É a história da região indissociável da própria história do vinho?

Sem dúvida alguma. No período em análise, a história da região e a história do vinho e da vinha são absolutamente indissociáveis. Desde os forais que constituíram os primitivos concelhos alentejanos (nos séculos XII, XIII e XIV) que o setor vitivinícola é uma prioridade para os decisores locais e regionais, quer através de medidas de proteção, de incentivo e de estímulo, quer através do contributo para a fixação de pessoas nos territórios. Por outro lado, a nível da economia local, o vinho desde sempre tem acompanhado, na qualidade de elemento estruturante das sociedades, os períodos de prosperidade, de retração ou de crise.

 

Qual a importância que o vinho tem tido no moldar das características identitárias da região?

O vinho do Alentejo não será mais nem menos importante que o de outras regiões vinícolas do País e do mundo. Porém, assume, indubitavelmente, características e particularidades únicas, sobretudo, de natureza cultural, patrimonial e identitária. As manifestações e expressões artísticas, culturais e patrimoniais ligadas ao vinho são inúmeras e fazem parte da identidade deste povo há séculos: o vinho de talha; o “vinho dos amigos”; o “vinho do trabalho”; o cante e o fado nas tabernas; a poesia popular; os ditados e os adágios populares; o vinho na “hora da bucha”, são apenas alguns dos muitos exemplos dessa incidência.

 

A história desta obra tem o seu início há cerca de 800 anos. Quais as maiores diferenças de produção e sabor que se terão verificado, no vinho, ao longo deste espaço temporal?

Durante séculos o Alentejo utilizou sobretudo a vinificação em talhas ou potes de barro. Este processo de vinificação, com origens bastante ancestrais, era simples, eficaz e pouco dispendioso. Os alentejanos tornaram-se mestres nesta área e aprenderam a apreciar o vinho daí resultante e as suas características especiais, como o sabor a pez e a vincada graduação alcoólica. A partir do século XIX, os recipientes vinários em madeira de carvalho começaram a ser introduzidos no Alentejo, essencialmente, por parte dos grandes produtores, que concorreram às grandes exposições internacionais daquela centúria e que exportaram vinho da região para todo o mundo. Em meados do século XX, o Alentejo foi igualmente pioneiro em Portugal na introdução das chamadas “ânforas argelinas”, que na altura revolucionaram o setor a nível mundial. Nos últimos anos tem apostado na mais moderna tecnologia, sem descorar, no entanto, os processos de vinificação ancestrais. Esta saudável e salutar “convivência” de processos de produção e de vinificação tem contribuído para a valorização, diferenciação e promoção do setor.

 

Texto José Serrano

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