Diário do Alentejo

Operação SOS montado: Life Montado-Adapt

05 de abril 2022 - 09:10

A Associação de Defesa do Património de Mértola (ADPM) lançou, no passado dia 21, Dia Mundial da Árvore e da Floresta, uma plataforma online de apoio aos proprietários de áreas de montado confrontados com as alterações climáticas. O projecto tem a designação de Life Montado-Adapt.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

O projeto transfronteiriço Life Montado-Adapt está no terreno desde 2016 e pretende contribuir para a preservação deste ecossistema agroflorestal que ocupa uma grande parte do território do sudoeste da Península Ibérica, sobretudo na região do Alentejo e nas regiões espanholas da Andaluzia e Extremadura.

 

Maria Bastidas, coordenadora do projeto disse ao “Diário do Alentejo” que o equilíbrio natural deste sistema “depende de uma correta gestão e exploração sustentável dos seus recursos naturais”, que têm vindo a sofrer alterações na sua forma de gestão, como consequência de alterações tecnológicas e socioeconómicas e “impulsionado o abandono ou a intensificação das áreas de montado” e que leva à sua degradação.

 

Acresce que a estas novas práticas se juntam as alterações climáticas o que desafia os proprietários a adaptar a sua gestão de forma a manter o equilíbrio e sustentabilidade dos montados. O aumento na frequência, intensidade e duração das secas, a redução nos níveis de precipitação e a subida das temperatura na região mediterrânica, que tenderá a agravar-se no futuro, torna “necessário introduzir novas práticas na gestão dos montados, tendo em vista a redução da vulnerabilidade deste ecossistema às alterações climáticas”.

 

Perante esta nova realidade, o projeto Life Montado-Adapt apresenta uma ferramenta digital de apoio aos proprietários com o objetivo de “tornar os seus produtos mais competitivos e diferenciados, compatibilizando assim a preservação da natureza com a manutenção da rentabilidade das explorações”.

 

O modelo, que tem vindo a ser testado em várias áreas do Alentejo (Cabeção, Grândola, Sines, Montemor-o-Novo e Barrancos), tem mostrado “resultados positivos”, diz Maria Bastidas, alertando, no entanto, para o facto de ser “um processo lento”. A plataforma online permitirá que os empresários agroflorestais monitorizem a sua exploração e ao longo do tempo implementem as medidas necessárias para “dar resposta aos principais impactos das alterações climáticas”, que passam pelo aumento do declínio e mortalidade das árvores, a diminuição da produtividade e da qualidade dos pastos e da produção pecuária, diminuição da água disponível, degradação dos solos e redução da rentabilidade económica das explorações.

 

Assim, foram desenvolvidas estratégias de adaptação que visam dar resposta aos impactos presentes e futuros, que resultaram na definição de 40 medidas de adaptação dos montados às alterações climáticas. “Ao longo dos últimos cinco anos estas medidas foram implementadas de forma experimental em 12 áreas piloto em Portugal e Espanha. O passo seguinte é partilhar o conhecimento e a experiência adquirida para outros proprietários, para que se possam replicar as soluções encontradas. É neste sentido que se desenvolveu uma ferramenta digital de apoio ao agricultor, que visa impulsionar a adoção destas práticas nos montados”, lê-se na nota de imprensa divulgada.

 

“Para cada medida de adaptação é dado um conjunto de informações, como a forma de implementar, a razão da sua aplicação, o contributo da medida para a adaptação às alterações climáticas, ou a avaliação do seu custo”, sendo que o acesso é gratuito nos endereços eletrónicos sigm.lifemontadoadapt. com ou em lifemontadoadapt. com, sítios onde os agricultores podem efectuar a sua inscrição e que fará diagnósticos diferenciados para cada propriedade ou exploração.

 

O preenchimento de um questionário sobre arvoredo, gado, água, solo e rentabilidade resultará na caracterização da exploração, e permitirá direcionar o agricultor para as medidas de adaptação prioritárias a implementar.

 

“A plataforma disponibiliza ainda um conjunto de recursos para apoio, com conteúdos sobre a diversificação de produtos, uma lista de espécies dos montados, adequadas para cada tipo de clima e de solo, bem como os diversos aproveitamentos económicos e os serviços de ecossistemas promovidos por cada espécie, apoio ao marketing dos produtos do montado, os diversos apoios financeiros disponíveis e ainda informação sobre os sistemas de certificação da gestão florestal”, explica Maria Bastidas.

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